Os dados apresentados nesta postagem, obtidos no Portal da
Transparência, (clique aqui para acessá-lo sem qualquer
distorção gráfica de apresentação e sem risco de erros de transcrição)
expressam, entre outros dados, os recursos repassados aos municípios pelo
Governo Federal para atender ao Programa Bolsa-Família, política social de
transferência de renda e de desenvolvimento humano, social e econômico, muito
politizada e polemizada no Brasil.
Ressalta-se que os Portais da Transparência, via de regra,
deixam a desejar em
alguns pontos, seja pela falta, seja pelo excesso de informações irrelevantes e oportunas. Exemplificando o primeiro caso, não encontrei de forma prática e objetiva, o número de pessoas beneficiadas, o número de habitantes dos municípios durante os anos analisados, tampouco a evolução ao longo de determinado período histórico de diversos dados por município, que seriam cruciais para uma análise significativa.
alguns pontos, seja pela falta, seja pelo excesso de informações irrelevantes e oportunas. Exemplificando o primeiro caso, não encontrei de forma prática e objetiva, o número de pessoas beneficiadas, o número de habitantes dos municípios durante os anos analisados, tampouco a evolução ao longo de determinado período histórico de diversos dados por município, que seriam cruciais para uma análise significativa.
Por outro, o excesso de informação também pode configurar uma
desvantagem. Para obter determinado dado, é necessário aplicar uma série de
filtros (por datas, regiões, cidade, programa, etc.), e repetir todo o processo
quando se busca analisar qualquer uma das demais variáveis, como o ano de
análise por exemplo. Em outras vezes, os portais travam, são lentos ou não têm
dados disponíveis referentes a períodos um pouco mais pretéritos.
Prioriza-se, muitas vezes, a quantidade de dados, expostos de
forma técnica, e se esquece de que as informações (por imposição da própria Lei
de Acesso à Informação) precisam ser de fácil obtenção e compreensíveis a
qualquer cidadão interessado, o que dificulta o real objetivo e os custos de
todo o processo de transparência pública.
Para contornar tal problemática e dar maior robustez às
análises, foram agregados dados de outras fontes, como o IBGE, IPARDES e o PNUD, embora oriundas
de diferentes metodologias. Foi necessário ainda recorrer às estimativas, pois o
Portal da Transparência apresenta a opção de acessar a relação de beneficiários
por mês, exigindo a contagem um a um durante todos os meses que se busca
analisar, o que desmotiva e inviabiliza a análise de qualquer cidadão
interessado em conhecer a realidade deste programa, o que também é dificultado
pelo fato do número de beneficiários poder variar mensalmente conforme os
critérios de enquadramento do programa.
A estimativa também é a alternativa possível, tendo em vista
que as análises levam em conta a população estimada em 2017, a qual também
variou ao longo dos anos analisados por diversos fatores, inclusive pela
migração decorrente da busca de emprego, pelo êxodo da população rural
(decorrente de outros N fatores), etc. Além disso, além de congregar outras fontes aos dados retirados do Portal da transparência, o presente texto buscou explicitá-los de maneira diferenciada, priorizando imagens e gráficos, "brincando" com os dados, de modo a demonstrar o que é relevante para elucidar a temática escolhida de modo claro e que permita ao leitor tirar suas conclusões, independentemente de concordar ou não com os comentários escritos.
Assim foi possível, por exemplo, demonstrar o número estimado
de beneficiários por município, permitindo relacionar tais dados com o número
total de habitantes, buscando compreender a relação destas variáveis com o
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - IDH-M, facilitando uma visão
integrada e permitindo, pelo menos parcialmente (já que a realidade é muito
mais complexa e sujeita a n influências), compreender os reflexos destas
políticas públicas não só para seus beneficiários, mas para a coletividade, sob
diversas dimensões (social, econômica, cultural, etc.)
Dados, porém, nada dizem. É importante transformá-los em
informação, analisá-los e interpretá-los. Nada impede que sejam ainda
complementados, refutados, pois a mesma informação pode ser vista de
perspectivas distintas. Sendo assim, nesta postagem, serão apresentados os
dados considerados relevantes e expostos visualmente de maneira que mais atende
aos objetivos, ficando as análises e conclusões por conta do leitor.
