Mestrado diurno: a pós-graduação ainda vive no século XX

A pós-graduação stricto sensu no Brasil ainda carrega uma marca de exclusividade que já não condiz com o tempo em que vivemos.

O modelo tradicional, com aulas e atividades concentradas em turnos diurnos, parte da suposição cada vez mais distante da realidade: a de que o estudante de mestrado é alguém com disponibilidade integral, desvinculado de obrigações profissionais e familiares.

Na prática, isso exclui uma enorme parcela dos potenciais candidatos. Basta considerar as estatísticas que revelam que o Brasil tem record de trabalhadores graduados, segundo o G1. Sabemos também que a taxa de desemprego para quem tem ensino superior é a mais baixa. Portanto, são profissionais que desejam continuar estudando, mas que não podem simplesmente abrir mão de seu sustento para fazê-lo.

A equação é simples: ou trabalham, ou estudam. O mestrado diurno, nesse sentido, acaba se tornando um privilégio.

E aqui não se trata apenas dos professores que lecionam no período diurno e, por isso, não conseguem encaixar um mestrado em sua rotina. Falo também de engenheiros, jornalistas, advogados, enfermeiros, arquitetos, gestores públicos e privados, cientistas sociais... Todos enfrentam a mesma barreira: a falta de alternativas que conciliem o trabalho diurno com o desejo legítimo de avançar academicamente.

Enquanto isso, o valor simbólico da graduação mudou. Com a

expansão do ensino superior, especialmente via EAD, o diploma universitário tornou-se um passaporte básico para o mercado, não mais um diferencial competitivo.

Há vinte anos, ter uma graduação era distinção; hoje, é ponto de partida. E quando a base se massifica, o topo precisa se reinventar.

As especializações lato sensu, oferecidas amplamente em horários flexíveis e noturnos, já cumprem um papel relevante, mas limitado.

São instrumentos de atualização, não de produção de conhecimento novo. Já o mestrado, além de qualificar, é o espaço onde a prática encontra a pesquisa, onde a experiência de quem está no mercado gera reflexão teórica e inovação aplicada.

Negar a esses profissionais o acesso viável a essa etapa é desperdiçar um potencial imenso de desenvolvimento.

Investir em mestrados noturnos é, portanto, uma política de racionalidade e inclusão. Significa reconhecer que a ciência e a qualificação não pertencem a quem tem tempo livre, mas a quem tem vontade de crescer. Significa abrir as portas da universidade também àqueles que constroem o país durante o dia.

Os desafios são evidentes: contratar docentes para o turno noturno (já que muitos doutores que lecionam nos mestrados diurnos o fazem também na graduação noturna), ajustar rotinas de orientação, garantir infraestrutura adequada e bolsas específicas. Mas nada disso é impossível.

A pergunta que fica é: se depois do Ensino Fundamenta e Médio, a Universidade conseguiu oferecer Graduações e especializações lato sensu noturnas, não estaria na hora de incluir o stricto sensu no pacote?

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