Um conto para a 10ª coletânea SESC: meu amigo boitatá

Texto classificado no Edital de Seleção de Contos Inéditos para a 10ª Coletânea Sesc de Contos Infantis. Livro lançado na 44ª Semana Literária SESC e Feira do Livro, em Curitiba, em agosto de 2025.

O folclore brasileiro: uma introdução

O folclore brasileiro é repleto e rico de lendas e mitos que permeiam a imaginação das pessoas. Soma-se a isso os resquícios de uma sociedade rural, a cultura indígena — muito relacionada com a mata e fenômenos naturais — e a forte crença místico-religiosa, mesclada à rica imaginação do povo brasileiro.

10ª Coletânea Sesc
de Contos Infantis
Assim, até hoje, os mitos e lendas permanecem vivos no nosso folclore e nas rodas de conversa. E, quando se trata dos famosos causos de assombração, a quaresma parece fertilizar ainda mais esse terreno de imaginação e misticismo.

Duas dessas lendas, muito comuns em nossa região, são a do lobisomem e a do boitatá, ambos conhecidos por serem criaturas sobrenaturais que “aparecem” em praticamente todas as regiões do país, com suas variantes. Enquanto o lobisomem é um ser que se transforma de humano em lobo durante as noites de lua cheia, o boitatá é descrito, na tradição Tupi, como uma cobra de fogo ou um facho cintilante que protege as florestas — embora, em algumas versões, derive da alma de pessoas ruins que cometeram certos pecados, como o adultério entre compadres e comadres.

Características culturais da região

Também é uma tradição e um traço cultural de nossa região o ofício das benzedeiras. Principalmente nas comunidades interioranas, essa figura fazia

Empreendedor: um conceito ideológico e enganador?

Nos últimos anos, tornou-se comum ouvir que “todos são empreendedores”. Do motorista de aplicativo ao vendedor ambulante, do microempreendedor individual ao trabalhador que presta serviços por demanda, a revendedora de cosmético, quem vende doces no sinal, etc. Todos passaram a carregar o título que, por muito tempo, foi reservado aos grandes capitalistas.

Trabalhadores informais e o mito do empreendedorismo

Não estamos discutindo a importância, valor ou nobreza do trabalho. A questão é o termo para designar estes trabalhadores, o qual passou por uma mudança.

Mas essa transformação semântica não é neutra. Pelo contrário, é um dos maiores golpes ideológicos contra a consciência de classe no mundo contemporâneo.

O economista Joseph Schumpeter, considerado um dos expoentes do liberalismo no século XX, já deixava claro em sua obra Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942) que o empreendedor era aquele que assumia riscos por meio da aplicação de capital. Em outras palavras, para Schumpeter, o empreendedor não era o trabalhador autônomo que luta para sobreviver, mas sim o capitalista que detinha os meios de produção e a capacidade de investir.

No entanto, no discurso contemporâneo

Meu 2º livro: Vozes do Verbo - um álbum de opiniões sobre tópicos regionais

O livro “Vozes do Verbo: um álbum de reflexões e opiniões sobre tópicos regionais” é o segundo livro lançado pelo autor, Haroldo José Andrade Mathias. O primeiro deles: “Fatores que impactam no processo de precificação” ( clique aqui para acessar a versão em PDF ou aqui para acessar o Flipbook) tratou de uma temática empresarial, e embora voltado para esta área, permeou entre os conceitos técnicos uma análise crítica e social sobre o papel empresarial, trazendo pontos de vista e um convite à reflexão sobre a função social das atividades produtivas.

O atual livro também manteve essa perspectiva de análise crítica, porém com um conteúdo mais abrangente. Este leque facilitou e praticamente impôs a necessidade de uma apreciação crítica e sistêmica dos fatos, na busca de uma visão dialética de tantos elementos distintos que se contrapõem e formam nosso contexto de vida.

Uma característica comum em ambos os livros é o fato de serem preparados em todas as suas etapas pelo próprio autor. Todo processo de escrita, de elaboração ou disposição dos elementos gráficos, revisão textual, diagramação, etc. foram feitos pelo próprio autor.

Embora neste processo amador, de busca de informações para solucionar as dúvidas, da falta de recursos técnicos ou profissionais, possam ficar falhas, o importante está além do resultado material, mas no aprendizado ocorrido neste processo de cumprir todas as etapas de produção.

Visando a máxima redução de custos, pois todas as despesas foram arcadas pelo autor, sem qualquer forma de financiamento ou patrocínio, poucos exemplares impressos serão produzidos. Porém, valendo-se dos recursos digitais disponíveis e acessíveis atualmente, se fará também gratuitamente a distribuição do material

Um convite à leitura do meu 1º livro: Reflexões sobre os fatores que impactam no processo de precificação

Por que elaborar um livro ?

Faça o download do material
ou
Clique aqui e acesse o Flipbook
A elaboração do trabalho em pauta: "Reflexões sobre os fatores que impactam no processo de precificação" consistiu em literalmente colocar no papel um um objetivo que alimento há vários anos, de publicar algo que talvez possa contribuir com determinada problemática social e materializar uma temática que desenvolvi durante minha trajetória acadêmica e que tem significativo impacto na realidade empresarial. O impulso decorreu de considerar relevante compartilhar as ideias que desenvolvemos, sejam elas fruto das experiências pessoais, da visão particular de mundo, do arcabouço teórico e intelectual que alicerçamos com as experiências, leituras e com as pessoas com as quais interagimos ao longo dos anos...

