Apesar de que sob o prisma da gestão democrática e nas letras da Lei, como a LDB, Plano Nacional de Educação, entre outras, se pregue, com maior ênfase recentemente, a importância de todos os profissionais para o funcionamento harmônico do sistema educacional, a figura do professor segue frequentemente sendo o foco das políticas públicas e das discussões.
Quando se fala em escola se vem à mente os profissionais docentes, as práticas e teorias pedagógicas, o que é justo e óbvio, mas o funcionamento eficiente das escolas e de todo o sistema em suas diferentes escalas (pois não estou resumindo à escala local ou questão pontual) depende de uma equipe diversificada que atue de forma integrada, e toda ela, sob a égide de leis e políticas que visem à valorização, à qualificação continuada, o aprimoramento e o reconhecimento material e simbólico-social.
Funcionários administrativos, agentes de limpeza, merendeiras, bibliotecários, responsáveis por laboratórios e multimeios, motoristas do transporte escolar, e, em especial, os secretários escolares desempenham funções cruciais que, muitas vezes, passam despercebidas. Muitas vezes, a comunidade escolar, inclusive membros internos, desconhecem a miríade de prazos e rotinas burocráticas, que inclusive dificultam uma atuação mais estratégica dos profissionais.
Resumidamente, o leque de funções é amplo, há polivalência de atribuições, mas cria-se a ideia de uma atuação restrita e secundária em importância, algo que talvez, seja típico da própria função administrativa e de apoio, e ocorra em outros setores ou áreas.
A Função dos Secretários Escolares
Segundo diversos textos, inclusive cartilhas e orientações do MEC ou da própria SEED, em outras palavras, os secretários escolares são pilares da gestão educacional.
São eles que garantem a organização administrativa da escola, lidam com documentos oficiais (elaborando, conferindo, assinando e validando), encarregam-se de todo o processo moroso, minucioso e detalhista das matrículas / cadastros (que muitos acham que ocorre somente uma vez no início de ano, mas é algo contínuo e permanente atualizado e alimentado), conforme manda a legislação, as mudanças técnicas nos sistemas, ou a necessidade concreta dos decisores), além de mediar a comunicação entre gestores, professores, alunos e responsáveis e demais órgãos relacionados.
Ao lado da gestão, sobretudo nas questões gerenciais (embora o pedagógico perneie todas as ações), portanto, uma atividade estratégica, auxiliam nas demandas financeiras, nos controles patrimoniais, na alimentação de sistemas diversos. Para resumir, são profissionais polivalentes, com um leque abrangente de atribuições que inviabilizaria citar neste texto e que varia dependendonde da realidade de cada instituição, município, estado, etc.
Segundo Libâneo (2001), a gestão escolar eficiente é fruto da articulação entre o trabalho pedagógico e o administrativo, sendo que este último, frequentemente realizado pelos secretários, é essencial para dar suporte às práticas educativas.
Apesar dessa relevância, a não valorização dos secretários escolares é uma realidade evidente em muitas redes de ensino.
Em alguns casos, as condições de trabalho não são adequadas, acúmulo e alternância constante de funções, prazos muitas vezes mal distribuídos e ausência de incentivos para formação continuada.
De acordo com estudos recentes, a sobrecarga administrativa é um dos principais fatores de desgaste emocional e físico entre esses profissionais, refletindo diretamente na eficiência do sistema escolar (Cruz, 2018).
Relembrando que o atendimento ao público, atividade também apontada pela literatura como geradora de tensão e estresse, faz parte concomitante ao serviço burocrático do rol de atribuições.
O Impacto da não valorização na Qualidade da Educação.
A não valorização dos profissionais de apoio de forma geral, resulta em prejuízos para o ambiente escolar.
Lück (2009) destaca que a gestão escolar depende de um sistema coeso, no qual todos os agentes devem ser reconhecidos por sua contribuição.
