Não há o que se discutir ou discorrer. O fato é que a vida
mudou vertiginosamente nos últimos anos, e cada vez mais, as mudanças são
intensas e rápidas. Em outras palavras, ocorrem de forma exponencial.
E
uma das raízes de tudo isso é a tecnologia. Ela altera as relações sociais, os
hábitos de vida, a saúde (e a medicina), os hábitos de consumo, reduz preços ao
ampliar a produtividade (e a exploração e o controle do trabalhador), e como
não poderia ser diferente, impacta nas relações humanas e trabalhistas.
As relações empregatícias conhecidas por nós, nascidos nos
anos de 1980 ou talvez até 1990, não subsistem mais. E estas mudanças e esta “flexibilização”
(precarização ou uberização) tendem a
se aprofundar. Empregos e profissões deixarão de existir, embora outras
atividades surgirão; porém, a forma de realizá-las será diferente.
O
saber operacional e até mesmo o saber técnico vêm perdendo campo enquanto as
habilidades humanas, chamadas de softskills,
vêm ampliando ou retomando sua importância. Não se pode pensar, porém, que esta
mudança de paradigma tem como plano de fundo a maior valorização do ser humano,
ou um mero efeito da aplicação do conhecimento tecnológico, mas visa, ainda, a
ampliação da reprodução do capital e de suas relações que permeiam todos os
campos sociais.
Se
por um lado, o “pôr a mão na massa” vem sendo substituído por máquinas, robôs,
sistemas de inteligência artificial, algumas habilidades e competências retomam
seu destaque. Liderança, comunicação, resolutividade, criatividade, iniciativa,
inteligência emocional e aprendizado constante são cada vez mais necessárias.
Diversos
livros, artigos em revistas, vídeos na internet trazem algumas destas
habilidades indispensáveis não só para se manter apto ao mercado de trabalho,
mas para a vida. São recorrentes os seguintes itens:
![]() |
https://blogdaqualidade.com.br/iso -9001-2015-7-4-comunicacao/ |
Comunicação e relacionamento:
em um ambiente de constantes mudanças, inclusive com a rotatividade de pessoas
com as mais diversas formações, idades, culturas, em projetos específicos e
diversos, será necessária uma
comunicação assertiva e eficiente. Dela derivará relacionamentos mais saudáveis
e produtivos. A própria flexibilização das relações de trabalho forçará maior
poder de negociação por parte do empregado, colaborador, parceiro ou qualquer
outra denominação que tente representar as relações existentes. Comunicação
cada vez mais fundamental para agregar pessoas e possibilitar o trabalho em
equipe.

Mesmo
obtendo resultados, as equipes tendem a ter caráter cada vez mais transitório,
formadas para desempenhar projetos específicos e se desintegrar. Isso exige uma
liderança eficiente, habilidosa, com competências humanas sólidas.
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https://educacional.cpb.com.br/ conteudos/universo-educacao/ lideranca-servidora/ |
Liderança:
será vital que todo gestor saiba distinguir a diferença entre ser chefe (figura
obsoleta e pouco agregadora) e ser líder, figura esta que não apenas ajuda a
equipe a encontrar a direção, mas une esforços em prol dos objetivos e do
crescimento de todos, tendo visão sinérgica da organização e entendendo que
suas atitudes implicarão em crescimento e valorização que extrapolará as
relações trabalhistas e imediatas, abrindo horizontes para novas
possibilidades.
O
líder, mais do que nunca, deve ser a bússola norteadora dos objetivos. Deve ser
o alicerce que apoia e estabiliza a equipe, que a motiva, que a valoriza (como
pessoas e não como meros recursos produtivos), e que se vê como parte
integrante do grupo.
Ao
líder, não basta delegar tarefas e esperar colher os resultados, muito menos
dar ordens conforme seu objetivo particular. Exige-se dele empatia.

