O egocentrismo nos discursos políticos

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Uma coisa que os políticos ou gestores públicos deveriam aprender sobre liderança, observando o exemplo de muitas empresas eficientes e de sucesso, é que não existe “EU fiz”, mas “NÓS fizemos”. 

Os resultados visíveis do trabalho dificilmente partem de ações isoladas, mas são consequências de um processo complexo, de um esforço coletivo e de um objetivo comum. Em uma empresa, parte-se da definição das necessidades dos clientes para que ela possa oferecer algo de valor a eles. 

Isso orienta o planejamento estratégico, tático e as ações operacionais. E não se encerra na entrega do produto, mas nos serviços de pós-venda, na verificação da satisfação do consumidor, na coleta de informações para melhorar todo o fluxo e retroalimentar o ciclo. Isso envolve pessoas em todos os diversos setores, em todos os níveis hierárquicos. Envolve, inclusive, pessoas
externas à organização, como fornecedores, parceiros, equipe de publicidade e o próprio cliente. 

Por isso as empresas hoje estão cada vez mais conscientes da importância das pessoas, do capital intelectual ou outras denominações dadas. Em última análise, são elas que fazem a diferença e geram valor.

        A dificuldade é que, entre tantas outras explicações, dada a complexidade do ser humano, tal conduta pode advir da astúcia individual, do jogo que impera no meio político ou em decorrência da naturalização desse comportamento na sociedade. 

           No setor público, onde se situa a base do discurso político, o EU está ainda muito mais longe de existir, exceto nas conveniências e egocentrismos dos discursos eleitorais. Primeiramente, pela própria essência da coisa pública (material e imaterialmente construída, mantida, planejada, definida, orientada e até controlada coletivamente). Segundo, pela própria existência da máquina pública, ou seja, os próprios instrumentos de ação / operacionalização são construções coletivas

É contraditório falar EU fiz, EU consegui, EU realizei, ao mesmo tempo em que se enaltece a importância da participação popular em suas diversas formas (conselhos, audiências públicas, ouvidorias, pesquisas, requerimentos do legislativo, etc.). Segundo, como princípio constitucional, a Administração Pública imperativamente deve buscar a finalidade pública. Essa é sua razão de existir. E a finalidade pública só pode ser determinada pela sociedade. 

E aqui adentramos na primeira materialidade que nega o EU do administrador: é a sociedade (da qual o gestor faz parte), através dos tributos (impostos, taxas e contribuições) que financia qualquer ação pública. Logo, se todos apontaram o que é necessário (pela via da representatividade, inclusive), se todos ajudaram a pagar, todos ajudaram a fazer.

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     Subjetivamente, falar em EU fiz, é desconsiderar o trabalho de toda uma equipe de profissionais. E paradoxalmente, muitos destes profissionais são ocupantes de cargos de confiança. Ou seja, aqueles cargos que durante a campanha o então candidato garantiu que seriam preenchidos por pessoas com competência, com amor pelo trabalho, com experiência. Ora, o trabalho deles é irrelevante, já que nos discursos, suas contribuições são esquecidas ? E fora estes, há um grande número de anônimos, aprovados em concurso público com significativa concorrência e com a qualificação exigida nos editais, realizando atividades operacionais, a postos na linha de frente, sendo a vitrine da administração perante a sociedade. O trabalho destes, obviamente, não é insignificante.

            Outro ponto relevante diz respeito ao imediatismo das ações, especialmente aquelas que dão visibilidade. Embora existam planos e ferramentas estratégicas de médio e até de longo prazo (Plano Plurianual, Planos decenais, etc.) a execução prioriza, via de regra, políticas de governo e não políticas e Estado. A visão de planejamento quase nunca enxerga além de um mandato e por isso as análises decorrentes também omitem oportunamente as relações de causa e efeito: poucos gestores analisam que o sucesso que tiveram são em maior ou menor grau, conseqüência dos pontos positivos da gestão anterior. Reconhecer isso contraria o egocentrismo reinante e naturalizado cada vez mais em nossa sociedade.

Do mesmo modo oportuno e incongruente, os problemas passíveis de críticas nunca são fruto de nenhum EU isolado. Mas são resultados do acaso, do mau tempo, da falta de recursos, das dívidas da  gestão anterior, da falta de pessoal, da falta de apoio. Tudo culpa do antecessor.

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Está na hora de uma mudança de postura. Enquanto prevalecer o egocentrismo do EU, a gestão estará relegada a atender anseios egocêntricos. A ser o palco para estrelismos enquanto a plateia paga o ingresso. 

Essa mudança de postura, porém, deve partir da própria sociedade, não apenas criticando aqueles que tentam colher o que foi semeado por muitos, mas criticando o egocentrismo e o individualismo cristalizado na própria sociedade e que se reflete no cotidiano, nas mínimas ações que passam despercebidas.

E para refletir: Votamos naquele que apresentou (e tem maiores chances de concretizar) as melhores propostas para a sociedade ou naquele que apresentou as melhores para nós próprios ? 

Quanto às empresas, fica a reflexão nas imagens abaixo que ilustram a diferença entre ser chefe e ser líder e seus reflexos não só na produtividade, mas especialmente, na qualidade de vida no trabalho, focando a importância do elemento humano e principalmente, de ser humano nas relações sociais.




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