É preciso destacar que mesmo retirando as opiniões e os
argumentos daqueles que concordam ou discordam das políticas de
transferência de renda, os custos, os impactos e os benefícios tanto na vida
das famílias quanto na esfera social são de difícil mensuração. Não se pode, na
prática, isolar as incontáveis variáveis que interferem na qualidade de vida,
no desenvolvimento social e econômico, no incremento ou na retração do número
de beneficiários, afirmando que são exclusivamente resultados ou não do
programa. Afinal, o Bolsa-Família é apenas mais uma das variáveis que
influenciam a dinâmica da sociedade.
A própria renda gerada pelo programa social, ao facilitar o
acesso dos vinculados a outros benefícios, como creche e escola, ao
facilitar a qualificação, ao permitir o acesso a bens de consumo, pode gerar
impactos de forma associada com outras dimensões e afetar outras parcelas da
sociedade. Até mesmo o comércio, os serviços
podem ser beneficiados.
Mudanças nos critérios que determinam o perfil dos
beneficiários, maior fiscalização, mudanças culturais, podem afetar no número
de pessoas que recebem, sem contudo, ser resultado de ascensão socioeconômica
destas famílias.
Entre estes dados, apresenta-se a seguir, de forma isolada, em dois gráficos, o número de habitantes estimados em 2017 pelo IBGE para alguns dos municípios da região tomados como exemplo nas análises. Também se explicita o percentual estimado de beneficiários do PBF - Programa Bolsa-Família, nestes mesmos municípios, em relação à população total. Optou por expor os dados, sempre que possível, de forma gráfica, visando tornar as análises mais intuitivas e facilitadas para o leitor.
Assim, saber o número de beneficiários por exemplo, não basta. Compará-lo com o número total de habitantes pode nos mostrar o quanto determinado município tem famílias dependentes. E isso deriva da necessidade de emprego, da qualificação, do perfil econômico (tem indústrias, há maior oferta de serviços, é um município agrícola...).
Nos dados expostos graficamente acima, percebe-se que o município com maior população é Irati, no entanto, em conjunto, podemos concluir que ele não apresenta o maior percentual de beneficiários em relação à população total. Porém, em números absolutos, tem praticamente o triplo dos demais municípios. Fernandes Pinheiro, por exemplo, deve ser analisado levando-se em conta que o município é jovem, emancipado em 1995.
Nos dados expostos graficamente acima, percebe-se que o município com maior população é Irati, no entanto, em conjunto, podemos concluir que ele não apresenta o maior percentual de beneficiários em relação à população total. Porém, em números absolutos, tem praticamente o triplo dos demais municípios. Fernandes Pinheiro, por exemplo, deve ser analisado levando-se em conta que o município é jovem, emancipado em 1995.
Enfim, é o entrelaçamento de variáveis que pode apontar as fraquezas e potencialidades de cada município e muni-lo de informações para traçar objetivos que reduzam tal dependência e melhorem a aplicação do programa. Isso sem levar em conta ainda o fator individual, afinal, cada família tem sua autonomia, seu modo de vida. Mesmo se enquadrando nos critérios, ela pode optar por não receber o benefício. Por outro lado, não se pode culpar o programa por desvios na fiscalização ou pela cultura brasileira que estimula as pessoas a levar vantagens indevidas em suas ações.
UMA
DESCRIÇÃO MAIS DETALHADA DOS DADOS
É possível perceber, por exemplo, que o valor dos recursos
repassados aumentaram. Entretanto, não se pode desconsiderar que tal montante
sofre, como qualquer valor monetário, os efeitos da inflação. Assim, seria
interessante verificar caso a caso qual seria, por exemplo, o aumento real e
não simplesmente o aumento efetivo dos recursos
repassados. O salário mínimo em 2014, por exemplo, era R$ 724,00. Em
2018 é de R$ 954,00.
Tendo estas questões em mente, pode-se analisar a tabela abaixo,
a qual apresenta o valor total de recursos repassados de janeiro de 2014 a
dezembro de 2017 aos municípios da região.
Os dados são objetivos e dispensam comentários,
porém, chama a atenção o fato de que municípios com menor população receberam
uma parcela maior de recursos do que certos municípios mais populosos. Este é
fato. O relevante, porém, é analisar porque isto ocorre. Tal informação tem
significativa correlação com o percentual de beneficiários.