Compartilhar ideias, se expressar, satisfazer o gosto por pensar, escrever e repensar, foi o que me levou a criar este blog simples, esteticamente falho, mas eficaz em cumprir o objetivo: expressar ideias. Da mesma forma, como meio

Tradicionalismo gaúcho no Paraná

Estereótipo do gaúcho
https://blog.indumentariagaucha.com.br/site
Mesmo em Irati, uma cidade marcada pela presença de descendentes de imigrantes europeus (que povoaram os três estados do Sul, em suma) e de migrantes, especialmente do Rio Grande do Sul, (como muitas das cidades erigidas ou influenciadas pelo Tropeirismo), e mesmo considerando que temos um dos maiores rodeios crioulos do Brasil, perguntar se “existe gaúcho nascido no Paraná” pode parecer uma indagação muito estranha. Afinal, paranaenses são os habitantes do Paraná, e gaúchos, os habitantes do Rio Grande do Sul. 
 
Mas o fio que causa o enredo é que historicamente as coisas nem sempre foram assim.
 
O termo “gaúcho” se refere não somente a um povo, ou a um gentilício, mas a um modo de vida que antecede a atual divisão política dos estados. Aliás, tudo depende do contexto em que se aplica determinada palavra (eis a riqueza da Língua), sem mencionar ainda as influências culturais que não conhecem fronteiras, que se mesclam, se transformam, que originam outras manifestações, etc.
 
O texto que se segue buscou, a princípio, responder esta pergunta: Existe gaúcho nascido no Paraná?
Para tanto, esboçou como justificativa o fato de que uma das aplicações do termo "gaúcho" serviu historicamente como designação para os povos que habitavam a região dos pampas, não tendo nenhuma (Continua...)

Parque do Monge João Maria, em Rebouças, espaço de conscientização ambiental e saberes tradicionais

A dinâmica caótica, urbana e estressante da vida moderna trouxe e naturalizou nas relações sociais as visões de vida mais frias, individualistas, mediadas pela tecnologia. 

Foto do parque do Monge João Maria, em Rebouças
Hoje, pais e mães trabalham o dia todo, estendendo muitas vezes as jornadas para além de 08 horas diárias, dedicando sábados e domingos ao trabalho. As crianças, obrigatoriamente são encaminhadas às escolas aos 4 anos, porém, muito antes disso, por necessidade, muitos dos pais procuram Centros de Educação Infantil, onde as deixam o dia todo.

Após o expediente laboral, além das rotinas domésticas, do cuidado com a família e consigo, o trabalhador em regra precisa dedicar novamente tempo para o trabalho, ou seja, para se manter apto, qualificado, atraente para o mercado que descarta sem dó, fazendo cursos e atualizações, isto quando não precisa resolver questões trabalhistas fora do horário de expediente ou fica de sobreaviso.

O que resta para o lazer, para o descanso físico ? E me restrinjo ao descanso físico, porque o descanso mental é ainda uma questão mais delicada ante diversas preocupações e pressões que paulatinamente fomos aceitando como natural, como sinônimo de eficiência e de produtividade na busca pelo suposto crescimento meritocrático.

A falta de tempo tornou-se o mantra predominante. Os períodos de contemplação, descanso, lazer e de crescimento individual e espiritual, dentro de uma lógica produtivista, passaram a

Viva Irati, cidade Amada !

"Viva Irati, cidade Amada!”

Bandeira oficial do município de Irati PR
Irati, Irati, terra querida
De gente que sonha e que luta.
Povo hospitaleiro, alma destemida,
Que ergue a cidade com fé absoluta.

Abrigou pioneiros, imigrantes, gente de tantos locais,
E ainda hoje atrai migração,
Com comércio, indústria e belezas naturais.
Cidade amada, é polo da região, 
Agricultura forte e em expansão.

Polo de saúde, de cultura, de educação;
Cidade do

Fusos horários do Brasil

De acordo com a Lei 12.876, a partir do dia 10 de novembro de 2013 populações do Acre e parte do Amazonas voltam a conviver com duas horas a menos que Brasília, isto porque, anteriormente, o território brasileiro já era dividido em 4 fusos horários, passando a contar com 3 e retornando a ter 4 horários distintos.

Mas vamos entender como os horários são estabelecidos, suas decorrências e suas implicações ?


O movimento de rotação da Terra, ao receber a luz solar, produz a passagem dos dias e das noites, causando uma diferença de horário entre pontos da superfície terrestre posicionados a uma distância significativa um do outro, já que, a grosso modo, quando um hemisfério é iluminado pelo sol (dia), o outro não (noite). Para padronizar essa diferença foram criados os fusos horários

A padronização foi feita considerando-se que a Terra, vista de um dos pólos, é uma circunferência perfeita, com 360°. 


Os fusos horários, também denominados zonas horárias, foram estabelecidos através de uma convenção composta por representantes de 25 países em Washington, capital estadunidense, em 1884. Nessa ocasião foi elaborada a divisão do mundo em 24 fusos horários distintos.

Nosso planeta leva em torno de 24 horas (23 horas, 56 minutos e 4,09 segundos)  para dar uma volta completa ao redor do seu próprio eixo (movimento de rotação terrestre), sendo responsável pela variação diária na radiação solar, caracterizando os dias e as noites

Manifestação religiosa e cultural da Recomendação das Almas

Tratar atualmente sobre as práticas ou ofícios da religiosidade popular é voltar um olhar sobre manifestações religiosas e culturais que clamam por resgate, que se constituem em um fator de resistência ao moderno, marcado pelo desencantamento e com o enfraquecimento do misticismo e do mágico que outrora povoavam a imaginação, davam suporte às tradições tipicamente rurais, mesclavam-se com a religiosidade popular, fortaleciam os laços de comunidade e envolviam aspectos da cultura como um todo.

Entre estas práticas, está a Recomendação das Almas, que também com este desencantamento da quaresma e com a mudança de paradigmas sociais deixa de ter as bases para sua realização e sentido. As mudanças sociais, demográficas, tecnológicas, culturais, acabam transformando os hábitos de vida, os valores, as crenças e as tradições.

