Onde estão os desperdícios de recursos públicos ? Quem detém privilégios no Brasil ?

Que vivemos em um contexto social, político e econômico de crise, é inegável. A questão é que tais percalços são as justificativas para a classe política, para os meios de comunicação, para o setor produtivo, para os “comandantes” do mercado e tantos outros agentes de poder insistirem no discurso de que todos precisam fazer sua parcela de sacrifício. Mas onde está a parcela de sacrifício dos verdadeiramente privilegiados, condição pervertidamente atribuída aos trabalhadores, ultimamente, pelo simples fato de ter emprego!

Repetem para justificar suas reformas de que o Estado está inchado, especialmente de servidores, enquanto se esquece do peso da imensa classe política, com seus altos subsídios, penduricalhos e todo leque de indicados políticos.

Fala-se do peso dos tributos que sufocam empresários, mas se esquecem de falar que em geral eles apenas repassam o valor dos tributos embutidos nos preços e pagos efetivamente por toda sociedade, isso quando não acontecem casos de sonegação, cujos números nacionais são assustadores.

Atribui-se às empresas e entidades públicas os casos de corrupção, mas omitem o fato de que elas são, em regra, dirigidas pela classe política; esquecem que em cada caso noticiado pela mídia, não raro, estão envolvidos políticos e empresários. Enfim, que a corrupção está nos detentores do poder e não no Estado, elemento social criado justamente para atender à sociedade, mas utilizado erroneamente. Enfim, ataca-se o doente e não a doença.

E por fim, esquecem de todo contexto de desigualdade socioeconômica nacional, criticam benefícios sociais, atribuem ao trabalhador cada vez mais explorado e com menos segurança os problemas, enquanto a classe dominante (políticos e grupos que os financiam e influenciam) fortalece seus privilégios.

A quem este discurso atende ?

O fato é que esta crise é decorrência de ações da própria sociedade que permite que discursos falaciosos, rasos e convenientes se solidifiquem; que discursos que apelam para a emoção, mesmo que sem lógica e sem respaldo com a realidade, garantam votos.

Prova disto é que reformas, como a trabalhista e a da previdência, que retiraram ou reduziram direitos, foram aprovadas sob os aplausos dos próprios prejudicados, que ainda não perceberam que são vítimas e que continuarão a pagar a conta, cada vez mais alta, dos problemas, que em parte alimentam e reproduzem.

Hoje insistem que o trabalhador precisa ser mais produtivo, mais qualificado, mas graças à massa de desempregados, o valor do trabalho (salário) e as condições de produção são cada vez mais sufocantes. Exige-se cada vez mais e se oferece cada vez menos garantias e condições, inclusive salariais. Até mesmo a aposentadoria, em um país cuja cultura é de não empregar idosos, sofre abalos. Cogita-se até emendar a CF/88 para congelar o salário mínimo ao menor sinal de crise.

A tal liberdade e os maiores ganhos prometidos pelas jornadas flexíveis (argumento para aprovar a Reforma Trabalhista)  nada mais fizeram do que obrigar o trabalhador a multiplicar as horas trabalhadas, nos  momentos convenientes às empresas, sem qualquer reflexo positivo no salário-hora. Quem ganha mais é porque está trabalhando muito mais. Sem contar que a ampliação dos postos de trabalho até hoje não se concretizou. Mais desempregados, mais baixos os salários, já que a lei de mercado é imperiosa.

E para aqueles que arriscam empreender, verifica-se que muitos trabalham 10, 14, 16 horas diárias, muitas vezes na informalidade. Ampliou-se ainda o fenômeno da “pejotização”, onde o trabalhador até para fazer entregas de bicicleta precisa ter seu CNPJ, reduzindo em prol do governo as estatísticas do desemprego, enquanto não detém a mínima segurança.

Porém, o trabalhador (incluindo aqui muitos dos pequenos empresários) é convenientemente iludido de que pertence à classe capitalista, e este sentimento de pertencimento o faz apoiar medidas que sufocam mais a classe a qual ele realmente pertence, sob o ledo engano de defender uma falsa meritocracia.

O truque é fazer o discurso político inverter a lógica dos fatos e justificar a exploração. Repete-se até a exaustão que não é fácil empreender no Brasil, de que é difícil ser empresário com tantos direitos trabalhistas, de que se assume riscos, de que se quebra porque se paga tantos impostos. 

