Desde a minha época de estudante, sempre procurei cultivar um pensamento crítico. Essa postura foi amplamente estimulada pela sorte de ter tido bons professores de História, Geografia e Sociologia, aliada a uma vontade genuína e um interesse natural por esses assuntos.
Infelizmente, nos últimos tempos, essas disciplinas sofreram certo aviltamento, com sua importância sendo frequentemente menosprezada — o que enfraquece um de seus maiores propósitos: o exercício da cidadania.
Mais do que ninguém, defendo o senso crítico. No entanto, é essencial que a crítica seja bem fundamentada e o mais imparcial possível. Do contrário, transforma-se em mera reclamação vazia ou, pior ainda, em instrumento de defesa ou ataque político, abandonando a objetividade em nome de simpatias ou interesses particulares.
Nesse cenário, a internet tem desempenhado um papel ambíguo. Ao mesmo
tempo em que ampliou o acesso à informação e deu voz a diferentes segmentos da sociedade, também facilitou a mistura entre simpatias e antipatias pessoais com o que deveria ser o exercício responsável da cidadania e do controle social.Interesses políticos e emocionais muitas vezes se confundem com a análise racional dos fatos, criando bolhas de opinião e discursos polarizados, que dificultam o diálogo e obscurecem a realidade.
Muitos dos problemas que frequentemente criticamos não são exclusivos de uma gestão específica. São questões históricas. Alguns são estruturais e se manifestam em diferentes esferas do Estado, em todo o país. Outros estão enraizados na própria formação do Brasil.
A saúde pública é um exemplo emblemático. Na rede privada, mesmo pagando caro, nem sempre conseguimos vaga para o dia desejado. E quando conseguimos, é comum enfrentarmos atrasos, mesmo chegando no horário marcado. Como, então, exigir que o SUS — que atende a todos, sem nenhum tipo de filtro, inclusive o financeiro — consiga lidar com uma demanda variável e massiva com constância e pontualidade absolutas?
Se os médicos aceleram os atendimentos, surgem reclamações de que as consultas são rápidas demais. Se se propõe aumentar o número de profissionais, é necessário também ampliar a estrutura de apoio — o que encarece o sistema e pode torná-lo financeiramente insustentável. Em qualquer lugar do país e em qualquer tempo histórico, dificilmente haverá consultas imediatas disponíveis a todo momento.
É nesse ponto que a reflexão se aprofunda. Como já diziam pensadores como Max Weber (se não me engano, e não vou pesquisar agora :) ), a objetividade absoluta não existe.
Ao escolhermos um tema e uma forma de abordá-lo, já estamos exercendo nossa subjetividade. No entanto, isso não significa abandonar o compromisso com a verdade, com a justiça e com a imparcialidade — pelo contrário, é justamente por reconhecermos nossa tendência à subjetividade que devemos nos esforçar continuamente para sermos o mais justos e equilibrados possível em nossas palavras e avaliações.
E é neste sentido que a Educação precisa ser colocada no centro da equação. Talvez, se o foco em disciplinas como Geografia, História, Sociologia, Filosofia — entre outras — fosse ampliado, formaríamos uma geração de pessoas realmente mais críticas e conscientes, com fundamentos sólidos e visão coletiva. Com isso, os representantes políticos seriam um reflexo mais fiel de uma sociedade madura e esclarecida, e não apenas a repetição de velhas práticas e discursos.
Projetos escolares voltados ao exercício da cidadania, ao ensino do direito constitucional, da ética e da participação política consciente poderiam ser um bom começo. Não como conteúdos isolados, mas como práticas vividas e discutidas desde cedo. Porque só assim sairemos do ciclo repetitivo de apenas apontar as ineficiências do Estado, da classe política, e começaremos, de fato, a construir soluções — com lucidez, empatia e responsabilidade social.
Obviamente não se trata de "criticar a crítica", de aceitar a precariedade, de se conformar com o status quo, mas de fazer esta ação tão importante e necessária com fundamento e com foco no interesse social.
As escolas, poderiam trabalhar esta questão na forma de projetos, e não dependeria de recursos adicionais, pois são temas inseridos tranversalmente em muitas disciplinas. Caberia apenas dar o destaque e a repercussão devida e aliar a teoria com a prática cotidiana.
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