Enfim, ao alterar o território propício a determinada prática, ou em outras palavras, ao alterar as bases materiais de determinada manifestação, ela tende a ser afetada, muitas vezes, enfraquecida ou esvaziada de sentido. Ela deixa de ser uma prática do cotidiano, tornando-se em alguns casos uma tradição cultural (restrita a um nicho, como lembrança saudosista ou comemorativa) ou às vezes, por falta de registro e transmissão, nem isso.

O desencantamento da quaresma citado pode ser

A escassez de água e as contradições do modo capitalista de produção.

A crise hídrica não pode ser descontextualizada do modo de produção capitalista, tendo o Estado e a ação política o papel de mitigar as contradições da relação entre sociedade, natureza e capital.


Texto classificado no Concurso Foed Castro Chamma e disponível no site da ALACS 

www.superbac.com.br
Materializou-se a crise ambiental há tempos prevista; a água, outrora tida como abundante, importante não apenas economicamente, mas também fisiologicamente para os seres vivos, enfim foi reconhecida como um líquido precioso. Enfatiza-se que os problemas ambientais são provocados ou potencializados pela ação antrópica. Ou seja, pela atividade humana de uma população crescente e que demanda cada vez mais recursos.

Esta visão simplista carrega uma ideologia ardilosa, pois além de destacar a necessidade social de conscientização no uso dos recursos naturais, entre eles, a água, também considera a população como causadora da crise, resumindo a questão como decorrente da existência de um excedente populacional que consome além da disponibilidade de recursos, reproduzindo uma ultrapassada explicação malthusiana para a escassez, despolitizando a questão e afastando dela suas relações com os aspectos sociais e econômicos. Basta exemplificar como a pobreza de significativa parcela da população do sertão nordestino é naturalizada como decorrente dos “problemas ambientais” da região, ignorando todo o contexto social, político e econômico.

A contradição é que enquanto se responsabiliza a população, justificando que ela suporte os diversos custos sociais e econômicos, o consumo crescente e o desperdício direto ou indireto são incentivados pelo

Homenagem ao Município de Rebouças - PR

Enquanto no Uruguai, em 1930, ocorria a primeira Copa do Mundo,
Em 21 de setembro quem ganhou a taça foi o povo de um lugar fecundo.
Neste dia, ocorreu a instalação de Rebouças, amado município.
Tudo se iniciou no Butiazal, tomaremos este marco como princípio.

Foto de pontos interessantes da cidade de Rebouças Paraná

Mas com o progresso, impulsionado pela erva-mate, madeira e pela ferrovia,
Às margens dos trilhos frios um distrito se erguia.
Ao Engenheiro Antônio Rebouças uma justa homenagem foi declarada,
Reconhecimento de sua importância e dos legados de sua empreitada.

Como pequena cidade do interior, em Rebouças todos se conhecem,
Percalços às vezes surgem, é a vida, mas as amizades permanecem.
Indígena, imigrante europeu, oriental, africano, todos irmanados,
Terra de pronta acolhida, onde muitos sonhos são plantados.

Onde amizades florescem, encontros acontecem,
E nesta fonte de amor, florescem famílias, seus filhos crescem.
E na combinação de sobrenomes, frutos de tantas sementes,
Surgem novas histórias e a cidade ganha presentes.

Tanta gente, tanta história, uma só cidade.
Vieiras, Rodeio, Estiva, Serrinha...

Agropecuária no Brasil e no Mundo: Origem da Agricultura e Sistemas Agrícolas

O que é Agropecuária ?

Reúne os substantivos:  “agricultura”+“pecuária”.
É a área do setor primário responsável pela produção de bens de consumo, mediante o cultivo de plantas e da criação de animais como gado para leite e corte (bovino, suíno, caprino, ovino), aves entre outros.
De longa data a agropecuária apresenta relevante destaque no cenário da economia nacional. Historicamente, foi uma das primeiras atividades econômicas a serem desenvolvidas no país. A ocupação do território, por exemplo, teve forte influência da produção de cana-de-açúcar, posteriormente do café e, por fim, da pecuária, que conduziu o povoamento do interior do país.
A atividade agropecuária no Brasil representa 8% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro e gera emprego para pelo menos 10% da população economicamente ativa do país. 

Como surgiu a Agricultura ?

A palavra agricultura significa “cultivo dos campos”. A palavra "agricultura" vem do latim, composta por ager (campo, território) e cultūra (cultivo), no sentido estrito de cultivo do solo.
Agricultura é o conjunto de técnicas utilizadas para cultivar plantas com o objetivo de obter alimentos, fibras, energia, matéria-prima para roupas, construções, medicamentos, ferramentas, etc.
Em português, a palavra "agricultura" manteve este sentido estrito e refere-se exclusivamente ao cultivo dos campos, ou seja, relaciona-se à produção de vegetais. No entanto, em inglês, assim como em francês, a palavra "agriculture" indica de maneira mais genérica as atividades agrícolas tanto de cultivo dos campos quanto de criação de animais.
O início das atividades agrícolas separa o período

Pago imposto, tenho direito: um discurso individualista e distorcido sobre a cidadania

Nos debates cotidianos sobre gestão pública, é comum ouvir afirmações como “posso reclamar porque pago imposto” ou “sou patrão do servidor público”. Este tipo de discurso, embora muitas vezes impulsionado por uma legítima frustração, é em sua essência uma simplificação grosseira da realidade tributária, social, econômica, legal e do funcionamento do Estado.

Debate público sobre impostos e cidadania
Discursos simplistas sobre impostos e cidadania

Demonstra que apenas deixamos nos levar por "discursos de bodega", sem fundamentos, sem compreensão mais profunda da realidade, sem empatia ou abertura para entender o contexto sobre outras perspectivas. Ou, às vezes, e o que é pior, não se trata de ignorância ou ingenuidade, atributos que todos nós temos em certas áreas diante da impossibilidade material de entender de tudo, mas de intencionalidade. Às vezes há intenção neste discurso invertido, vontade de manipular, polemizar, de se beneficiar, especialmente para fins politiqueiros. E alguns caem neste conto do vigário.