Este discurso incorreto generaliza, fazendo de conta que esta realidade, enfrentada pelo pequeno empreendedor, que é um trabalhador, que coloca a mão na massa, é a mesma do capitalista, que apenas investe seu dinheiro onde for mais rentável e conveniente e colhe os frutos do trabalho alheio cada vez mais desvalorizado. Estas dificuldades não fazem parte da realidade dos grandes empresários, que muitas vezes usam de N estratégias para burlar até mesmo o fisco e pagar menos impostos. Para os "grandes" não há dificuldades, apenas oportunidades e lucros, mas eles embarcam no discurso e se colocam como explorados e a sociedade assim aceita.

Quem são os privilegiados ?

Esta contextualização serve apenas para alicerçar uma segunda ideia: onde está a parcela de sacrifício da classe política ? Dos grandes capitalistas, que ao menor sinal de redução de seus vultosos lucros, demitem sem dó ?. Onde está o retorno dos empresários que parcelam por décadas suas grandiosas dívidas tributárias, desconsiderando aqui a sonegação alarmante (segundo o IBPT, a sonegação empresarial no Brasil supera o orçamento da educação e da saúde somados) ? Estes sim mantêm seus privilégios e ainda os ampliam nos momentos de crise.

Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário – IBPT (2018), o faturamento não declarado das empresas brasileiras é algo em torno de  R$ 2,17 trilhões por ano e os tributos sonegados somam R$ 390 bilhões por ano. Destacando que a maioria dos tributos devem ser apenas repassados pelas empresas, sendo o consumidor final o verdadeiro contribuinte. 

Comparativo da sonegação anual

 Apesar deste contexto, o governo atual propõe desonerar folha de pagamento, favorecendo empresários, ao mesmo tempo que impõe como medida de compensação a recriação de uma espécie de CPMF, que onerará a todos, principalmente os mais pobres.

 As tais reformas implementadas se baseiam no sacrifício do povo. Dizem que a educação custa caro, a saúde é onerosa, os direitos sociais são impraticáveis. Mas quanto custa manter a inchada estrutura política nacional ?

Nossa sociedade, informada por frases rasas e memes de redes sociais, trata como problema o salário da grande massa de servidores públicos, como por exemplo, dos professores, porém, acha normal um deputado ganhar seus R$ 30 ou 40 mil e ainda fazer jus a verbas de gabinete, indenizações, penduricalhos e empregar com ele dezenas de apadrinhados que ganham altos salários (uma esclarecedora matéria da Gazeta do Povo intitulada "sete benefícios que os políticos usam para engordar o salário" ilustra a questão)

O povo aplaude matérias que dizem que servidor é privilegiado, porém, a maioria dos que repetem tais críticas não se dá ao trabalho de pesquisar e distinguir a regra das exceções. 

A própria matéria fonte destas informações coloca como manchete que servidores ganham muito mais que a média dos trabalhadores. Porém, somente lendo o texto na íntegra, entendemos que os rendimentos maiores são dos servidores federais. O mesmo ocorre com relação aos poderes: é no judiciário que se concentram os melhores salários. 

A média salarial, na esfera municipal, segundo a Época Negócios, oscila entre R$ 2 e 3 mil ao mês, estando próxima da média nacional dos trabalhadores da iniciativa privada, que está na faixa de R$ 2.340,00. Mas todos entram no mesmo pacote de privilegiados. Sem mencionar que os privilégios e os salários maiores (que elevam a média) geralmente são concedidos aos cargos políticos, aos cargos de direção e chefia, e não aos servidores de linha de frente, especialmente nos municípios, onde reside o cidadão e onde ele é atendido, seja nas escolas, na saúde, etc.

Ao apontar como privilégio a simples condição de servidor, generalizando críticas, não se considera que a forma de entrar no serviço público é a mais meritocrática e justa possível (concurso aberto a todos), que esta classe não faz jus ao FGTS, que os sistemas próprios de previdência são mais caros, que servidor também é pagador de impostos e que a tal estabilidade já é há muitos anos relativa. Há avaliações de desempenho, há limites estabelecidos pela LRF que permitem a demissão ou exoneração, etc. Enfim, servidores, como pequenos empresários, são trabalhadores como todos os demais e pertencem à mesma classe. 

O exército oneroso de cargos políticos

Como os dados reais são dispersos, talvez até intencionalmente difíceis de serem entendidos, algumas suposições e cálculos aproximados bastam para ilustrar a questão de que problema não está no servidor de linha de frente, de que o problema dos gastos públicos não está nas políticas públicas e sociais que atendem aos mais pobres, tampouco nos benefícios previdenciários, taxados com culpados.

