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Enfim materializou a crise
ambiental há tempos anunciada; a água efetivamente tornou-se um líquido
precioso pela sua importância não apenas fisiológica, mas também econômica.
Assume-se
que a ação antrópica provocou e potencializou uma série de “problemas ambientais”.
Culpa-se a população, a qual sofre as conseqüências dos impactos e geralmente arca
com o ônus desses problemas. Essa visão, porém, é um tanto quanto simplista,
pois como toda relação, causas e conseqüências se fundem, havendo de se
considerar uma série de outros fatores conjuntamente influenciadores ou
determinantes. Até mesmo o termo “problemas ambientais” tem uma concepção
ideológica, sendo mais socioeconômico do que ambiental propriamente dito.
A
questão econômica, no entanto, é apenas uma destas variáveis. Há ainda o viés
político, talvez o mais complexo fator que precisa ser considerado nessa
inter-relação. Afinal, é inevitável a utilização dos recursos naturais, e cada
vez mais se tenta a conciliação entre progresso e conservação e entre os
diversos interesses conflitantes, o que faz da ação política, elemento de conciliação,
de regulamentação, de planejamento e de conscientização.
É
através da ação política que o poder público determina, por exemplo, leis que
definem áreas apropriadas para a ocupação residencial, propícias para a
atividade agrícola e quais devem ser preservadas. Entretanto, a legislação e a
ação política também são resultados de uma relação social de poder, de interesses
e de inclinação ideológica. Por isso o social, o ambiental, o político e o
econômico não são perspectivas isoladas, mas devem ser entendidas de forma
integrada.
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Ilustrando, é
quando mesmo sabendo dos efeitos sociais e ambientais, autoriza-se a construção
de barragens pela necessidade de energia elétrica para manter as atividades
econômicas. É quando ciente das conseqüências e da quase inviabilidade de uso de
veículos em grandes centros, incentiva-se a produção e a frequente troca de
automóveis e menosprezam-se formas alternativas de transporte.
Dessa forma,
embora a relação política seja complexa, as ações políticas são o melhor meio
de conscientização social, pois expressam efetivamente a orientação do poder
público, mostram a consistência histórica dos planejamentos e a coerência entre
discurso e prática.
Mas diante do
atual contexto contraditório, seria cômico, se não fosse trágico, convivermos com
escassez de reservas de água em determinadas regiões, ao mesmo tempo em que
basta uma chuva de pouco volume em uma intensidade razoável, para ocasionar
alagamentos.
Dessa
forma, não há como esperar conscientização da sociedade se as pressões são
opostas a isso. Se a prática contradiz o discurso. Não seria previsível que a
ocupação residencial em fundos de vale, muitas vezes proporcionada pelo aterramento
dos canais naturais de escoamento, traria efeitos? A impermeabilização urbana
também é outro fator que impede a infiltração da água, que gradualmente
abasteceria lençóis freáticos, o que aliado à vegetação, evitaria enxurradas ao
mesmo tempo em que prolongaria o ciclo de abastecimento de água nos reservatórios
subterrâneos e superficiais. E não seria possível prever e determinar (para o
bem social), uma taxa mínima de área permeável nas construções urbanas ? Mas e
o custo do terreno ocioso, dirão alguns, sobrepondo o viés econômico novamente.
É tarde, dirão outros, revelando a falta de planejamento.
Hoje se fala
insistentemente na necessidade de economizar água. Incitam a população a fiscalizar
o desperdício do vizinho. E apela-se para a consciência social. Por outro lado,
ao recebermos a fatura de água, pagamos uma taxa pela utilização de 10 metros
cúbicos, independente se o uso foi menor.
Ou
seja, não vivemos um problema ambiental ou uma crise hídrica. Vivemos o
resultado de um problema político, que menosprezou o planejamento e os
resultados previsíveis da ênfase dada aos aspectos socioeconômicos em
detrimento dos aspectos socioambientais. Não vivemos o resultado da falta de
consciência social, mas vivemos a falta de exemplos materiais que estimulem o
uso racional dos recursos naturais.
Esperar
que a sociedade se transforme porque está sentindo a carência de água ou os
efeitos de outros problemas de causa “ambiental” não é conscientização. É mera
necessidade. E todos pagam, até os inocentes.
Leia nesse mesmo blog o texto referente à Tarifa Regressiva de Água, ou seja, pagar o quanto se consome de água e não uma taxa preestabelecida.
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