Este discurso revela

Uma jornada pelos caminhos de Irati: história, cultura e homenagem através dos nomes das ruas

Ao ler o livro Historicidade, de Dagoberto Waydzik, o qual traz interessantes histórias e relatos sobre os bairros de Irati, senti-me motivado a condensar em uma postagem uma curiosidade a respeito da denominação temática das ruas de alguns destes lugares.

O presente texto não tem caráter reflexivo ou dissertativo, mas puramente informacional e de curiosidade. Até porque, não poderia deixar de mencionar que para  quem tiver o interesse de maiores detalhes, a obra inspiradora supracitada aborda aspectos históricos da formação do município e de seus bairros, cita os primeiros moradores e desbravadores, as ações empreendedores e as políticas públicas que transformaram o espaço geográfico do município, forjaram sua cultura, sua estrutura e solidificaram as bases para seu posicionamento social, econômico, político e cultural da atualidade.

Recomendo esta valiosa leitura, a qual é a base para a compreensão atual de nossa cidade, um material informativo, literário, histórico, cultural, cívico e até mesmo pedagógico que necessita ser apreciado. 

A cidade de Irati - Paraná, em geral, tem as ruas de seus bairros com...(continue lendo)

Valorizar o professor não é blindá-lo da responsabilidade por mudanças.

"Valorizar o professor não é blindá-lo da responsabilidade por mudanças.”

Professores desmotivados abandonando a sala de aula
Fonte: Projeto Colabora

Historicamente a imagem cristalizada do professor foi a do sofredor, da profissão penosa, às vezes do vocacionado, outras vezes, do quase mártir. Enfim, um profissional mal pago, sobrecarregado, abandonado pelo Estado e pela sociedade.

Essa narrativa ainda circula com força nos discursos públicos, sindicais e acadêmicos, e sobretudo nas salas de professores; mas talvez esteja na hora de confrontarmos essa visão sob nova luz: com dados, contexto, exemplos e, sobretudo, coragem de questionar esse discurso quase bíblico.

⏳ De charrete à era digital: o salto estrutural da profissão

Até o início dos anos 1980 (uso este marco temporal para me valer da experiência pessoal), a docência, especialmente nos municípios interioranos, era de fato uma

Urbanização brasileira

CONTEXTO E DELIMITAÇÃO DO TEMA

Considerando que os conteúdos referentes à industrialização brasileiras foram trabalhados e já assimilados pelos alunos, é possível, a partir das relações existentes entre as duas temáticas, adentrar no processo de urbanização brasileira.

Considerando que a "ocupação" do território brasileiro pelos portugueses (e posteriormente por outros países europeus) se deu, historicamente, a partir do litoral, onde também se desenvolveu a cultura da cana de açúcar, e com ela a implantação dos engenhos e outras infraestruturas, é um marco adequado para iniciar a explicação desse processo histórico.

Com a abertura de novas possibilidades de exploração econômica, a ocupação foi se ampliando no sentido leste-oeste. A exploração do ouro também contribuiu para a ocupação do

Caminhadas na Natureza: A Nova Tendência que alia desenvolvimento rural e qualidade de vida

CAMINHADAS NA NATUREZA: A NOVA TENDÊNCIA QUE ALIA DESENVOLVIMENTO RURAL E QUALIDADE DE VIDA.

 As ruas das cidades estão cada vez mais movimentadas, mas não é apenas o trânsito de veículos e a correria urbano-produtivista que vêm crescendo nos últimos anos. A circulação de pessoas está maior, mas não é apenas em deslocamentos a pé para o trabalho ou ao mercado. A população urbana tem abraçado com vigor o hábito das atividades físicas, ocupando academias, praças, parques, clubes, e até as ruas e estradas, ganhando destaque as caminhadas.

E percebe-se que esta atividade se destaca e se torna mais prazerosa ao ser realizada ao ar livre, especialmente em grupos, consistindo não apenas na prática pura de um exercício físico, mas combinando-se com momentos de lazer, de interação social, de relaxamento e de apreciação das paisagens.

É um contraponto ao acelerado ritmo de vida, ao uso intensivo de veículos e demais meios de transporte para poupar tempo, ao crescimento dos centros urbanos, onde se destaca o cinza e a dureza do concreto, e ao uso constante de telas em nosso dia a dia.

Em paralelo, verifica-se, além da busca crescente por estes momentos de atividade física, uma demanda por ambientes naturais, por maior contato com a natureza (embora ela esteja em toda parte, até em nós), pelo maior contato com o rural, por contemplar as paisagens naturais, desacelerar, conhecer novas culturas e hábitos de vida.

Embora caminhar seja uma das

O velho matadouro municipal de Rebouças - PR

"O velho matadouro municipal de Rebouças - PR”

O crescimento e a modernização da cidade, a expansão dos bairros de modo geral, bem como a construção do Fórum Eleitoral, foram fatores que trouxeram, juntamente com o investimento na revitalização, uma nova estética à Praça do Expedicionário, localizada próxima ao Ginásio de Esportes Camilão e ao Centro Cultural, em Rebouças – PR.

Apesar das melhorias e das mudanças, às vezes, na correria do dia a dia, e com os deslocamentos realizados preponderantemente dentro de veículos, característica da vida urbana apressada, não percebemos a cidade e não nos damos conta da atratividade de seus espaços de vivência, tampouco das marcas históricas que revelam o passado de nossa terra.

