A
Reforma Administrativa ou do Serviço Público anunciada pelo Governo de
Bolsonaro tem nitidamente a intenção de reduzir direitos trabalhistas dos
servidores públicos, valendo-se da narrativa de tornar a máquina pública mais enxuta, eficiente e menos onerosa, em outras palavras, com o pretexto de melhorar a
vida do cidadão.
Ocorre
que precarizar o trabalho público é, em regra, prejudicar o cidadão. Não há oferecimento de serviços essenciais de qualidade, como saúde e educação, por exemplo, sem
servidores, e mais, sem condições adequadas de trabalho para tais trabalhadores.
http://atacsantos.com.br/noticias/noticias_ver.asp?idConteudo=17866 |
Ataca-se a qualidade do serviço público, culpando o servidor e
esquecendo que ele precisa de uma estrutura adequada, de chefes com capacidade
de planejamento, do respaldo de leis e de decisões políticas, de investimentos, etc. Atacam a
necessária estabilidade do servidor, criticam a realização de concurso público (forma mais
democrática e justa de acesso ao trabalho), tratam todos os servidores, de forma generalizada, como privilegiados e displicentes, esquecendo que as benesses dadas aos comissionados e
apadrinhados políticos, bem como certas condutas, estereótipos comuns da classe política, não se aplicam a todos.
Enfim, fica nítido, observando a mídia, a narrativa que
ataca servidores, as propostas legislativas, as medidas fiscalistas adotadas, que atacar aos servidores, e aos demais trabalhadores, retirando direitos, enfraquecendo sindicatos, faz parte de um contexto maior, fruto de uma ideologia neoliberal elitista que amplia a desigualdade garantindo vantagens a poucos, porém, convencendo a sociedade de que isto trará eficiência e desenvolvimento (para quem ?).
ataca servidores, as propostas legislativas, as medidas fiscalistas adotadas, que atacar aos servidores, e aos demais trabalhadores, retirando direitos, enfraquecendo sindicatos, faz parte de um contexto maior, fruto de uma ideologia neoliberal elitista que amplia a desigualdade garantindo vantagens a poucos, porém, convencendo a sociedade de que isto trará eficiência e desenvolvimento (para quem ?).
Assim, após
testar a reação da sociedade com um corte absoluto e geral da estabilidade do
servidor público e da apresentação de uma reforma maléfica e rigorosa, que teve que ser adiada para
garantir os votos parlamentares necessários à aprovação (talvez com a troca por emendas), a tacada
atual de Paulo Guedes é apresentar uma proposta onde o servidor, para ter
estabilidade, além da avaliação de desempenho (coisa que já ocorre - leia aqui), precisa passar por uma avaliação do público.
Segundo
o Jornal GaúchaZH, para o Ministro, “se houver avaliação positiva dos
cidadãos, junto com um retorno favorável dos chefes imediatos e funcionários
experientes, a estabilidade poderá ser concedida. Tem que passar nessa peneira,
tem que ser avaliado para não ficar com essa imagem que o serviço público fica
de que o cara não quer nada porque tem estabilidade no emprego, tem um salário
muito alto, está garantido na aposentadoria, não está nem aí, maltrata a gente.”
Ou
seja, para o ministro, todo servidor tem salário alto (esquece de professores,
serviços gerais e tantos outros cargos, especialmente no executivo municipal,
que ganham próximo do salário mínimo e muitas vezes, sequer têm planos de
progressão na carreira). Fala de aposentaria, como se com as novas regras,
fosse algo seguro. Hoje, está mais fácil ser afastado por questões de saúde e
de idade avançada do que obter o benefício previdenciário. Lembrando que os
servidores pagam em geral 11% de previdência e a tendência é que todos passem a
pagar 14%, índice muito maior que a tabela progressiva do INSS. E por fim, o
ministro generaliza o fato de que todo servidor atende mal, que inclusive
maltrata a população.
Esta
proposta escancara o desconhecimento do Ministro dos banqueiros sobre a realidade
do serviço público. Conforme Guedes, assim que o cidadão é atendido, ele aperta
um dos três botões: o verde, bem atendido, o amarelo, serviço normal, ou o
vermelho, pessimamente atendido — disse.
Obviamente, é salutar avaliar a qualidade do serviço público, inclusive, a qualidade do trabalho prestado pelo servidor. Entretanto, é necessário parâmetros objetivos, que levem em consideração a especificidade de cada cargo, as quais vão além do atendimento ao público. É preciso avaliar o contexto de trabalho, os recursos disponíveis, as leis que determinam o que pode ser feito (diferente da iniciativa privada onde se pode fazer tudo que a lei não proíbe, no setor público somente se faz o que a lei autoriza), as políticas públicas orientadoras (definidas pela classe política sem se preocupar com a operacionalização das mesmas).
Guedes faz apenas demagogia. Primeiramente,
ele parte do pressuposto de que todo servidor atende diretamente ao público.
Como avaliar desta forma o trabalho de um professor, de um médico, de um
contador, trancado sozinho em sua sala abarrotada de documentos. Como avaliar
desta forma o trabalho de um agente de trânsito que multa o cidadão infrator ou
de um fiscal tributário ou sanitário ?
