Nos debates cotidianos sobre gestão pública, é comum ouvir afirmações como “posso reclamar porque pago imposto” ou “sou patrão do servidor público”. Este tipo de discurso, embora muitas vezes impulsionado por uma legítima frustração, é em sua essência uma simplificação grosseira da realidade tributária, social, econômica, legal e do funcionamento do Estado.
Demonstra que apenas deixamos nos levar por "discursos de bodega", sem fundamentos, sem compreensão mais profunda da realidade, sem empatia ou abertura para entender o contexto sobre outras perspectivas. Ou, às vezes, e o que é pior, não se trata de ignorância ou ingenuidade, atributos que todos nós temos em certas áreas diante da impossibilidade material de entender de tudo, mas de intencionalidade. Às vezes há intenção neste discurso invertido, vontade de manipular, polemizar, de se beneficiar, especialmente para fins politiqueiros. E alguns caem neste conto do vigário.
Este discurso revela uma visão que transforma a cidadania em um conceito de mercado, limitado à lógica do consumidor.
É fato que todos os cidadãos contribuem, direta ou indiretamente, com tributos. A carga tributária no Brasil é amplamente distribuída, recaindo, inclusive de forma desproporcional, sobre os mais pobres (e pasmem, alguns são contra taxar a ínfima parcela populacional dos bilionários). No entanto, a média salarial do brasileiro é baixa: segundo o IBGE (dados de 2024), o rendimento médio mensal do trabalhador gira em torno de R$ 3 mil. Se considerarmos o levantamento do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), que estima que cerca de 30% da renda