Está na Bíblia: “assim, porque você é morno, não é frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca”. Apocalipse, 3:16.
Ou seja, trata-se de uma máxima, cuja uma das possíveis interpretações permite inferir que devemos nos posicionar, sair de cima do muro, agir, tomar partido. Porém, podemos ser bons ou maus, tomar partido pelo lado da ética, da responsabilidade, do respeito, da caridade e dos demais valores socialmente valorizados, ou ao contrário, podemos nos posicionar pelo lado do egoísmo, do benefício próprio a qualquer custo, da esperteza, podemos ser maus.
Será que religiosamente falando (e a religião reflete valores morais e sociais, e vice-versa), ser bom ou ser mau (quente ou frio) tem o mesmo peso qualitativo? Tomar uma posição extremista seria mais valorosa que buscar a conciliação, a razoabilidade, o meio termo morno?
Sidarta, o Buda, traz este ensinamento. Para ele, o controle exorbitante e excessivo é tão ruim e ineficaz em termos espirituais quanto a excessiva licenciosidade.
Não é o objetivo fazer uma interpretação religiosa de um versículo bíblico, o qual demanda profundos estudos contextuais, históricos, teológicos, linguísticos, semânticos, etc. Mas usar esta frase como ponto de partida para (clique para continuar) “filosofar” sobre a necessidade de equilíbrio em nossas vidas. Nem 8, nem 80.
O caminho do meio, em alguns casos, não teria seu valor ? O morno não seria mais agradável, aconchegante, seguro, que algo quente ou gélido ?
Se na vida formos extremamente passivos, resignados, submissos, seremos usados por muitos daqueles que estão em nosso convívio. Seremos vistos como ingênuos, tentarão nos explorar e tomar vantagem de diferentes formas, afinal, a realidade é dura, e as relações sociais, especialmente em ambientes competitivos como no trabalho, nos negócios, onde todos fazem o máximo para auferir benefícios individuais, é um verdadeiro jogo de xadrez em uma caixa de cobras. E não cabe aqui questionar a dimensão ética deste comportamento, afinal, trata-se, infelizmente, de um padrão de conduta adotado por grande parcela social.
Por outro lado, se formos extremamente reativos, impulsivos, enérgicos em exigir nossos direitos, teremos uma vida em eterno atrito com todos em nossa volta. O poder e o medo, a imposição, a agressividade assumirão o lugar do bom senso, da negociação, da concessão e do altruísmo. Passaremos a fazer parte daquela fração social que repete o mantra “é meu direito”, e assim exige até aquilo que não lhe cabe.
Segundo o site Olhar Budista, há momentos em que o melhor caminho é um meio-termo, pois entre o preto e o branco há muitos tons de cinza, mas também há momentos em que ou é preto ou é branco. Há que ter sabedoria e discernimento para perceber a melhor forma de agir e encontrar a medida e intensidade certa, o que implica em autoconhecimento, inteligência emocional, ou simplesmente, sabedoria.
Isso não significa que para tudo entre o quente e o frio tem de ser sempre o morno, que entre dois polos o meio é sempre o correto.
Mas isso também não significa que se deva dar sempre luz verde aos extremos. Ou seja, o equilíbrio não é um conceito estático. Um equilibrista na corda bamba ou mesmo um ciclista, se ficar inerte na mesma posição, cai. Ele precisa acompanhar as curvas, a força do vento, as oscilações da vida.
Emocionalmente, a analogia também se aplica. Vivemos uma época onde o conhecimento enciclopédico perdeu parte de seu valor, afinal, basta pegar o celular (sempre em mãos), acessar o Google, e todos nós teremos qualquer informação que quisermos. Ninguém mais monopoliza ou detém dados. Hoje o diferencial competitivo (por que não afastar esse termo, e dizer, o diferencial para conviver e para se desenvolver enquanto pessoa em seus múltiplos papeis: profissional, pessoal, familiar, etc), é o autoconhecimento, é a inteligência emocional, é o controle das emoções.
A falta de controle emocional traz uma série de problemas que afetam a vida pessoal, familiar, o trabalho, as relações no dia a dia, no trânsito, etc. E isso vai além do autodesenvolvimento volitivo, mas psicologicamente há a influência das instâncias psíquicas (ego, superego, id), dos traumas, do desenvolvimento infantil, e talvez até da genética. Mas esta análise foge do foco do texto e depende de conhecimentos científicos específicos da área.
No ambiente de trabalho, os impactos da falta de controle são mais visíveis, talvez por serem mais fartamente estudados e contarem com subsídios mensuráveis, como níveis de produtividade, absenteísmo, demissões, atritos, etc. Isso afeta não somente as relações entre os profissionais e suas chefias e colegas, mas entre eles e o público, tendo em vista que justamente pela falta de controle emocional, pela ideologia do “tenho direitos”, há muitos clientes exaltados, agressivos, que exigem do atendente uma dose extra de autocontrole para contornar as situações que se desenvolvem.
