Frases
de efeito, rasas e até preconceituosas, têm maior facilidade de se disseminar
no tecido social e influenciar a opinião pública do que informações
verdadeiras, porém, detalhadas, específicas ou relativas ao contexto, que
exigem análise e ponderação. E é valendo deste expediente, talvez até
antiético, que se pauta grande parte da estratégia político-partidária no
Brasil.
https://www.humorpolitico.com.br/ genildo/o-poder-relativo/ |
Criam-se
toda sorte de generalizações, constroem-se abstratamente figuras inexistentes
no mundo real, surgem inimigos imaginários. E enquanto a população se distrai
com temáticas ideológicas, debatendo os antagonismos como torcedores de
futebol, questões mais importantes são deixadas de lado.
Neste universo de
antagonismo, criam-se afirmações, até mesmo preconceituosas para simplificar e
construir uma realidade ilusória: todo político é corrupto, todo obeso come
demais, todo pobre é preguiçoso, todo rico lutou muito para ter o que possui,
todo servidor é displicente...
A própria sociedade, talvez pela força
do ego, pela necessidade de
defender uma posição e ser coerente a ela, mesmo percebendo o erro posteriormente, concorda em perder direitos e conquistas para pseudo integrar-se a uma classe a qual não pertence. É como, por exemplo, quando trabalhadores assalariados criticam uns aos outros e defendem a pauta dos patrões, dos grandes capitalistas, dos interesses políticos.
defender uma posição e ser coerente a ela, mesmo percebendo o erro posteriormente, concorda em perder direitos e conquistas para pseudo integrar-se a uma classe a qual não pertence. É como, por exemplo, quando trabalhadores assalariados criticam uns aos outros e defendem a pauta dos patrões, dos grandes capitalistas, dos interesses políticos.
http://carcara-ivab.blogspot.com/2016/03/a-flexibilizacao-dos-direitos.html |
Hoje, da Constituição, cujos valores as mais
altas autoridades fazem juramente de defender, resta muito pouco das garantias inicialmente
previstas e conquistadas sob duras penas. Direitos foram perdidos sob os aplausos do povo em nome de uma
meritocracia, de um ganho de eficiência, de uma redução de custos, da melhoria
dos serviços públicos fantasiosa, quando na prática, as condições de vida
somente pioraram. Enfim, conquistas construídas ao longo de séculos destruídas
com uma caneta.
https://www.assufrgs.org.br/2018/10/01/decreto- de-terceirizacao-no-servico-publico-abre-a- possibilidade-de-terceirizacao-das-atividades-do-pcctae/ |
E
neste carrossel, virou moda criticar generalizadamente aos servidores públicos como se todos
fossem privilegiados. Esquecem que há servidores nas três esferas de poder
(executivo, legislativo e judiciário, sendo este último, provavelmente com o
menor número de pessoas, porém, com os melhores salários). Esquecem que há
servidores federais, com planos de carreiras mais bem estruturados, sendo que a
maioria, que atua nos estados e principalmente nos municípios, com salários
equivalentes à média do mercado, exercendo atividades em condições mais
precárias e com menos estrutura. Estudos e pesquisas revelam que há alta discrepância entre as carreiras. Não se pode comparar altos cargos, com servidores de apoio, não se pode comparar a remuneração federal com a dos municípios e estados, onde estão a maioria dos servidores operacionais. Entre os poderes há também especificidades, sendo os do executivo os de menor remuneração. Mas o discurso pronto, raso e generalista sempre prevalece.
São os municípios que empregam o pessoal da
linha de frente, os professores, enfermeiros, entre tantos outros que exercem
sua função profissional abaixo de sol e chuva, diariamente, que atendem às
necessidades da população com uma dose de esforço extra para superar as
dificuldades estruturais e onde a remuneração é inferior e a ascensão na carreira é mais restrita.
Há
de se destacar ainda que servidores públicos, em geral, não têm FGTS, não têm
seguro desemprego, a tal estabilidade, tão criticada, é relativa (há inúmeras
possibilidades que o servidor pode ser demitido ou exonerado, basta ler a CF/88, a Lei de Responsabilidade Fiscal, os Códigos de Ética, Estatutos, etc.), cumprem ordens
de chefias, que em alguns casos, tem conotação política, não têm promoção na
carreira, por melhor que seja seu desempenho em nome dos princípios da
igualdade e legalidade. Enfim, insistem em comparar as condições de trabalho do
servidor público com os direitos e condições da iniciativa privada, sem considerar
as diferenças gritantes.
