Contaminação com agrotóxicos: aceita um copo de resíduo tóxico ?

Matéria completa sobre este assunto foi produzida pela APUBLICA e  pode ser visualizada em: https://apublica.org/2019/04/coquetel-com-27-agrotoxicos-foi-achado-na-agua-de-1-em-cada-4-municipios-consulte-o-seu/?mc_cid=2852bffc06&mc_eid=d680b34410

Segundo a Embrapa, anualmente são usados no mundo aproximadamente 2,5 milhões de toneladas de agrotóxicos. O consumo anual de agrotóxicos no Brasil tem sido superior a 300 mil toneladas de produtos comerciais. Expresso em quantidade de ingrediente-ativo (i.a.), são consumidas anualmente cerca de 130 mil toneladas no país; representando um aumento no consumo de agrotóxicos de 700% nos últimos quarenta anos, enquanto a área agrícola aumentou 78% nesse período.


Os estados que mais se destacam quanto à utilização de agrotóxicos são São Paulo (25%), Paraná (16%), Minas Gerais (12%), Rio Grande do Sul (12%), Mato Grosso (9%), Goiás (8%) e Mato Grosso do Sul (5%).  Em relação ao volume de agrotóxicos por tonelada de cultura agrícola, soja, milho, citros e cana de açúcar se destacam. Quanto ao volume por área de produção, tomate, batata e citros são as culturas que mais usam o chamado “defensivo”.

Analisando estes dados, embora superficiais, já se tem uma noção de que o consumo de agrotóxicos é cada vez maior. E isto traz impactos, inclusive sobre o equilíbrio ecológico e sobre a saúde das pessoas das cidades de nossa região, como veremos na sequência. 

Destaca-se que tal contexto não decorre simplesmente porque
aumentaram as áreas agrícolas, pois a elevação no uso de produtos químicos é proporcionalmente muito maior que a elevação na quantidade da produção agrícola. Além disso, há estímulos por maior produtividade, por maior segurança na produção, etc. E, sem dúvida, há interesses econômicos, tendo em vista que este mercado é dominado por empresas poderosas. Sendo assim, não é de espantar que a sociedade comece a sofrer com as consequências do uso desenfreado de toda sorte de combinações químicas, especialmente quando de forma incorreta.

Segundo a Revista Exame, citando a APública– Agência de Jornalismo Investigativo, “um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Nesse período, as empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram todos os 27 pesticidas que são obrigados por lei a testar. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas ”

Ainda segundo a Exame, evidencia-se que a contaminação da água está aumentando. Em 2014, 75% dos testes detectaram substâncias nocivas. Em 2015, o índice saltou para 84%, chegando a 92% em 2017.

A imagem abaixo ilustra que o Paraná está em uma situação crítica, apresentando praticamente todos os agrotóxicos testados nas amostras coletadas, lembrando ainda, que obrigatoriamente são apenas 27 substâncias analisadas, podendo haver outros resíduos nocivos na água.

NÚMERO DE AGROTÓXICOS DETECTADOS NA ÁGUA



Em Rebouças – PR, 27 agrotóxicos foram detectados na água que abastece o município, sendo que 11 deles estão associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Em Rio Azul – PR, 26 agrotóxicos detectados, com 10 associados às doenças crônicas supracitadas. Em Irati, 24 agrotóxicos  detectados na água que abastece a cidade, sendo 9 deles associado a doenças crônicas.

Números elevados também podem ser verificados nas demais cidades da região, como Imbituva, Fernandes Pinheiro, Prudentópolis, etc. Para conferir os dados de sua cidade, clique aqui.

Conforme apurado pela APública – Agência de Jornalismo Investigativo, “a mistura entre os diversas químicos foi um dos pontos que mais gerou preocupação entre os especialistas ouvidos. O perigo é que a combinação de substâncias multiplique ou até mesmo gere novos efeitos. Essas reações já foram demonstradas em testes, afirma a química Cassiana Montagner.