Destaca-se que o Portal traz apenas o percentual de
beneficiários, o que analisado em conjunto com a população estimada, conforme dados
obtidos junto ao site do IBGE para suprir esta lacuna informacional, nos dá o
número aproximado de beneficiários por município. Considerando o valor total
repassado no período em análise, podemos dividi-lo pelos respectivos meses e na
sequência pelo número obtido de beneficiários e tem-se o valor médio mensal
recebido por beneficiário, de forma estimada. Um valor que não passa, em média,
de R$ 120,00, ou seja, em torno de apenas 13% do salário mínimo atual.
A dúvida é: tal valor, individualmente tomado, é suficiente
para dar autonomia e proporcionar a ascensão socioeconômica de um indivíduo ?
Este valor é suficiente para garantir a subsistência digna de uma pessoa ?
Alguns argumentam que tais políticas "de dar o
peixe" desestimula o indivíduo a pescar. Uma análise, mesmo superficial
dos dados conjuntos, é suficiente para demonstrar que tal raciocínio é, no
mínimo, equivocado.
O fato é que por mais baixo que seja o salário mínimo no
Brasil, o benefício, em média, fica na casa de 13% deste valor, renda baixíssima
até mesmo para a simples subsistência. Qualquer pessoa que tenha a oportunidade
de obter um emprego digno, não o trocaria por este benefício, de cunho
complementar. Benefício necessário, inclusive, para que as famílias possam
manter seus filhos estudando, possam se manter aptas ao trabalhado, tendo a
possibilidade de investir em qualificação, por exemplo, e conquistar, aos
poucos, sua autonomia.
Outro ponto recorrente nas críticas ao programa se refere ao
fato dele desestimular a busca por emprego. No entanto, tais pressupostos
partem de opiniões, via de regra, sem a análise objetiva dos dados. Ou seja,
reflete muito mais a ideologia contrária e os valores individuais do que os
fatos.
Os dados seguintes demonstram claramente que em épocas de
maior oferta de emprego e renda, o número de beneficiários retrai-se. Se há
aumento do número de pessoas enquadradas no programa, é porque a economia ou
outras políticas públicas não estão sendo suficientes. É por que há maior
necessidade. Embora, olhar para o crescimento econômico de forma global não
baste, pois mesmo em época de crescimento, pode haver ampliação das
desigualdades sociais, sejam elas em termos de país, sejam em termos regionais.
De qualquer forma, o mapa abaixo traz um panorama do
percentual da população que é beneficiária do PBF - Programa Bolsa-Família por
Unidade da Federação.
No primeiro quadro do mapa, os dados se referem ao ano de
2014. Nele, percebemos que as regiões Norte e Nordeste (verde escuro) têm uma
proporção maior de famílias que recebem o benefício do que os estados das
demais regiões. Na Região Sul, Santa Catarina (amarelo mais claro) tem a menor
proporção de beneficiários em relação ao número de habitantes.
No segundo quadro do mapa, percebemos que em 2016, a legenda de coloração verde-escura, que indica maior
percentual de beneficiários em relação à população total, teve uma redução
significativa. Ou seja, a proporção de famílias nas regiões Nordeste e Norte
que dependiam do PBF sofreu uma retração. Até mesmo na região Centro-Oeste, que
em 2014 estava legendada com a cor verde-clara no ano de 2014, em 2016 recebeu
o tom amarelo, indicando menos beneficiários.
Em 2016 (segundo quadro), na região Sul, também
ocorreram melhorias na proporção de beneficiários, ficando totalmente em
tom amarelo claro (proporção alcançada apenas por Santa Catarina em 2014),
indicando uma redução no número de dependentes do Programa. Obviamente, isto é
uma análise objetiva dos dados. Resta analisar e interpretar que fatores
contribuíram, neste período, com base no contexto político e econômico, para
este desenvolvimento. O que percebe-se é que, havendo crescimento econômico,
com equivalente geração de emprego e renda para as camadas mais pobres (ou
seja, com redução das desigualdades), as pessoas substituem o benefício do
programa pela renda do trabalho.
Enfatizando, havendo emprego e redução da desigualdade, menos
investimento em benefícios sociais é necessário. Isto parece óbvio, porém, os
críticos ao programa fazem um raciocínio inverso. Esquecem o contexto
socioeconômico e querem que o simples fato de receber o benefício seja condição
para deixar de recebê-lo.