É impossível ao cidadão que avalia o atendimento levar em consideração o serviço público que precisa de insumos ou materiais
para ser prestado e que nem sempre o Estado fornece. É o caso de uma farmácia
que não dispõe de dado medicamento. De uma unidade de saúde que não dispõe de leito vago. Como será avaliada a demora nos casos em que os
servidores trabalham com computadores e demais equipamentos de uma década
atrás, com internet ruim, com sistemas falhos ? Será culpa do servidor ? Terão todos
os servidores que fazer o que se faz hoje nas escolas, ou seja, mobilizar as
APMF’s para adquirir os recursos básicos para ensino e para a manutenção das
instituições que deveriam ser fornecidos pelo Estado ?
E
quanto aos recursos disponíveis, podemos ir além. Sendo escancarada a intenção do
governo de privatizar, de precarizar as relações trabalhistas, de deteriorar os
serviços públicos e as políticas sociais, pode haver uma redução significativa
dos investimentos necessários para a prestação de um atendimento de qualidade,
reduzindo número de servidores, materiais e tecnologias disponíveis e
movimentando a opinião pública para acatar a ideia de que tal precariedade é
culpa do trabalhador público, de que o serviço público não funciona, enquanto a classe política, responsável pelas leis e pela destinação dos recursos, navega em seus discursos demagógicos.
O
número de servidores, apontado pela mídia como excessivo, por si só é uma
falácia. Faltam professores nas escolas, enfermeiros, médicos e demais
atendentes nas unidades de saúde (vide as filas), faltam policiais, etc. Se
compararmos os dados objetivos, o número de servidores cresceu proporcionalmente
menos do que a população nas últimas décadas. Dados revelam que o Brasil tem
menos servidores per capita que a média de muitos países. (Leia nesta blog o texto que trata do fim da estabilidade)
E
por fim, muitas das falhas do serviço público decorrem das leis mal elaboradas.
Ou seja, precisaríamos avaliar os políticos, estes sim, onerosos e bem
remunerados (leia aqui o texto que trata do verdadeiro ralo para onde vão os recursos públicos). Avaliar o excesso e a utilidade de tantos cargos de chefia (comissionados
ou indicados políticos), avaliar os investimentos realizados, para então
avaliar os serviço público. E enfatizando: servidor público já passa por
avaliação de desempenho para adquirir, após 3 anos de exercício, a
estabilidade. Estabilidade esta que é relativa, pois há diversas possibilidades
que permitem a demissão ou exoneração do servidor.
Propostas
como esta são absurdas e contraproducentes, pois farão com que o servidor seja
impelido a escolher: ou atende a lei e mantém a impessoalidade (sendo mal
avaliado e demitido) ou faz igual político, dá jeitinho, agindo de forma
pessoal para ser bem avaliado. Enfim, parece que não querem qualidade ou
profissionalização do serviço público. Querem apenas fazer do Estado uma
máquina a serviço dos interesses ideológicos,partidários e pessoais dos
políticos do momento.
E da mesma forma que houve com a Reforma Trabalhista e Previdenciária, cujo discurso tinha tom de busca pela eficiência, economia e recuperação econômica, na prática, ocorreu apenas o corte de direitos, especialmente da massa populacional. Apenas a sociedade foi sacrificada enquanto os verdadeiros privilegiados ficaram incólumes. Até mesmo militares mantiveram certas vantagens, mesmo sendo uma das classes que mais impacta no rombo previdenciário.
E da mesma forma que houve com a Reforma Trabalhista e Previdenciária, cujo discurso tinha tom de busca pela eficiência, economia e recuperação econômica, na prática, ocorreu apenas o corte de direitos, especialmente da massa populacional. Apenas a sociedade foi sacrificada enquanto os verdadeiros privilegiados ficaram incólumes. Até mesmo militares mantiveram certas vantagens, mesmo sendo uma das classes que mais impacta no rombo previdenciário.
Em geral, todas as propostas deste governo têm um cunho simplificadamente ideológico e fiscalista, orientado para atender aos interesses do mercado e da classe capitalista. Porém, há pouca preocupação verdadeira com os reflexos na vida do cidadão. Tanto que hoje ostentamos o fato de sermos o segundo país com a maior desigualdade social e com péssimos índices de desenvolvimento humano.
O reflexo se dá inclusive no IDH, que é calculado, além da renda, com base em educação e longevidade (relacionada à saúde), ou seja, considera áreas que primordialmente são de competência do Estado e que afetam a vida da população mais pobre, que ficará cada vez mais desamparada e desprotegida com a deterioração dos serviços públicos.
De forma mais objetiva, além das privatizações, terceirizações, do corte de recursos para áreas essenciais de ação estatal, o foco do governo (e de parte da mídia) parece ser o de querer transformar os servidores públicos em inimigos número 1 da sociedade.
E o mais grave: todo este contexto tem
um objetivo geral maior, que se desenha a partir de diversas estratégias
interligadas que parecem passar desapercebidas pela população, ou pior, muitas
recebem aplauso. E todas elas têm levado a deterioração das condições sociais,
agravado a desigualdade e garantido a lucratividade e os benefícios de poucos
grupos ou indivíduos. Os dados estão disponíveis para quem for além do discurso
raso, ideológico e polarizado de que tudo se resume em esquerda e direita.
Não vivemos um retrocesso, como dizem
alguns, pois nunca antes na história deste país, conquistas de décadas foram
destruídas tão rapidamente. Nunca o social foi visto de forma tão pejorativa.
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