O conceito de alienação do trabalho, conforme Marx, é talvez um dos mais importantes e mais intensamente explorado na análise das relações de produção capitalistas.
Segundo ele, o trabalho, que deveria ser um ato de identificação do ser humano, de transformação da natureza segundo a intenção e a pessoalidade de cada indivíduo, por natureza criador, torna-se alienante dentro do sistema capitalista.
O trabalhador, ao ser reduzido a um mero
apêndice da máquina, como citam ipsis literis desde livros didáticos a artigos, se vê cada vez mais distante daquilo que poderia ser uma atividade prazerosa e de autorrealização, sendo, em vez disso, uma tarefa que visa exclusivamente à produção de riqueza para o capitalista. Sim, é do trabalho que advém a geração de riqueza, e é a parcela não remunerada ou distribuída ao trabalhador que produz este valor, que surge o lucro. Sim, é a velha teoria marxista do mais-valia, tão criticada, mas até então não refutada e plenamente válida para explicar a exploração do trabalhador.Esse processo alienante se intensifica quando o trabalho é quantificado, tornando-se um simples número a ser cumprido dentro de metas e indicadores de produtividade. E muitas vezes sem se importar com as condições materiais, humanas, contextuais...
No contexto administrativo, por exemplo, essa alienação muitas vezes se reflete na rotina dos trabalhadores, cujas ações são meticulosamente controladas e medidas. A mesa de trabalho, o principal local de realização dessa atividade, adquire uma importância simbólica: ela se torna o refúgio onde o trabalhador passa horas a fio, cercado por papéis, computadores e outros instrumentos que contribuem para a solidificação de sua condição alienada.
Entretanto, o trabalhador, muitas vezes, não se dá conta desse processo. Como uma estratégia de adaptação, ele começa a "camuflar" esse ambiente de trabalho, buscando humanizá-lo através de objetos pessoais, fotos ou outros itens que tragam uma sensação de familiaridade e afeto. A mesa de trabalho, assim, se transforma não apenas em um móvel funcional, mas em um território simbólico, no qual o trabalhador tenta exercer alguma forma de controle sobre o seu espaço, tentando resgatar, ainda que de forma superficial, a sua individualidade. No trabalho não estamos por inteiro. A organização não quer o meu Eu completo, mas somente a parte produtiva enquanto eu conseguir ser produtivo.
Mas até isso vem sendo retirado. A implementação de estações de trabalho modernas, em nome da eficiência e da produtividade, tende a acentuar ainda este abismo da falta de sentido e identificação com as tarefas.
No final, a questão da alienação no trabalho não se resume apenas ao excesso de horas ou à rotina desgastante. Ela se configura, também, na falta de tempo para a reflexão sobre a própria condição do trabalhador, que, envolvido em suas atividades, muitas vezes não percebe que está sendo moldado, ou até mesmo esmagado, pelo sistema que o explora.
Assim, para que o trabalhador consiga redescobrir sua humanidade no trabalho, é necessário que se promovam condições que permitam o seu florescimento, sua criatividade e, principalmente, a sua autonomia.
A reflexão sobre o trabalho alienado, portanto, não deve se limitar a um olhar sobre as condições materiais da produção, mas deve também questionar as relações de poder e exploração que regem essas condições.
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