Em 2017, porém, salvo exceções como Tocantins e Goiás, temos
praticamente um retrocesso à situação de 2014. Uma análise superficial já nos
permite inferir que se trata dos reflexos da crise econômica e do consequente
desemprego. Os efeitos do desemprego são óbvios tanto no desenvolvimento
econômico, no comércio, como também nas questões sociais. Reflete inclusive na
evasão escolar, no trabalho infantil, até mesmo na saúde, e quanto a isso, não
há dúvidas.
A análise da evolução dos mapas abaixo (2014, 2016 e 2017)
demonstra que com a maior oferta de emprego, o número de beneficiários tende a diminuir,
corroendo argumentos pejorativos que apontam que o Bolsa-família desestimula a
busca por emprego e ocupação. Sem pesar ainda o fato de que neste período, as
relações de trabalho passaram por um processo de flexibilização (ou
precarização) e dada a maior oferta de mão de obra (qualificada em instituições
públicas, em regra) induzem ao pagamento de menores salários. Afinal, tem-se
uma ideologia que empregar é fazer favor.
Da mesma forma que o mapa anterior, o mapa a seguir traz o percentual de beneficiários em relação a população total para os anos de 2014 e 2017, entretanto, em uma análise mais focada, analisando apenas o Estado do Paraná.
Da mesma forma que o mapa anterior, o mapa a seguir traz o percentual de beneficiários em relação a população total para os anos de 2014 e 2017, entretanto, em uma análise mais focada, analisando apenas o Estado do Paraná.
A fim de facilitar a análise e de trazer dados de interesse
ao leitor, foi acrescentada uma legenda com o percentual de beneficiários em
relação à população total de alguns dos municípios de nossa região
tomados como exemplo.
O mapa acima dispensa comentários, o que há a ser destacado,
porém, é que os municípios da nossa região (centro-sul e sudeste, conforme critérios
do IPARDES) se localizam exatamente na região do mapa de coloração mais escura,
que indica maior dependência em relação ao PBF.
Destaca-se que o IPARDES apresenta um mapa da densidade das famílias pobres no Paraná, com base em dados do ano 2000. Observa-se que o maior percentual de beneficiários do Bolsa-Família em relação à população total (expresso no mapa anterior principalmente nos tons de verde) coincide com a cor marrom no mapa abaixo que ilustra os municípios mais pobres. Evidencia-se que Bolsa-família receber o benefício não é indicativo de sair da condição de dependência, mas é um termômetro que indica justamente a necessidade de mais políticas públicas voltadas para o desenvolvimento socioeconômico como um todo, inclusive, políticas pautadas na redução da desigualdade social, desfacelando discursos que atribuem ao próprio indivíduo isoladamente a culpa pela pobreza.
Destaca-se que o IPARDES apresenta um mapa da densidade das famílias pobres no Paraná, com base em dados do ano 2000. Observa-se que o maior percentual de beneficiários do Bolsa-Família em relação à população total (expresso no mapa anterior principalmente nos tons de verde) coincide com a cor marrom no mapa abaixo que ilustra os municípios mais pobres. Evidencia-se que Bolsa-família receber o benefício não é indicativo de sair da condição de dependência, mas é um termômetro que indica justamente a necessidade de mais políticas públicas voltadas para o desenvolvimento socioeconômico como um todo, inclusive, políticas pautadas na redução da desigualdade social, desfacelando discursos que atribuem ao próprio indivíduo isoladamente a culpa pela pobreza.
Já a imagem seguinte destaca melhor, com base nos dados do
mapa acima, ajustados conforme as estimativas populacionais do IBGE, o
percentual de dependentes do PBF em relação a população dos municípios da
região tomados como exemplo. Em azul, temos a população total projetada para o
ano de 2017, e em vermelho, o número de beneficiários calculado conforme os
percentuais definidos no Portal da Transparência.
Tomando o total de recursos repassados aos municípios que estão servindo de exemplo com sendo a base (100%), podemos constatar algumas especificidades. Do total da população dos 7 municípios tomados como referência, Irati acolhe 45% dos habitantes. No entanto, este município recebe em torno de 20% do valor total repassado aos mesmos 7 municípios. Rebouças, por sua vez, embora abrigue 11% dos habitantes deste conjunto de municípios, recebe 25% da receita. Rio Azul, que também abriga 11% da população, recebe uma fatia de 9% dos repasses proporcionalmente. Em outras palavras, Irati tem quase 4 vezes mais habitantes que Rebouças, porém, recebe quase o mesmo montante de recursos do PBF que este. Rebouças tem praticamente a mesma população que Rio Azul e recebeu nos anos analisados praticamente o triplo.