O Ministério da Saúde pronunciou-se a reportagem, via email, que “a exposição aos agrotóxicos é considerada grave problema de saúde pública”, listando os efeitos nocivos que podem gerar “puberdade precoce, aleitamento alterado, diminuição da fertilidade feminina e na qualidade do sêmen; além de alergias, distúrbios gastrintestinais, respiratórios, endócrinos, neurológicos e neoplasias” A resposta, porém, ressalta que ações de controle e prevenção só podem ser tomadas quando o resultado do teste ultrapassa o máximo permitido em lei.

E aí está o problema: o Brasil não tem um limite fixado para regular a mistura de substâncias.

E mesmo tratando das substâncias de forma individual, há o agravante de que enquanto em outros países, como por exemplo, aqueles que compõem a União Europeia, os limites são muito mais restritos para classificar como seguro o volume de resíduos de agrotóxicos na água, o Brasil aceita como dentro da faixa normal volumes centenas de vezes maiores, como pode ser visualizado na imagem a seguir.


Fica nítido, por exemplo, que o glifosato, herbicida mais vendido no Brasil, tem um limite de 0,1 micrograma por litro na União Europeia. Já no Brasil, é aceitável como seguro um volume de até 500 microgramas de resíduo por litro de água, o que dá um valor 5 mil vezes maior. Este produto, segundo a revista Galileu, é utilizado em mais de 90% das lavouras de soja e estudos o associam a morte de abelhas.

O mapa abaixo traz ilustrativamente, os dados de alguns municípios da região no que se refere ao volume "aceitável" de concentração de resíduos de agrotóxicos na água.



Apesar da gravidade da situação, o governo, através do Ministério da Agricultura, tem facilitado o registro e liberação de agrotóxicos, muitos dos quais proibidos em outros países. Além disso, por imposição em busca de produtividade, cada vez mais se dá o uso destas substâncias na agricultura, muitas vezes, de forma inadequada.

A imagem abaixo demonstra a evolução dos registros especialmente nos últimos anos. 


Isto reflete não apenas na qualidade da água fornecida para consumo humano, mas em todo o ecossistema, refletindo na saúde da população e dos demais seres vivos.


Segundo o site Reporter Brasil, em 10 de janeiro mais 28 produtos foram autorizados conforme publicação no Diário Oficial. Destes, o Metomil é considerado extremamente tóxico. Ele é princípio ativo de produtos indicados para culturas como algodão, batata, soja, couve e milho. Além dele, quatro foram classificados como altamente tóxicos. Quatorze são “muito perigosos” ao meio ambiente, e 12, considerados “perigosos”.

Ainda segundo o Reporter  Brasil, alguns produtos são tem seu uso proibido ou restrito em outros países. Um deles é o Fipronil, inseticida que age nas células nervosas dos insetos e, além de utilizado contra pragas em culturas de maçã e girassol, é usado até mesmo em coleiras antipulgas de animais domésticos. Produtos à base de Imazetapir, herbicida aplicado por pulverização em culturas como a da soja, também são proibidos na União Europeia desde 2004. 


Já segundo o site G1, outro motivo de preocupação é a instrução normativa nº 40 da Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura que permite aos engenheiros agrônomos determinarem livremente misturas de diferentes agrotóxicos para a produção de receitas de acordo com cada situação. Ou seja, autoriza a criação  de novas receitas químicas sem que os efeitos dessa mistura sobre a saúde ou o meio ambiente sejam devidamente conhecidos. 

Trata-se, portanto, não apenas de uma questão legal, mas de saúde pública e de responsabilidade ambiental, exigindo medidas envolvendo o governo, empresas químicas, empresas agrícolas, produtores, consumidores, etc. Torna-se necessário observar a questão com a gravidade que ela exige, não apenas se subtendo aos ditames do chamado mercado, que na ânsia de aumentar a produtividade e reduzir custos, sob o pretexto de garantir a segurança alimentar, compromete a saúde e a vida não só das pessoas, mas de todo ecossistema.


Fontes: 




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