Senadores 

Segundo a Constituição Federal, temos 51 Senadores. Segundo a Gazeta do Povo, "os salários dos senadores – R$ 33,7 mil – resultam num gasto anual de R$ 36 milhões, além de  R$ 20 milhões para custear as aposentadorias e pensões de dependentes." Mas sabemos que os gastos com os nobres Senadores não cessa por aí. Existem diárias, passagens de avião, motoristas, carros, planos de saúde e muitos assessores parlamentares. Em suma, a interessante matéria da Gazeta revela que "cada senador custa R$ 596 mil por mês aos cofres públicos. O gasto anual com cada um deles chega a R$ 7 milhões. Considerando as despesas de todos os senadores, são R$ 580 milhões por ano". (dados de 2018)

Mas os Senadores são a minoria. Vamos pensar nos deputados Federais. A Câmara dos deputados compõe-se de 513 membros eleitos em número proporcional à população de cada Estado e do Distrito Federal.

Deputados Federais

Atualmente, cada unidade da Federação pode eleger de 8 a 70 deputados, de acordo com a população, conforme estabelecido pela Constituição Federal, no art. 45. Da mesma forma que ocorre com os Senadores, existem uma série de benefícios que oneram os cofres públicos. Conforme a Gazeta do Povo, "na ponta do lápis, um deputado federal custa R$ 278 mil por mês. São R$ 3,3 milhões ao ano " "Cada deputado conta com R$ 106,8 mil por mês para contratar até 25 assessores.

Revisando as despesas até aqui citadas: cada senador custa 7 milhões ao ano. 51 Senadores custam 357 milhões. Cada deputado federal custa 3,3 milhões ao ano, vezes 513 deputados, temos R$ 1,693 bilhão ao ano. Somando deputados federais e senadores, os políticos já nos custam mais de 2 bilhões ao ano, isto considerando os eleitos, já que cada político tem sua turma de apadrinhados em número imensurável, isto sem possibilidades de tentar somar aos custos a estrutura necessária para mantê-los.

Mas os gastos elencados até então são apenas a cobertura do bolo. Deputados e senadores representam uma pequena parcela do total de políticos. Segundo o Uol, deputados federais e senadores não representam mais de 1% dos políticos eleitos (e já custam caro), imaginemos o rombo ocasionado por todos os demais políticos.

Total de políticos


  A segunda parte da missão deste texto é um pouco mais desafiadora. É trazer o número aproximado de deputados estaduais em cada unidade da federação, bem como, o quanto eles custam ao erário, obviamente que de forma ilustrativa, dado o volume, a dispersão, a imprecisão e a heterogeneidade dos dados. Sequer há fontes na internet que tragam com precisão os custos de todos os deputados ao erário. O que dizer então do custo dos vereadores, que são em volume maior, muito mais pulverizados e sujeitos a leis e condições individualizadas.

Deputados Estaduais

Ocorre que no caso dos deputados estaduais cada unidade federativa tem suas especificidades. Portanto, traçar aqui uma visão aproximada, com dados médios, já é suficiente para ilustrar o óbvio: a classe política custa muito caro e gera poucos resultados (muitas leis são totalmente inócuas ou politiqueiras e constitui-se em uma casta que destoa da realidade média dos trabalhadores).

De acordo com o artigo 27 da Constituição Federalos deputados estaduais recebem o equivalente a 75% do subsídio / salário dos deputados federais. Atualmente, esse valor equivale a pouco mais de R$ 25 mil, além dos penduricalhos diversos.

Segundo o site Politize.com, conforme o estado eles podem receber diversos outros benefícios, como o famoso auxílio moradia. Recebem verbas de gabinete, que também variam conforme o estado (entre 80 a 170 mil reais por mês). Aqueles que ocupam cargos de secretaria, que participam de comissões (quase todos participam de algo), podem ter acréscimo salarial e há ainda verbas indenizatórias que superam em média os R$ 30 mil reais. 

Seguindo a lógica de que os deputados estaduais recebem de subsídio 75% do que recebe um “colega” federal, seus custos (subsídios, mais verbas e indenizações) ilustrativamente devem ser semelhantes, na falta de um indicador melhor. Assim, facilmente, cada parlamentar provavelmente custa ao seu estado mais de R$ 208 mil ao mês (75% de 278 mil) ou quase R$ 2 milhões e meio ao ano.