Uma construção antiga, parte da história do

O desafio do pensamento crítico

Desde a minha época de estudante, sempre procurei cultivar um pensamento crítico. Essa postura foi amplamente estimulada pela sorte de ter tido bons professores de História, Geografia e Sociologia, aliada a uma vontade genuína e um interesse natural por esses assuntos.

Infelizmente, nos últimos tempos, essas disciplinas sofreram certo aviltamento, com sua importância sendo frequentemente menosprezada — o que enfraquece um de seus maiores propósitos: o exercício da cidadania.

Mais do que ninguém, defendo o senso crítico. No entanto, é essencial que a crítica seja bem fundamentada e o mais imparcial possível. Do contrário, transforma-se em mera reclamação vazia ou, pior ainda, em instrumento de defesa ou ataque político, abandonando a objetividade em nome de simpatias ou interesses particulares.

Nesse cenário, a internet tem desempenhado um papel ambíguo. Ao mesmo

A ocupação residencial das beiras de rios e fundos de vales urbanos e a destruição das matas ciliares

Sabe-se que a taxa de urbanização no Brasil cresceu muito nos últimos anos. O êxodo rural e suas causas, mudanças demográficas, disponibilidade de serviços, de lazer, oferta de trabalho, de oportunidades, entre diversos outros fatores relacionados exerceram forte impacto na atração de pessoas para as áreas urbanas.

Por volta de 1970 houve a chamada transição demográfica, quando a maioria da população deixou de viver na área rural e passou a habitar nas áreas urbanas.

Porém, as áreas urbanas não estavam preparadas para atender ao crescente número de famílias e habitações, especialmente as áreas periféricas, em geral carentes de planejamento e infraestrutura. Muitas se formaram, inclusive, decorrentes de ocupações irregulares ou em áreas de risco.

A consciência ecológica também não era tão vívida e os reflexos negativos do mau uso dos recursos naturais não eram tão evidentes.

Enfim, o processo histórico da época permitiu que

SUS: acesso universal e gratuito !

Estes dias, em um grupo político de Whatsapp, discutia-se sobre a saúde pública de minha cidade. Uma característica destes grupos abertos é a predominância de opiniões baseadas em preferências políticas, sendo menor a proporção de comentários fundamentados em dados.

Imagem ilustrativa sobre discussão política e saúde pública Sendo assim, para quem é oposição, geralmente nada agrada. E os problemas estruturais, históricos ou de gestões passadas são esquecidos. O oposto também é verdadeiro!

E entre os comentários, um me chamou a atenção. Alguém disse: “Como vi no Todo Mundo Odeia o Chris, existe a demanda e a procura, só que infelizmente, neste caso, mesmo com o valor sendo menor, é quase impossível quem leva um filho na UBS levar no particular.”

Isso porque determinada clínica fez uma publicidade de que está oferecendo consultas com preço reduzido sob a justificativa da

O direito ao descanso do trabalhador e a face divisionista da classe trabalhadora

Em tempos de polarizações e discursos rasos, maniqueístas, ideológicos e produtivistas, o servidor público também tem se tornado alvo constante de críticas, especialmente quando se aproxima algum feriado prolongado. Mas não somente nestes casos...

Servidor público e críticas sociais

Imediatamente surgem nas redes sociais e nos meios de comunicação uma série de ataques, insinuações e descontentamentos, frequentemente pautados por uma visão distorcida da

Trabalho e identidade: um contexto de despersonificação.

O conceito de alienação do trabalho, conforme Marx, é talvez um dos mais importantes e mais intensamente explorado na análise das relações de produção capitalistas.

Segundo ele, o trabalho, que deveria ser um ato de identificação do ser humano, de transformação da natureza segundo a intenção e a pessoalidade de cada indivíduo, por natureza criador, torna-se alienante dentro do sistema capitalista.

O trabalhador, ao ser reduzido a um mero apêndice da máquina, como citam ipsis litteris desde livros didáticos a artigos, se vê cada vez mais distante daquilo

A inteligência artificial e a palavra escrita: a delegação da essência humana às máquinas ?

Nos últimos anos, a ascensão das inteligências artificiais (I.A.) na produção textual tem levantado debates profundos sobre a essência da escrita e o papel do autor no mundo contemporâneo. Já não se trata apenas de um avanço tecnológico, mas de uma transformação que desafia a própria noção de autoria e autenticidade.

Em meio a esse cenário, surge um questionamento inevitável: até que ponto um texto gerado por I.A. pode representar o pensamento, a emoção e a identidade de quem escreve, ou mais, retratar a concepção subjetiva sobre os fenômenos, sobretudo sociais e humanos?

A escrita sempre foi mais do que um simples arranjo de palavras. Ela é uma forma de expressão, um meio pelo qual um autor se comunica com o mundo, organiza seu pensamento e deixa sua marca.

A história está repleta de escritores que transformaram a sociedade com suas ideias, não por causa (somente) da coerência e gramática impecável de seus textos, mas pelo modo como suas palavras refletiam suas experiências, angústias e visões de mundo. Com retratavam criticamente, às vezes de forma explícita, outras vezes, nas entrelinhas, as questões sociais, as injustiças, faziam resistência às opressões, expressavam seu amor, seus valores, seu eu. A inteligência artificial, por mais sofisticada que seja, carece desse elemento humano fundamental: a subjetividade.

É certo que a I.A. pode ser uma ferramenta útil, especialmente no jornalismo e no marketing, onde há a necessidade de produzir conteúdos rápidos e objetivos. Muitos veículos de comunicação já utilizam

Árabes, muçulmanos, sírios, turcos e outros povos do oriente médio

É comum nas conversas diárias haver uma confusão entre quem são os árabes, os turcos, os muçulmanos, os sunitas, os afegãos, os sírios, os libaneses, etc.

Em nossa região (Paraná), por exemplo, onde famílias sírias e libanesas se instalaram no final do Século XIX e início do Século XX, é comum generalizações que as tratam todos como sendo turcas.

