A crescente exigência pela qualificação profissional

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O governo sempre divulga os números da contratação de pessoas, nunca de demissões. Há uma sobre de pessoas qualificadas em busca de uma oportunidade, enquanto um número ainda maior se prepara para entrar na disputa. Quem lucra com todo esse contexto ?

       
São divulgados pelo governo, em um grande esforço publicitário, os astronômicos números de empregos gerados em determinado período. Por outro lado, poucas fontes informam as estatísticas sobre o número de demissões que ocorreram no mesmo período, as quais podem tornar irrisórios os números de contratações. Também é comum nos depararmos com a informação de que sobram vagas em determinados campos de trabalho, que a oferta de empregos cresceu. Porém, deve-se ter em mente que é necessário que o trabalhador esteja capacitado para concorrer a essas vagas (concorrer e não assumir).


        Nesse discurso, atribui-se a responsabilidade sobre a condição de empregabilidade ao próprio trabalhador, o qual deve ter um complexo conjunto de competências e ainda bancar, não só com recursos financeiros, mas com seu tempo cada vez mais escasso, uma seqüência infindável de aprimoramentos. A justificativa apontada para isso é o fato de estarmos na era do conhecimento. Hoje, folhando revistas ou livros relacionados à área empresarial, encontramos a explicação de que o conceito de que o trabalhador como mão-de-obra está obsoleto; hoje se fala em colaboradores, em parceiros, em capital intelectual, em trabalhadores do conhecimento...

       E para elevar a importância desse colaborador nas empresas, acrescenta-se que a informação e o conhecimento são os principais recursos das empresas, superando, inclusive, na visão de muitos autores, o próprio capital. Assim, os empregadores exigem desse trabalhador ou desse capital intelectual empregado, o retorno do investimento. Espera-se produtividade, se estabelece metas arrojadas com a justificativa inclusive de ser um fator motivacional, as quais devem ser cumpridas com a máxima agilidade e qualidade.

       A necessidade de produzir com menor custo é imperativa para que as empresas enfrentem o competitivo mercado no qual todas operam e cabe ao trabalhador proporcionar o sucesso dessa empresa através de sua dedicação e de seu desempenho em suas diversas atribuições. Entre outras exigências, surge a necessidade de se fazer longas jornadas de trabalho, em alguns casos através da remuneração das horas extras, mas na maioria há a ?opção? pelo banco de horas, descontando naquelas épocas que a empresa não está produzindo com toda a capacidade, contribuindo assim para evitar demissões. Isso quando não se leva espontaneamente o trabalho para casa.

      Além das exigências profissionais, o empregado não pode deixar de lado sua qualidade de vida, cuidando de sua saúde, convivendo harmoniosamente com sua família, para que o desgaste físico e emocional não afete seu desempenho profissional. É fundamental também que o funcionário, em nome da empresa, se possível, esteja engajado em trabalhos voluntários, repassando à sociedade uma visão politicamente correta com relação à organização.

         Enfim, se no período Taylorista a excessiva especialização do funcionário era desmotivante e criticada, hoje exige-se para desempenhar as tarefas dezenas de habilidades e competências, algumas até contraditórias, como a visão crítica, a assertividade e a negociação em contraste com o conformismo com o salário, com a segurança e com o reconhecimento recebido por todo esse comprometimento.

         Falando em salário, na própria CF em seu artigo 6º consta que ele deveria ser suficiente para atender todas as necessidades básicas de uma família, inclusive lazer e educação, o que é praticamente impossível com R$ 415,00 mensais . E no que se refere à remuneração, apesar das exigências por qualificação e da substituição da mão-de-obra menos qualificada, a média regional não ultrapassa os R$ 800,00. Ainda querem o fim do 13º salário por ser oneroso demais para as empresas e uma flexibilização das leis trabalhistas, como ocorreu em outros países enfaticamente chamados de ?desenvolvidos?. A exceção é de que aqui não se pretende assegurar a proteção e os direitos mínimos como lá.

           No que se refere às qualificações, o trabalhador, por exemplo, não aprende idiomas para viajar, o que é impossível com seu salário, mas para aprender a operar os equipamentos de milhares de dólares que ele utiliza e que contrastam com seu salário. A formação hoje não é intelectual, mas profissional. Estuda-se para atender o mercado de trabalho, e toda essa qualificação custa uma parcela do próprio salário do empregado. Lembrando ainda que a formação dos trabalhadores é arcada pela própria sociedade, pois a maioria estudou ou estuda em escolas/universidades públicas.

         Essa busca frenética por qualificação forma um excedente de profissionais qualificados que ficam na reserva, contribuindo para que a lei de mercado seja aplicada às relações trabalhistas. Isso sem mencionar outras alternativas de substituição de mão-de-obra visando a redução de custos, como a contratação de estagiários, de empresas terceirizadas, da automação, etc. A grande maioria dos colaboradores (e da sociedade) devem se sentir explorados, pois como dizia Marx, só o trabalho gera riqueza. Pena que não gera para quem trabalha.

         Cabe aos interessados transformar essa realidade, ou ficar à mercê das decisões de políticos com interesses nada sociais, que ao invés de tentarem amenizar essa tendência global, ainda vão de encontro aos interesses dos que mais precisam de proteção: os trabalhadores.

Publicado no Jornal Folha de Irati, de 20 de junho de 2008.

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