Outra possibilidade de "brincar" com os dados, é somar os beneficiários de todos os municípios tomados como exemplo e tratá-los como sendo a base (100%) e considerar o total de beneficiários de cada município, tomado de forma isolada, como fator de comparação. Conforme o gráfico abaixo destaca, Irati, neste caso, abrigaria 30% do total de beneficiários dos municípios analisados, Rebouças, na sequência, abrigaria 20%. Porém, é preciso destacar que Rebouças tem em torno de 1/4 da população de Irati.
Embora os dados estejam na tabela apresentada no início, torna-se também interessante fazer um esquema visual para dar uma noção comparativa do número de habitantes de alguns dos municípios da região em relação à receita repassada pelo PBF de 2014 a 2017. Como os valores de referência (população e receita em R$) são bastante discrepantes, para facilitar a visualização, os números foram transformados em percentuais.
Embora os dados estejam na tabela apresentada no início, torna-se também interessante fazer um esquema visual para dar uma noção comparativa do número de habitantes de alguns dos municípios da região em relação à receita repassada pelo PBF de 2014 a 2017. Como os valores de referência (população e receita em R$) são bastante discrepantes, para facilitar a visualização, os números foram transformados em percentuais.
Tomando o total de recursos repassados aos municípios que estão servindo de exemplo com sendo a base (100%), podemos constatar algumas especificidades. Do total da população dos 7 municípios tomados como referência, Irati acolhe 45% dos habitantes. No entanto, este município recebe em torno de 20% do valor total repassado aos mesmos 7 municípios. Rebouças, por sua vez, embora abrigue 11% dos habitantes deste conjunto de municípios, recebe 25% da receita. Rio Azul, que também abriga 11% da população, recebe uma fatia de 9% dos repasses proporcionalmente. Em outras palavras, Irati tem quase 4 vezes mais habitantes que Rebouças, porém, recebe quase o mesmo montante de recursos do PBF que este. Rebouças tem praticamente a mesma população que Rio Azul e recebeu nos anos analisados praticamente o triplo.
Ou seja, tem municípios com população menor, mas que recebem
uma parcela maior de recursos. Resta analisar as razões: falta de emprego no
município, maior desigualdade social, maior rigor e fiscalização na concessão
do benefício, perfil econômico da cidade (mais industrial, mais agrícola, etc),
enfim, são N variáveis que podem influenciar no fato de um município ser mais
dependente que outro. Muitas vezes, aspectos técnicos e burocráticos
estabelecidos pelo próprio Programa Social explicam as diferenças, portanto, não
cabe especular, apenas evidenciar os dados.
Poderíamos ainda relacionar todos os fatores levantados, mais
uma infinidade de outros, com a evolução do IDH de cada município e ver se a
correspondente redução ou incremento de beneficiários equivale a uma proporcional
variação no Índice de Desenvolvimento Humano. Entretanto, pelas diferenças de
metodologia dos indicadores, pela falta de dados (algumas projeções são
decenais) e pela dificuldade de obtê-los, comparar a evolução anual do IDH-M
torna-se impossível.
Apesar disto, com relação ao IDH, é preciso destacar que ele
é calculado com base em dados econômicos e sociais. O IDH vai de 0 (nenhum
desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais próximo
de 1, mais desenvolvido é o país, região ou município.
No cálculo do IDH são computados os seguintes fatores:
educação (anos médios de estudos), longevidade (expectativa de vida da
população) e Produto Interno Bruto per capita. Lembrando que o IDH, como
outros indicadores estatísticos, tem suas distorções, o que torna necessário
analisar o contexto no qual ele se aplica, bem como acompanhar suas mudanças
metodológicas.
Enfim, são N fatores que precisam ser correlacionados (e
testados estatisticamente para ver o grau de correlação existente), além de
outros fatores difíceis de mensurar objetivamente, inclusive a especulação e as
expectativas dos investidores em épocas eleitores exercem sua influência.
A tabela a seguir nos traz o IDH de alguns dos municípios da
região em 3 períodos (1991, 2000 e 2010), a maioria deles, tomada como exemplo
na análise dos dados anteriores.