https://www.facebook.com/rankingdospoliticos/ photos/a.256607937790924/2061343807317319/?type=3&theater |
Sobre a estabilidade,
vista como empecilho para uma suposta redução dos gastos públicos, sem ela,
todo servidor ficaria a mercê do político em poder no momento. Ele não poderia
cumprir sua função com autonomia e legalidade, mas ser um mero serviçal para
cumprir ordens e interesses políticos. Correria o risco de ser demitido para
dar espaço aos comissionados, os quais, no atual momento, ocupam uma enormidade de
cargos e são muito melhor remunerados. Outra opção seria substitui-los por terceirizados ou por outras formas precárias de trabalho, nas quais o trabalhador ganha pouco, sem garantias, mas o Estado tem um custo maior para remunerar o empresário terceirizador. Ou seja, para supostamente reduzir gastos públicos,
tirariam trabalhadores que ganham pouco para dar lugar a indicados e ou
terceirizados que custariam mais. Sem mencionar as brechas para
irregularidades, acordos e as famosas “rachadinhas” que seriam abertas.
Quando um servidor reclama,
consideram que a função pública é uma vocação, esquecendo que ela é uma
atividade profissional remunerada. Esquecem que o servidor concursado passou
por um processo de seleção competitivo, aberto em igualdade de condições a todo
e qualquer cidadão que tenha dedicado esforços e tempo para se preparar. Quando
dizem que o cidadão paga o salário do servidor, esquecem que o próprio servidor
também é um pagador de impostos que são usufruídos por toda sociedade. Muitas vezes, sem ter filhos, ele paga
impostos que sustentam a escola pública, a avenida pavimentada que atrai
clientes nos comércios, a saúde, que muitas vezes ele não usa. Isso se chama
viver em sociedade e contribuir.
Por outro lado, ninguém
fala que no Brasil existem aproximadamente mais de 70 mil políticos,
considerando apenas os atualmente eleitos, todos ganhando subsídios elevados e
empregando uma série de assessores, indicando comissionados e gerando custos
com uma estrutura faraônica para atendê-los, que vai desde o cafezinho até às
viagens de avião, além dos diversos auxílios e indenizações.(leia o texto: onde estão as fontes de desperdício de recursos públicos)
Pode-se acrescentar a este
contexto que a classe política indica inúmeros comissionados, muitas vezes não
por competência ou experiência / currículo, mas por pura conveniência. Distribuem
cargos que pagam salários que cobririam
a remuneração de muitos servidores concursados qualificados em conjunto.
É lamentável que a
sociedade, aceitando estes chavões, ache justo cortar direitos para favorecer a
classe dominante que historicamente luta para manter seus privilégios. Enfim, é
trabalhador atacando trabalhador e seduzidos por uma ideologia da falsa
meritocracia e de valores hipócritas achem justo pessoas trabalharem 12, 14 ou
até 16 horas por dia, sem garantias, em nome da produtividade e do lucro que
fica concentrado na mão de poucos (vide o aumento da desigualdade no Brasil
atual), em uma relação oportuna somente ao capital. Enfim, a sociedade aceitou
como justo trabalhar em condições cada vez mais “flexíveis” até literalmente a
beira da morte.
http://5dias.net/2011/10/20/sobre-a-i nsustentabilidade-do-estado-social/ |
Interessante que toda esta
manipulação não ocorre de forma isolada: primeiro enfraqueceram sindicatos (se
a representatividade é ruim, é outra história e cabe aos representados escolher
melhor os líderes), depois atacam a Justiça do Trabalho, Normas de Segurança do
Trabalho são “flexibilizadas”, implanta-se o trabalho intermitente, tenta-se
cortar o PIS, tratando como privilegiado quem ganha 2 salários mínimos, terceiriza-se,
investe-se na informalidade ou na contratação de MEI, transformando até mesmo
entregadores ciclistas em pessoas jurídicas, ataca-se a saúde pública, a
educação vira instrumento do capital. Enfim, o Estado Democrático de Direito,
as conquistas sociais, tudo está sendo destruído irreversivelmente.
E nesta falsa meritocracia
que aumenta a desigualdade, faz-se o trabalhador pensar que integra a classe
dos donos do capital, de que os trabalhadores (como ele) são displicentes, e
como um câncer, a própria classe se digladia. Enquanto isto, os verdadeiros privilegiados
colecionam mais privilégios e o povo aplaude, critica, bate panelas, saúda
patos amarelos, curte memes e se informa via redes sociais...
Ressaltando que a maioria
dos pequenos empresários, produtos rurais, entre outros autônomos, embora não
sejam assalariados, são trabalhadores, enfrentam as dificuldades que a maioria
dos brasileiros enfrenta, mas pela vaidade ou pelo bom encadeamento do discurso
se isentam da classe a que pertencem. Como diz um amigo meu: "o cara tem um pequeno comércio, trabalha incansavelmente, mas se acha burguês e aplaude medidas que destroem a vida do pobre que é seu cliente e lhe garante a subsistência".
Acorda Brasil. Acorda
trabalhador, perceba a que classe você pertence. Se somos todos trabalhadores, unamo-nos !
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