As
informações tornam-se obsoletas rapidamente. Os dados mudam antes mesmo de
podermos analisá-los. E computadores fazem este papel com infinita vantagem.
Assim, é preciso buscar conhecimento, sabedoria, que é algo mais perene e sólido.
Não
basta concluir uma faculdade, uma especialização. É preciso se recriar
constantemente, ser autodidata em diversos campos, relacionar conhecimentos e
saberes e analisar as informações e desinformações de forma crítica.
Tratando-se do mercado de trabalho, que exige pragmatismo, tornar as
informações e os saberes em experiências producentes .

Paradoxalmente,
na era da informação, vivemos a era da Pós Verdade, onde a verdade dos fatos é
menos relevante que os apelos emocionais, que as versões ou narrativas que
buscam induzir e manipular a sociedade para determinado rumo. Assim, em uma
sociedade marcada pelas fakenews, pelo uso de conhecimentos psicológicos e
científicos avançados para manipular as pessoas (eleitores, consumidores,
trabalhadores, etc.), ter senso crítico é questão de sobrevivência.
Inteligência emocional: Para
enfrentar todo este contexto turbulento, cheio de pressões, expectativas,
desafios, é preciso desenvolver habilidades humanas. É preciso controle
emocional, ou como diriam os antigos, a sabedoria da idade, porém necessária cada
vez mais cedo e combinada com a empolgação e vitalidade da juventude.
É
preciso resiliência para superar os
percalços, alcançar metas cada vez mais desafiadoras. É preciso humildade para fazer de fracassos
aprendizado, para não se deixar levar por eventuais conquistas efêmeras. É
preciso assertividade para enfrentar
o mundo cada vez mais exigente, talvez até desumano, onde o indivíduo é mero
recurso, com relações sociais mais frias, mediadas pela tecnologia e pela
impessoalidade.
Atrelado
à inteligência emocional está o autoconhecimento
, saber o que queremos e para onde caminhamos, baseado na ética e nos princípios
morais. Conhecer nossos valores, ter consciência de nossas aspirações,
nossa individualidade, é necessário para não nos perdemos nas influências
externas que nos induzem a colocar resultados, produtividade, imagem,
expectativas sociais, enfim, valores de terceiros, como foco da vida.
Somente
assim não ficaremos à deriva ao sabor do vento no oceano chamado de mercado (em
nossa sociedade capitalista, o termo mercado é visto quase como um deus, um
imperador que precisa ser acalmado, agradado com nossos sacrifícios).
O
tal mercado exige que pratiquemos atividades físicas, para mantermos a saúde e
trabalharmos (e consumirmos) por mais tempo (vide a quase extinção da
aposentadoria). Exige que tenhamos lazer e qualidade de vida, para sermos menos
suscetíveis ao estresse e sejamos trabalhadores mais produtivos.
Impõe
que participemos da comunidade, melhorando nossa imagem social e, com isso, concomitantemente,
melhoremos a imagem da empresa através de um marketing indireto feito às custas
do trabalhador.
Precisamos
ainda saber administrar o tempo para cumprirmos tudo que a atual sociedade nos
impõe e ainda nos informamos e nos capacitarmos continuamente para
permanecermos aptos e produtivos. Administrar o tempo para termos uma boa noite
de sono para recuperarmos as energias e trabalharmos com mais afinco no dia
seguinte. Que administremos nossas finanças, nossos desejos, para que não haja
impacto negativo no desempenho profissional.
E
nisto percebemos que não temos aquilo que é mais precioso : o tempo. E que tempo
não é meramente dinheiro, mas tempo é vida. Vida cada vez mais desafiadora, que
ao mesmo tempo em que exige de nós autoconhecimento, exige empatia para
entendermos o outro. Exige paciência e compreensão para entender o estresse do
outro em meio a este contexto, ao mesmo tempo exige assertividade para nos
posicionarmos com brandura. Exige ética, respeito, moral. Exige inteligência
emocional.
Enfim,
o que parece é que as habilidades e saberes que nos tornam humanos são as
condições cada vez mais necessárias para sobrevivermos em um mundo cada vez mais desumano, mais
complexo, volátil, fluído, frio, desafiador e mediado pela tecnologia. Um mundo
socialmente construído, mas que pode ser individualmente melhorado. Sejamos
mais humanos.
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