Na sequência, a fim de ilustrar melhor, o gráfico e a tabela
seguintes trazem tambpem o IDH-M de alguns estados referentes ao ano de 2000 e os
compara com o percentual de beneficiários do PBF relativos ao ano de 2017.
A partir destes dados, é possível, apenas para fins de
ilustração, correlacionar o IDH-M com o percentual de beneficiários do PBF em
relação à população total do município ou estado.
Sobre isso, torna-se necessário esclarecer que algumas matérias
sugerem que em média, no Brasil, em torno de 22% da população é beneficiária do
programa. Estes dados médios desconsideram as diferenças regionais, as quais
são significativas. Mas o maior agravante, é que tais não são obtidos através
da contagem do número de beneficiários cadastrados, e sim, do número de
beneficiários tomando-se por parâmetro o número médio de componentes das
famílias, o qual, segundo o IBGE, gira em torno de 3 a 4 pessoas. Ou seja, dizer
que o número de beneficiários do Bolsa-Família é de 22% da população é o mesmo
que multiplicar, no mínimo por 3, o número real de beneficiários.
Tomando estes dados expostos na tabela acima e convertendo-os para um formato gráfico, verifica-se que no que se refere aos
estados, quanto maior o IDH, menor o percentual de beneficiários no PBF. Como o
IDH é calculado levando-se em conta a educação, a longevidade e a renda,
podemos concluir que em regiões onde a população tem maior acesso à educação e
ao emprego, e consequentemente acesso a maior renda, menos se faz necessário
políticas assistencialistas. Soma-se a esse contexto o fato de que uma população
com acesso à educação e ao emprego, consegue obter uma longevidade maior, tendo
maior acesso ao saneamento, a uma boa alimentação, ao lazer, e consequentemente, à saúde, tanto de maneira preventiva quanto corretiva.
O mesmo se aplica aos municípios. Quanto maior o desenvolvimento social e econômico, menor a dependência do Programa. Desenvolvimento este que perpassa por uma série de fatores, alguns políticos, outros não. O que é fato é que o PBF reflete o desenvolvimento. Assim, antes de ser criticado o número de beneficiários, é preciso analisar e criticar o porquê de tantas pessoas, ao invés de ter acesso ao trabalho e renda, ficam em tal dependência.
O mesmo se aplica aos municípios. Quanto maior o desenvolvimento social e econômico, menor a dependência do Programa. Desenvolvimento este que perpassa por uma série de fatores, alguns políticos, outros não. O que é fato é que o PBF reflete o desenvolvimento. Assim, antes de ser criticado o número de beneficiários, é preciso analisar e criticar o porquê de tantas pessoas, ao invés de ter acesso ao trabalho e renda, ficam em tal dependência.
Questões econômicas, questões políticas, crises, podem ser
alguns dos fatores que geram desemprego, baixa oferta de emprego, êxodo rural
(a pessoa deixa o campo e vem disputar empregos precários na cidade), pouca
opção de empreendedorismo, falta de qualificação e de oferta de incentivos para
tal. Conveniência de ter uma parcela da população dependente do Estado também
não pode ser descartada. Enfim, cada região, cada cidade, pode ter seus fatores
próprios, os quais atuam e afetam a sociedade em conjunto com uma série de
outras questões inter-relacionadas.
Assim, o que temos são dados que servem de subsídio para uma
análise melhor fundamentada, descartando, ao menos, o argumento incorreto de
que a dependência é falta de vontade dos beneficiários de buscar fontes de
emprego e renda, ou seja, a ampliação do número de beneficiários é acima de tudo um alerta para a necessidade de políticas públicas que alcem o indivíduo à condição de autonomia e desenvolvimento. Outro ponto importante, é que os dados demonstram que a condição de hipossuficiência não é culpa ou má vontade do indivíduo, como aduzem algumas retóricas que enaltecem a falsa meritocracia. Falsa, porque a partir do momento que não se tem condições iguais, não se pode exigir resultados semelhantes.
Enfim, fica evidente que a dependência é uma questão muito mais geográfica, territorial, estrutural, política, histórica, enfim, relacionada ao contexto da região ou cidade do que propriamente do indivíduo. As demais conclusões ficam a cargo do (e)leitor.
Enfim, fica evidente que a dependência é uma questão muito mais geográfica, territorial, estrutural, política, histórica, enfim, relacionada ao contexto da região ou cidade do que propriamente do indivíduo. As demais conclusões ficam a cargo do (e)leitor.
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