Além disso, o ambiente de trabalho não está isolado dos problemas e preocupações que afetam outras áreas da vida do trabalhador. Problemas conjugais, financeiros, familiares, doenças, entre tantos outros, afetam o indivíduo em sua totalidade. E não se trata de compartimentalizar o ser humano. Em essência, somos resultado da totalidade de tudo que vivenciamos. Trata-se apenas da necessidade de controlar as ansiedades em geral, traçar estratégias objetivas de solucionar os problemas no momento e da forma oportuna, no seu devido tempo e lugar simplesmente para evitar que vire uma “bola de neve”.
Até porque, mau humor é contagioso. Um ambiente profissional tenso, sujeito a comportamentos agressivos (deliberados ou implícitos), impede a produtividade e prejudica a saúde física e mental de todos que ali trabalham. Embora trabalhar, por si só, implica em resolver problemas.
Segundo o site https://franklincovey.com.br/blog/controle-emocional/, e o site https://vidasaudavel.einstein.br/como-diminuir-o-estresse/ há algumas estratégias que podem ser adotadas quando nos vemos tomados pelo estresse, para reduzir os impactos da situação.
Para aplicar isto, no entanto, temos que retomar o início do texto e relembrar a importância da Inteligência e do Controle Emocional. Retomar a importância do auto conhecimento. Só quando sabemos quais situações gatilho nos afetam mais, induzem a termos uma reação desproporcional, ou ao contrário, nos intimidam, nos colocam na passividade, é que podemos tomar as rédeas da situação e procurar racionalmente se desenvolver, melhorar, evoluir.
E tão importante quanto se conhecer, é afastar o sentimento de culpa. Afinal, somos seres humanos em contínuo desenvolvimento. São as experiências que nos moldam. E é a busca consciente pela melhoria (conceito relativo) que nos torna melhores que ontem, porém, nunca prontos, perfeitos, sábios.
Até porque, grande parte do que somos, de como nos vemos, é baseado nas impressões subjetivas que terceiros têm sobre nós. Mas somente nós podemos realmente nos conhecer.
Conforme citam os sites indicados acima, vejamos 7 dicas para combater ou prevenir o estresse e auxiliar na busca pelo controle emocional, pelo autoconhecimento e autodesenvolvimento.
1. O que fazer quando está estressado
Diante de uma situação de estresse, procure sair um pouco do local de conflito. Ou seja, reserve-se e escute uma música tranquila, busque pensar em outras coisas que o façam feliz. Isso o ajudará a acalmar os ânimos.
2. Ter o autoconhecimento
É fundamental parar um pouco para refletir e entender quais são suas potencialidades, crenças e características marcantes, além de ter conhecimento sobre os seus próprios limites. Além disso, é possível compreender os gatilhos mentais ou ambientais que mais lhe afetam e desenvolver estratégias para controlar as reações.
3. Aprender a lidar com sentimentos negativos
Ter sentimentos negativos (tristeza, rancor, raiva, inveja e frustração ) é algo que tende a gerar um grande impacto na vida das pessoas. É importante saber que não existe uma fórmula mágica para bloqueá-los. Entretanto, é possível controlá-las e evitar que se cristalizem ou se ampliem.
4. Respeitar seus limites
Respeitar os limites significa que você deve ter o entendimento de onde é o seu ponto de equilíbrio. Ou seja, o momento até onde é possível chegar em determinada situação específica. Respeitar os seus limites, é necessário ter o autoconhecimento dos sentimentos que o levam a tomar decisões ruins. Dessa forma, esse ponto é fundamental para que sejam evitados possíveis arrependimentos por ter falado algo em um momento de muita emoção e estresse.
5. Fazer exercícios físicos
Os exercícios físicos são uma ótima forma de controlar as emoções diante das situações do cotidiano. Eles ajudam a manter o equilíbrio entre a mente e o corpo e a sensação e bem estar. Além da questão física e de saúde, a prática regular de uma atividade física desenvolve a disciplina, a rotina, a interação social, etc.
6. Trabalhar a respiração
Quando tiver em um momento de estresse, busque se deslocar para um local reservado e faça uma meditação: esvazie seus pensamentos e inspire e expire o ar lentamente. Ao fazer isso de maneira contínua, você se sentirá mais calmo e preparado para encontrar as melhores soluções para os problemas que surgirem.
7. Alimente-se bem
A adoção de uma dieta equilibrada melhora a resposta do seu organismo ao estresse. Os alimentos com Ômega 3 beneficiam o funcionamento do sistema nervoso, combatendo o esgotamento mental.
No seu dia a dia, opte por alimentos saudáveis, como frutas, verduras, legumes, especialmente da época (mais nutritivos e mais baratos) reduzindo ou eliminando frituras, o açúcar, o excesso de sódio, industrializados, etc.. Procure fazer suas refeições nos horários certos para evitar a irritabilidade provocada pela fome. Coma com calma.
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