A falta de reconhecimento tende a gerar desmotivação e baixa produtividade, comprometendo o atendimento aos alunos e a qualidade das práticas pedagógicas.
Além disso, a divisão hierárquica e a diferenciação de status entre os membros da equipe escolar reproduzem desigualdades presentes na sociedade. Ou seja, a escola, apontada socialmente como locus de igualdade, de valorização, de pensamento crítico, de emancipação do indivíduo, onde o exemplo é parte da carga pedagógica, reproduz em sua estrutura as desigualdades e vieses tão criticados e prejudiciais existentes na sociedade.
Outra contradição é que a Educação sendo uma das áreas mais relevantes e importantes de atuação do Estado, uma área de grande valor social, não demonstra a mesma valorização a seus profissionais. Ora, se a Educação é tão importante quanto é apontada nos discursos, na prática seus profissionais também precisam sentir esta importância.
Dada a relevância social da Educação, os melhores profissionais deveriam fazer parte de seu corpo profissional, serem reconhecidos profissionalmente como tal, através de incentivos materiais ou financeiros e simbólicos, para então serem também reconhecidos socialmente.
Segundo Bourdieu (1998), essa dinâmica reforça uma lógica que desconsidera o valor do trabalho administrativo e manual, em detrimento do intelectual.
É o que vemos quando os profissionais de apoio, em geral, ficam relegados ao segundo plano interna e externamente. Assim, perpetua-se a invisibilidade e a desvalorização dos profissionais de apoio.
Como a Educação vai ser importante se seus profissionais não são assim vistos ?
A Importância de Políticas de Valorização
Para superar esse cenário, é necessário adotar políticas públicas que contemplem todos os trabalhadores escolares.
Isso inclui desde a melhoria das condições de trabalho, como a oferta de infraestrutura adequada, até a criação de planos de carreira que reconheçam o papel estratégico desses profissionais no processo educacional, que reconheçam sua experiência, saberes, e as especificidades e complexidades desta função. Que valorizem sua trajetória, anos de estudo e experiência.
A formação continuada também é crucial para que esses trabalhadores possam acompanhar as inovações administrativas e pedagógicas. E em se tratando de tempo de mudanças rápidas, do crescente uso da tecnologia, é vital que todos os profissionais acompanhem estas inovações sob pena de se tornarem obsoletos e improdutivos.
A implementação de gratificações e incentivos pode ser um passo inicial, mas é igualmente importante que haja uma mudança cultural que valorize a contribuição de cada profissional. A participação nas decisões e nos Conselhos Educacionais e outras instâncias colegiadas com poder de afetar suas atribuições também é outra medida fundamental.
Vale lembrar, que é prática comum nas escolas atividades fora dos horários normais de trabalho (extra jornada), e até mesmo prazos a serem cumpridos durante todo o ano (o que inclui períodos de férias). Muitas vezes, nestes casos, a contrapartida é a compensação de horas, o que não é ideal quando a equipe é reduzida ou o encargo compete a um único profissional, pois a ausência geraria gargalos, represamento de tarefas e prazos mais estreitos para cumprir as tarefas que lhes são exclusivas. Inclusive, compromete o atendimento ao público interno e ou externo.
Conclusão
Valorizar todos os profissionais da educação é um caminho indispensável para construir uma escola mais justa, inclusiva e eficiente.
Somente a partir do reconhecimento do papel de cada membro da equipe escolar será possível promover uma educação que atenda às demandas da sociedade contemporânea e contribua para o desenvolvimento
pleno dos estudantes.
Como isso, fica mais fácil buscar a Educação de qualidade, aferida em números e indicadores, mas também promover uma prática coerente com as leis que dizem valorizar todos os profissionais e com a necessidade das escolares serem exemplos sociais de valorização do ser humano, de promoção de igualdade social e do exercício da cidadania.
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https://vozesdoverbo.blogspot.com/2014/11/o-exemplo-da-funcao-gratificada-e.html
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