De forma simplificada, conforme estabelecido pela Constituição Federal, cada estado terá na sua Assembleia Legislativa o triplo de deputados estaduais do que tem de deputados federais. (Assim, um Estado com 10 deputados federais, terá 30 deputados estaduais). Porém, se passar de 36 deputados estaduais, aplica-se subsidiariamente outra regra: “atingido o número de trinta e seis, será acrescido de tantos quantos forem os Deputados Federais acima de doze.”

O Estado do Paraná, por exemplo, tem 30 deputados federais. Terá 36 deputados estaduais pelo cálculo do limite constitucional, mais 18 da regra auxiliar (30-12=18), totalizando 54 parlamentares.

Agora vamos considerar que o Brasil tem 27 Unidades Federativas (esquecendo as especificidades do Distrito Federal).  Diversos sites trazem que o Brasil tem um total de 1059 deputados estaduais em exercício.

Cada estado tem sua legislação, seus subsídios, concede determinadas verbas ou adicionais de forma diferenciada, além de que, cada deputado usufrui de modo diferente das verbas indenizatória, sem mencionar as lacunas dos Portais das transparências que impedem de conhecer de forma fácil e objetiva esta realidade. Porém, uma análise, por mais grosseira da realidade, já dá uma noção do número significativo de parlamentares estaduais e do custo que eles devem gerar.

Prefeitos, vices e vereadores

Atividade ainda mais complexa seria determinar os custos com os políticos da esfera municipal. O número de vereadores é de aproximadamente 56.810 que atuam em 5.568 Câmaras Municipais. A quantidade de edis eleitos é definida pelo total da população. De forma ainda mais dispersa e de modo mais complexo do que ocorre com os deputados, não há dados precisos sobre os custos com os vereadores.

Segundo levantamento da Gazeta do Povo, “como o Brasil tem mais de 57 mil vereadores. O custo anual total é de mais de R$10 bilhões." Fora eles, a sociedade direciona recursos para manter 5568 prefeitos e 5568 vices, com salários, verbas, indenizações e toda uma estrutura criada para atendê-los, inclusive assessores, comissionados, etc. 

E neste ponto, vale um adendo: não podemos confundir o subsídio de um político com o custo de cada um deles. O subsídio, em regra, não deveria passar dos R$ 39 mil aproximadamente, ao passo que os custos são de difícil mensuração e muito maiores.

No que tange aos subsídios, conforme determinado pela Constituição Federal, no artigo 37, inciso XI, há resumidamente um teto geral: nenhum servidor público no Brasil poderá ter remuneração que exceda o subsídio mensal, em espécie, dos Ministros do STF (atualmente, próximo de 40 mil reais, ou seja, 17 vezes a média salarial do brasileiro, de R$ 2300,00, aproximadamente). Sendo assim, na União, há apenas o teto geral do subsídio de ministro do STF. Nos Estados e DF: há sub-tetos especiais para cada poder (exemplo: Poder Executivo: o subsídio mensal do Governador); Municípios: o sub-teto é o subsídio do prefeito.

  
A tabela acima apresenta o subsídio de alguns cargos políticos, com informações médias obtidas em diferentes sites, muitas vezes de forma discrepante e alguns desatualizados. Isso porque, é difícil, até mesmo para a imprensa, obter as informações precisas, tendo em vista as lacunas nos portais da transparência e principalmente, porque no caso dos municípios, cada um dos mais de 5 mil entes têm suas legislações e salários específicos. 

Custos dos políticos (subsídios, penduricalhos e toda estrutura disponível)

Situação mais complexa ainda ocorre ao levantar os custos dos políticos. O custo é mais abrangente. Além do subsídio, envolve indenizações, verbas de gabinete, diárias, auxílio moradia, planos de saúde, transporte e uma infinidade de penduricalhos. Envolve gastos diferenciados entre cada um deles (alguns usam diárias mais, outros menos, poucos não usam...), ou seja, teria que analisar mais de 70 mil casos particularizadamente (número estimado de políticos eleitos).

Ressaltando que mesmo uma formidável análise criteriosa e gigantesca de dados sobre os custos da classe política fosse levantada, ela evidenciaria ainda apenas os valores mensuráveis monetariamente. Como tratar e mensurar custos ocultos, como a estrutura física, servidores contratados para atendê-los em suas funções, infraestrutura, o custo dos assessores, dos comissionados indicados, além dos casos de despesas ilegais constantemente veiculadas pela mídia e de impossível mensuração ? Como considerar os custos da ineficiência, dos custos sociais e tantas outras variáveis dificilmente quantificáveis ? 