Recentemente, com a crise e a disputa de poder no Afeganistão por grupos extremistas, mais termos engrossaram este caldo de confusão, como xiitas, sunitas, talibãs, afegãos, etc. Sendo assim, torna-se oportuno trazer uma breve descrição e desambiguação destes termos. Uma das generalizações mais recorrentes é tratar todos os povos do Oriente Médio como árabes, e tratar todos os árabes como muçulmanos.

Primeiramente, é preciso distinguir a etnia da questão religiosa (embora a religião possa ser um traço marcante da etnia).

Árabes e turcos, por exemplo, pertencem a um grupo étnico distinto, diga-se de passagem. Mas tanto turcos quanto árabes podem ser

Caminhar: Entre a Conexão e a mercantilização, entre o eu e o outro

Caminhar: Entre a Conexão e a mercantilização, entre o eu e o outro.

Seja em grupo ou sozinho, este simples gesto oferece experiências que vão muito além do exercício físico: é um momento de contemplação, saúde, introspecção e encontro com o mundo natural, de certa forma tão distante do nosso dia a dia cercado de telas, buzinas, motores, paredes...



No entanto, à medida que o lazer e as práticas ao ar livre se tornaram tendências e atraem muitos adeptos, o caminhar — especialmente em ambientes naturais — passou a ser objeto de mercantilização, revelando contradições entre o propósito de conexão, contemplação, e o consumo que o cerca e a competição, muitas vezes implícita, nos eventos.

Caminhar em grupo tem inegáveis benefícios. Há a troca de

Homenagem à escola Antonina Fillus Panka

Por ocasião do dia do professor em 2024, a Escola Municipal Padre Wenceslau ficou incumbida, no cronograma de atividades propostas pela Secretaria de Educação, de homenagear os docentes da Escola Antonina Fillus Panka, na Vila Nova, em Irati - PR.

Junto às demais atividades, surgiu a ideia de compor uma poesia livre (sem rigor quanto às regras literárias), que homenageasse ao mesmo tempo a escola, a personagem histórica que a nomeia e que é um exemplo de trabalho docente, a iratiense Antonina Fillus Panka, e junto, reconhecer também o importante trabalho docente e saudar todos os professores.

O texto foi elaborado por Haroldo J Andrade Mathias, com base nas informações da reportagem "Nova escola Antonina Fillus Panka é inaugurada em Irati" do Portal Irati (www.portalirati.com.br).

Homenagem à escola Antonina Fillus Panka

Em Irati, uma luz se levanta
Antonina, uma história a exaltar
Um exemplo que inspira e encanta
Gente daqui, com dom de ensinar.

Foi morar em Curitiba enquanto adolescente,
Aprender para depois ensinar.
Freira era o desejo da mãe a inspirar,
Mas mais forte foi o

Desigualdades urbanas: a alocação de recursos públicos e a sonegação empresarial (com base em Milton Santos)

A análise da cidade e suas dinâmicas sociais e espaciais tem sido um foco crucial de discussão entre renomados geógrafos e sociólogos. Milton Santos é um dos autores que oferece perspectivas profundas sobre o tema, abordando a desigualdade, os espaços de exclusão e de resistência no urbano brasileiro.

Milton Santos foi um geógrafo, amplamente reconhecido por suas contribuições na Geografia Urbana. Sua obra é caracterizada por uma análise crítica da cidade e da espacialidade, refletindo sobre as desigualdades sociais e econômicas que se manifestam no espaço urbano, que para ele, não é somente o lócus onde ocorrem tais fenômenos, mas percebe o espaço geográfico como produto das relações sociais e econômicas.

Milton Santos destaca a desigualdade como um dos pilares na compreensão da cidade. Em sua

A avaliação da qualidade do serviço público sob a ótica da iniciativa privada distorce a responsabilidade da classe política

A recorrente e rasa comparação entre os setores público e privado, muitas vezes, ignora as peculiaridades intrínsecas que distinguem estas duas esferas.

Enquanto as empresas privadas têm como objetivo principal a obtenção de lucro, as entidades públicas devem estar comprometidas com o atendimento das necessidades sociais, baseando-se no supra princípio da supremacia do interesse público. Este contraste afeta profundamente todas as relações institucionais. Um exemplo claro é a forma de contratação de pessoal, onde o concurso público é a ferramenta que visa garantir a isonomia e a justiça no acesso, evitando práticas como o apadrinhamento e as perseguições políticas. É o meio mais objetivo e transparente de acesso ao trabalho.

As empresas privadas operam em um ambiente onde tudo o que não é explicitamente proibido é permitido. Esta flexibilidade permite que elas inovem, arrisquem e até mesmo em alguns casos, cometam deslizes como a sonegação fiscal, buscando maximizar seus lucros. Dados do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário) apontam que a sonegação empresarial é maior que os orçamentos da Saúde e Educação somados.

Em contrapartida, as instituições públicas estão estritamente limitadas àquilo que a lei autoriza, seguindo procedimentos muitas vezes morosos, é verdade, mas necessários para garantir

Capitalismo e Globalização: Um conceito inicial

O presente texto trará uma abordagem inicial sobre o que é Globalização, sua origem histórica e os principais   aspectos sob a perspectiva econômica.


GLOBALIZAÇÃO: UM CONCEITO INICIAL

A globalização é um dos processos de aprofundamento da integração econômica, social, cultural, política, que teria sido impulsionado pelo barateamento dos meios de transporte e comunicação dos países no final do século XX e início do século XXI. É um fenômeno gerado pela necessidade da dinâmica do capitalismo de formar uma aldeia global que permita maiores mercados para os países centrais (ditos desenvolvidos) cujos mercados internos já estão saturados. Mantém forte relação com os avanços nas áreas de transporte e de telecomunicações.

