Os investimentos em Educação são suficientes ?

Refletindo uma opinião comum a diversas pessoas e segmentos da sociedade, um deputado e empresário da região publicou em uma das suas redes sociais uma crítica ao desempenho da Educação Brasileira, que se há de convirmos, foi sofrível na avaliação do PISA - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (2018).

Determinar quais as causas das notas ruins, especialmente quando se toma por parâmetro um único (PISA), é uma atividade complexa. Isso envolve N questões, inclusive, se tais testes padronizados permitem fazer tal avaliação qualitativa. Abre-se muita margem para subjetivismo. Portanto, definir o que causaram as notas ruins exigiria uma tese a parte, e talvez nem assim, se chegasse a uma conclusão, pois existem uma gama de fatores que podem influenciar nos resultados.

Além dos fatores subjetivos que afetam famílias, professores e alunos, há a questão estrutural, cultural, as desigualdades sociais, etc. E entre tantos fatores inter-relacionados, estão os investimentos (públicos ou privados). Investimentos não só em Educação, mas em Saúde, Segurança, entre outras áreas que afetam a vida da criança em idade escolar e que causam reflexo na relação ensino-aprendizagem.

Segundo o autor da postagem, o Brasil investe o suficiente em Educação, sendo assim, o problema não é a falta de recursos, mas a má aplicação deles.

Para chegar a esta conclusão, ele se vale de um comparativo de quanto os países membros da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) investem na Educação em relação ao PIB (Produto Interno Bruto), conforme imagem abaixo, da qual recortei a autoria, pois julgo, por questão de respeito, não ser relevante expor o autor do comentário que me inspirou a escrever sobre o tema.



Primeiramente, é preciso destacar que nem mesmo a Educação Privada, que tem liberdade e autonomia para investir quantitativa e qualitativamente, não obteve resultados significativamente melhores. Portanto, não se trata apenas de mau uso dos recursos públicos a resposta simplista a esta questão, como supõe o político e empresário.

Segundo, e mais importante, é que tal comparativo, utilizado por muitos como base de seus argumentos, e por isso acho importante contrapô-lo, tem um viés interpretativo. Comparar o investimento em relação ao PIB é esquecer que os EUA têm um PIB de 20 trilhões e o Brasil de 2 trilhões. Logo, mesmo que ambos os países investissem 6%, os EUA aplicariam 1 trilhão e 200 bilhões em Educação e o Brasil "apenas" 120 bilhões.

Resumindo, investimos menos que os "quebradinhos" do montante que os norte americanos investem e queremos resultados iguais ? E as outras questões influentes ? E as demais especificidades de cada país, de cada povo, de cada sistema de ensino ?

O lamentável é que na composição deste custo (ou melhor, do investimento em Educação), deveria estar a valorização dos professores e dos profissionais da educação. E valorização não se resume em salários, mas em formação continuada, possibilidades de ascensão profissional, estímulos para melhoria de produtividade (o que é produtividade em Educação ?), compensação por tempo de trabalho extra-jornada (o professor é professor quase 24 horas), estímulos para formação, pesquisa, aprimoramento, etc.

Valorizar o professor incluiu investir nele, mas também respeitá-lo, material e simbolicamente. De forma explícita e implícita. Hoje, condições de trabalho são mais extenuantes, as escolas estão sobrecarregadas, há diversas e novas demandas para as escolas e seus profissionais atenderem. Hoje os profissionais, mais do que nunca, apresentam sinais de sobrecarga, e neste sentido, não apenas os resultados escolares dos alunos, mas o absenteísmo, o adoecimento, a necessidade de medicações, os abalos psicológicos, etc. são indicadores a serem analisados.

E a necessidade de investimento em Educação, tem causas que vão além da Educação, mas da visão que os políticos têm das escolas, como responsáveis por abarcar e solucionar todos os problemas sociais atirados para dentro dos seus muros.

As instituições de ensino precisam contemplar em suas rotinas, além da grade curricular (que é um recorte do conhecimento considerado socialmente relevante) toda a série de problemas e questões sociais, culturais, socioeconômicas, de saúde, de assistencialismo, etc.

O Estado e seus órgãos, as políticas públicas e até mesmo as demandas da própria sociedade valem-se do facilitado acesso aos alunos e pais, da conveniência da estrutura e das pessoas (servidores) disponíveis no espaço escolar e incumbem estas instituições de atribuições que elas são incapazes de manter sem se sobrecarregar ou sem prejudicar a sua função nobre e essencial, que é ensinar. 

Ou seja, faltam recursos para o ensino, e apesar disso ainda se faz necessário utilizar recursos para as escolas atenderem áreas subjacentes à educação. Questões que poderiam ser enfrentadas por outras instituições ou áreas do serviço público (que de modo geral, cada vez mais está sendo enxugado, sob a falsa premissa de eficiência e de redução de custos).

Se os investimentos em educação fossem suficientes, não haveria, por exemplo, a necessidade das escolas solicitarem contribuições voluntárias e ainda "empreenderem", realizando festas, rifas, pasteladas, bazares, etc.. Seus profissionais e sua estrutura poderiam focar em atender aos alunos no que tange ao Ensino.

A escola no Brasil cumpre uma função muito maior do que ensinar, o que já um trabalho hercúleo. Porém, na hora da cobrança, inclusive por parte da sociedade, isto não é considerado. As escolas nunca atendem todas as expectativas que são lançadas sobre elas. Colocar a responsabilidade na Educação, sem olhar o contexto, é um discurso fácil e conveniente, mas raso, ingênuo ou até ardiloso.

Um comentário:

  1. Cobrar quelidade de uma estrutura sobrecarregada de funções que não são suas, é atitude comum de quem nunca esteve ou esqueceu o que é uma escola, o que é uma sala de aula.😤

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