Apenas para ilustrar, um ex-presidente custa aos cofres públicos R$ 12.000,00 por dia, segundo matéria no site R7.. Imaginemos o político em exercício ! 

Dessa forma, o custos de um político resumidamente ilustrados na tabela acima têm caráter meramente ilustrativo, não representando nenhum caso individualizadamente, mas uma aproximação (com base em diferentes fontes e estimativas subjetivas), simplesmente com a intenção de despertar para onde escoa grande parte dos recursos públicos, tão escassos a fonte da população mais necessitada ser forçada a contribuir com amargas restrições para contornar a crise.


E aqui se constata um fato curioso. Dos 5.570 municípios brasileiros, a maioria deles tem menos de 50 mil habitantes, ou seja, se somarmos todos os políticos eleitos, sem incluir na conta assessores, ministros, secretários, comissionados, etc.), já teríamos uma população maior do que a existente em mais de 88% dos municípios brasileiros.


Dada a dificuldade de dados mais precisos, a Superinteressante fez, com dados de 2017, um levantamento de alguns dos custos com políticos, resultando na matéria “quanto custa um político no Brasil?”. Os dados médios aproximados dão uma noção do salário de governadores, prefeitos e vereadores.

site Politize.com afirma que o subsídio médio dos governadores é de 21 salários mínimos. O mesmo site traz que os subsídios dos prefeitos variam muito, sendo que a melhor forma de conhecê-los seria acessando os Portais Municipais da Transparência individualmente. Tarefa impraticável a qualquer cidadão, já que teria que visitar e garimpar no Portal da Transparência de 5.570 municípios dados nem sempre compreensíveis.

Destaca-se que de forma semelhante ao que ocorre com os governadores, o subsídios dos prefeitos devem ser fixados por lei (de iniciativa da Câmara Municipal), desde que não ultrapasse o teto estipulado constitucionalmente.

Com base nos dados exemplificativos elencados nesta matéria e considerando que a maioria dos municípios brasileiros (88%) tem menos de 50 mil habitantes, podemos tomar como exemplo metade do subsídio de um prefeito da capital como média, ou seja, algo entre 10 ou 15 mil reais ao mês. Valor significativo quando se considera que o Brasil tem 5570 municípios e cada um deles têm um prefeito e um vice-prefeito.

Resumidamente, sustentamos 81 senadores, 513 deputados federais, 1059 deputados estaduais, 11136 prefeitos e vices e 56810 vereadores, totalizando quase 70 mil políticos (considerando apenas os eleitos, exceto comissionados, assessores, ministros, secretários, etc.) que além de receberem salários ou subsídios muito acima da média, fora da realidade do trabalhador brasileiro, recebem diversos adicionais e geram custos com uma estrutura requintada para atendê-los.

Imaginemos colocar na conta o número de indicados políticos, direta ou indiretamente, tais como Ministros, Secretários, Assessores e diversos outros indicados sob as mais diversas nomenclaturas.

Se chutarmos que para cada político eleito haja 3 outros cargos de indicados, teríamos uma população de "agentes políticos" de 210 mil integrantes. Lembrando que apenas 143 dos 5570 municípios brasileiros tem mais de 210 mil habitantes.

Um exército de agentes políticos

 Podemos concluir então que o Brasil tem políticos demais ? A questão não é tão simples assim. Um maior número de políticos eleitos democraticamente, cumprindo eticamente seu papel, representando as diferentes frações sociais, significa maior status democrático ao país. Significa maior representatividade para a sociedade, significa mais pessoas pensando e resolvendo os problemas sociais sem atropelar direitos de um lado e sem privilegiar segmentos, de outro. Significa um sadio equilíbrio de forças ideológicas, significa maior ponderação entre a política e a gestão objetiva da coisa pública.

 Segundo um infográfico da BBC, disposto na matéria “Segundo mais caro do mundo, Congresso brasileiro tem parlamentares demais?” o número de parlamentares brasileiros, por exemplo, em relação ao total da população, não chega a ser absurdo em comparação a outros países. Enfim, há países com muito mais políticos per capita do que o Brasil.


https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46427803

Ocorre que comparações entre países, sejam elas quais forem, são geralmente superficiais e desconsideram as especificidades econômica, culturais, históricas e, neste caso, demográficas.