Os norte-americanos (EUA) usam a expressão globalização, os franceses preferem mundialização e em outras sociedades a expressão usada é internacionalização. O fenômeno da globalização resulta de três aspectos ou forças: a revolução tecnológica, a interdependência dos mercados financeiros em escala planetária e a formação de áreas de livre comércio

VISÃO HISTÓRICA. Quando surgiu a globalização? 

Estudiosos defendem que a origem da globalização remonta à segunda metade do século XIX, aproximadamente, quando as grandes economias capitalistas iniciaram a primeira grande onda de investimentos no exterior, inaugurando o que se chamou de

O mito da sustentabilidade dos carros elétricos

Nos últimos anos, o carro elétrico tem sido amplamente apresentado como uma alternativa sustentável aos veículos abastecidos com combustíveis fósseis. Essa visão é reforçada por uma série de campanhas de marketing que destacam os benefícios ambientais dos carros elétricos, principalmente em termos de redução de emissões de poluentes. Ganha destaque ainda em época de elevação no preço do petróleo, por exemplo.

Contudo, ao analisarmos essa questão sob a viés da sustentabilidade e dos impactos socioambientais, é necessário ponderar sobre os verdadeiros impactos dessa tecnologia, benefícios e desvantagens ou lacunas, revelando que a sustentabilidade dos carros elétricos é, em muitos aspectos, um mito. Ou na melhor das hipóteses, supervalorizada.

É inegável que os carros elétricos não utilizam combustíveis fósseis diretamente, o que os torna uma opção menos poluente em termos de emissão de gases do efeito estufa ou com outros potenciais poluentes. Porém, esse

Mapa mental dos setores da economia

Cada pessoa é diferente e disso não há dúvida. Em assuntos escolares, cada pessoa também tem suas disciplinas favoritas, seu professor favorito, e isso, geralmente, influencia no melhor ou pior aprendizado.

Mas por que isso ocorre ? Alguns alunos preferem aulas expositivas; outros preferem ver, aproveitando melhor exposições gráficas, filmes, etc.; e outros anotar... E há matérias que favorecem determinado tipo de abordagem, da mesma forma, tem professores que optam mais por uma forma do que por outra de repassar o conteúdo.

O ideal é combinar as diversas possibilidades de exposição / assimilação. Sendo assim, fala-se muito nos estilos de aprendizagem, os quais são, grosso modo: o auditivo, o visual e o sinestésico.

Aqueles que tiverem interesse em saber mais sobre os estilos de aprendizagem, podem visitar o site Lendo.Org (clicando aqui), onde encontrarão um infográfico muito bem elaborado e explicativo sobre o assunto.

Ninguém é puramente um ou outro, mas geralmente, temos uma forma com a qual encontramos maior facilidade de aprender. E quando alguém, no caso, o professor, usa desta forma, aprendemos melhor, e tendemos a gostar daquilo que temos facilidade.

Neste sentido, surgiu a ideia de repassar um dos conteúdos de Geografia: “Os setores da economia”, sob a forma de mapas mentais. Creio que essa forma de exposição facilitará a compreensão por parte dos alunos que tem o estilo visual de aprendizagem. 

Diversidade: Um Caminho para uma Sociedade Mais Justa e Inclusiva

No palco da vida, a diversidade é a peça central que confere riqueza e profundidade à existência humana. Somos resultado de genes, identidades, famílias, culturas, habilidades e experiências diversas. Cada um de nós é único, embora teoricamente sejamos iguais.

Um paradoxo que facilmente se resolve com bom senso, com respeito e com empatia. Somos únicos em nossa individualidade, mas iguais enquanto seres humanos e enquanto sujeitos de direitos e obrigações, embora as próprias leis devam, para efetivamente promover a justiça, considerar as desigualdades e promover uma sociedade justa e inclusiva.

No entanto, essa diversidade muitas vezes é obscurecida pelas sombras da discriminação e da desigualdade, que persistem em nossa sociedade.

E a diversidade é um tema ampla e complexo, pois pode ser analisada sob diferentes perspectivas. Há a diversidade social, cuja análise revela as desigualdades socioeconômicas, derivadas do processo histórico de formação social, da formação nacional, do sistema político e econômico. Inclui-se ainda a diversidade (e a desigualdade) de raça, de gênero, religiosa, etc. 

Podemos ainda falar da

O Processo Migratório no Brasil: um resumo sob a perspectiva geográfica e econômica

A história do Brasil é marcada por um rico e complexo processo imigratório que moldou profundamente sua sociedade, cultura e economia, além dos deslocamentos internos de pessoas, a chamada migração.

Ou seja, além da entrada de um contingente enorme de pessoas de diversas nacionalidades e culturas, em diferentes épocas, com diferentes objetivos, se assentando em diferentes regiões, cada uma delas com suas características naturais, que acabaram refletindo no modo de vida, é forte ainda os reflexos dos processos migratórios internos na dinâmica populacional, econômica e sociocultural.

A migração no Brasil pode ser compreendida tanto geograficamente, considerando as diferentes regiões do país, quanto cronologicamente, relacionando as migrações aos ciclos econômicos que influenciaram esses movimentos populacionais.

Neste texto, se esboçada uma reflexão sobre estas duas dimensões, destacando os principais fluxos migratórios em cada região e sua relação com os diferentes momentos econômicos do país, e por fim, relacionando este contexto com os “resultados” econômicos e sociais principalmente.