Comparar o número de políticos em relação à população de um país populoso como o Brasil (e em desenvolvimento), com quase 210 milhões de habitantes, com a relação per capita existente em países ricos, com populações significativamente menores, distorce a realidade.

A matéria e os gráficos da BBC confirmam o outro problema da representação política brasileira já citado. O custo para manter esta estrutura. 


https://www.bbc.com/portuguese/brasil-46427803

Segundo a mesma matéria da BBC citada acima, o Brasil gasta mais de 30 milhões de Reais por ano (7 milhões de Dólares) somente com cada um dos políticos ocupantes do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado), tornando-se o segundo país mais caro do mundo neste quesito

Câmara e Senado custam R$ 28 milhões por dia. (valor mais alto que o apresentado pela Gazeta do Povo na matéria sobre o custo dos Senadores e na matéria sobre o custo dos deputados federais). Sem mencionar neste texto a corrupção, a ineficiência, o clientelismo, o uso politiqueiro da máquina pública, entre outras questões morais ou imorais, legais ou ilegais que fogem da objetividade dos dados financeiros (os quais, por si só são difíceis de mensurar).

O triste e lamentável de tudo isso é que grande parte da sociedade trata esta questão como normal. Com isso, elegem e reelegem políticos que usam o Estado como fonte de renda e manutenção do poder. E quando esta sociedade cobra (os próprios políticos, para obter voto, convencem a sociedade de que ela é portadora de N direitos, muitos impraticáveis), ela geralmente direciona suas críticas para o lado errado do sistema.

Hoje virou mania nacional criticar servidores, criticar a carga tributária, critica-se até mesmo as políticas sociais comprovadamente necessárias e que são motores de desenvolvimento econômico, social, humano, etc. e que favorecem o próprio mercado ao possibilitar o consumo.

Sobre o tal mercado, que deve ser agraciado e venerado a qualquer custo como um deus, é interessante como a sociedade assume e defende o discurso dos capitalistas como se fosse dela. Fala-se tanto que imposto é roubo, mas se esquece que é do dinheiro dos impostos, se bem aplicados, que vêm a educação, a saúde, a segurança pública, a assistência social, etc. Esquecem que uma redução de impostos não iria reduzir custos ou preços ao consumidor, mas aumentar o lucro dos patrões, como a história já vem confirmando.

Mas a cereja deste insosso bolo é a sociedade, aos aplausos, aceitar cortes de direitos, a precarização da educação e cortes em áreas essenciais, a falta de equipamentos na saúde, a falta de médicos, enfim, achar normal que todos façam seus sacrifícios, ao mesmo tempo em que certas castas preservam seus privilégios com o aval do povo e convencem a população de que privilegiados são aqueles que trabalham e ganham menos do que o DIEESE considera suficiente para atender às necessidades básicas de uma família. (R$ 4.277,00)

Prova disso, é que hoje, basta receber mais do que R$ 1.300,00 que perde o direito de receber o PIS / PASEP. Ou seja, ganhou mais de R$ 1300,00, considere-se privilegiado.

O discurso está tão invertido, que ter um emprego formal e ganhar um salário mínimo já entra nos discursos como privilégio, enquanto nada se menciona de um exército de políticos que ganham verdadeiras fortunas como salário/subsídio, além de adicionais que sequer imaginamos.

O discurso adotado é atacar as regalias, mas toda crítica e ação se volta contra os próprios trabalhadores. Talvez isto seja decorrência da sociedade ser bombardeada pela mídia, muitas vezes tendenciosa, talvez seja decorrência da própria cultura do brasileiro ou da própria estratégia historicamente adotada pelos políticos oferecer na teoria direitos, enquanto na prática, alimenta a massa com discursos ideológicos. Estratégia tão nítida, que até mesmo a educação, outrora vista como sagrada, começa a ser atingida sob os aplausos de muitos. (Sugiro aqui a leitura do que significa a Janela de Overton)

É hora da sociedade ser mais objetiva em suas críticas e deixar de tratar a política pautada na ideologia, na paixão partidária, deixando o fanatismo para os jogos de futebol. E até neste campo, sabemos que o fanatismo é negativo. Esta na hora da sociedade começar a entender quem faz parte da classe trabalhadora e quem faz parte da elite econômica que enriquece irrigada pelo sacrifício alheio. É hora da sociedade ter consciência de classe, de deixar de se levar por discursos fáceis que lhes prometem direitos sem fim e compreender a realidade com um pouco mais de objetividade e bom senso.


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