Obviamente, serão abordados alguns fluxos migratórios históricos mais relevantes. Ao longo de toda história humana a migração foi uma constante e uma mola propulsora de inúmeras e variadas mudanças sociais, econômicas, culturais, etc. E até hoje, em maior ou menor intensidade, estes processos ocorrem em suas diferentes escalas, conforme os fatores de atração e repulsão populacional se alteram.

https://cursoenemgratuito.com.br/migracoes-internas-no-brasil/



Migrações nas Regiões Brasileiras

Região Norte

A região Norte do Brasil apresenta uma dinâmica migratória peculiar, caracterizada por fluxos internos e internacionais. A migração internacional na região tem sido influenciada principalmente pela

O acesso à moradia nos municípios da mesorregião sudeste paranaense

Política à parte, embora ela permeie praticamente tudo, os dados econômicos e sociais mostram que para boa parte da população, as condições de vida tiveram melhorias, com alguns avanços sociais e econômicos, como na expectativa de vida, acesso à saúde, no nível de escolarização, etc. Porém, a desigualdade social permanece enorme. E se levarmos em conta os anos próximos ao período pandêmico, tivemos retrocessos, inclusive com o retorno do país ao chamado mapa da fome.

Se buscarmos as estatísticas, veremos que nesta fase, o desemprego aumentou em níveis recordes, havendo uma retomada após a pandemia, porém, em trabalhos precários, com menor rendimento e menos direitos. Além de que, com algumas convenientes mudanças nas metodologias estatísticas passou-se a considerar desempregado somente quem busca emprego, desprezando, por exemplo, os desalentados, ou seja, aqueles que desistiram da busca.


Figura 01 - Taxa de desemprego – anos de Jan/2012 a Jan/2023

Sem considerar ainda o grande número de empreendedores por necessidade ( a análise da alta taxa de mortalidade destes pequenos negócios e a informalidade daria um capítulo a parte), além dos chamados “autônomos” cujo renda do trabalho é variável, e muitas vezes incerta, sendo que muitos deles sequer contam a cobertura previdenciária.

Da mesma forma, as estatísticas em geral apontam que  o salário teve uma redução significativa, tanto por questões econômicas quanto por questões políticas.

Em 2003, o aumento real foi de 1,46%; em 2004 foi de 1,27% e em 2005, o aumento real foi de mais de 8%. Explicando, o aumento real é a diferença entre o aumento salarial bruto (15,38% em 2005) e a inflação do respectivo ano (6,61% neste caso).

Em 2004 foi instituída pelo governo uma política de valorização do salário mínimo com a anuência das entidades patronais e representantes dos trabalhadores, decorrendo disso um aumento do salário mínimo de 57% nos dois mandatos de Lula.

Segundo Welle, Furno e Bastos, membros do Instituto de Economia da Unicamp, em 2019 (Governo Bolsonaro), a regra não foi renovada, eliminando a política de valorização do salário, ficando o trabalhador não apenas sem auferir ganho real, mas sequer recuperando a perda inflacionária. A perda real de poder de compra do salário mínimo no mandato de Bolsonaro acumulou 1,7%.


Figura 02 - Salário Mínimo Real – anos de Jan/2012 a Jan/2023

Vale lembrar, de acordo com Welle, Furno e Bastos, que o Brasil conta mais de 19 milhões de aposentados e pensionistas dependentes do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), cujo piso de remuneração é o salário mínimo. E muitas destas pessoas são responsáveis não apenas pelo próprio sustento na velhice ou na incapacidade, mas também por prover as famílias ou complementar a renda delas.

Obviamente, há causas contextuais e estruturais, fatores externos, os impactos da pandemia, utilizadas para explicar esta perda de poder aquisitivo do trabalhador; mas também há causas históricas, o contexto do capitalismo que acirra a desigualdade, causas conjunturais, como a inflação de dois dígitos (que não deixa de ser uma decisão parcialmente política), o desemprego, a flexibilização do emprego, que na verdade se resume em ampliação das jornadas, maiores exigências, menor segurança e garantias, ocasionando uma verdadeira precarização do trabalho.

Há ainda as consequências de fenômenos demográficos não tão recentes, mas cujos impactos são amplificados e sentidos atualmente, como a modernização do trabalho agrícola, a absorção das pequenas propriedades (que mais empregam) por grandes lavouras, o êxodo rural e a urbanização crescente das cidades atrelada à falta de estrutura urbana e à especulação imobiliária.

Enfim, são questões culturais, econômicas, demográficas, políticas e ideológicas que fazem um caldo propício para o incremento de crises, da desigualdade, do questionamento da atuação estatal, de ataques aos direitos sociais e trabalhistas, etc. Um caldo complexo demais, impossível de ser explicado plenamente dada a interação de tantas variáveis, algumas mensuráveis e outras de caráter subjetivo, como as decisões políticas e a concepção ideológica das causas e consequências das crises.

Assim, torna-se interessante recortar um dos aspectos mais impactantes e visíveis das condições sociais e econômicas, da desigualdade social, da qualidade de vida, e da dignidade humana: o acesso à moradia.

O acesso à moradia reflete não apenas a melhoria de condições de vida das famílias, mas traz implicações sérias e abrangentes, objetivas e subjetivas, que extrapolam o aspecto individual ou meramente econômico.

Isto desperta a curiosidade de verificar entre os municípios (alguns municípios da mesorregião sudeste paranaense), os quais apresentam maior ou menor déficit habitacional.

Fazendo um adendo, segundo a regionalização seguida pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social - IPARDES, Irati, Rebouças, Rio Azul, entre outros, compõem a mesorregião sudeste do Paraná. Esta classificação é determinada pela Lei Estadual nº 15.825/08 e também adotada pelo IBGE.

Já administrativamente, alguns destes municípios da região compõem a AMCESPAR - Associação dos Municípios da Região Centro Sul do Paraná.

Mas retornando ao foco do texto, obviamente, uma verificação de forma rigorosa, metódica e técnica sobre o déficit habitacional deveria cobrir amplas fontes de pesquisa e inúmeras variáveis correlacionadas. Deveria seguir um critério padronizado de análise para fins de comparação. Porém, uma forma acessível, prática e indireta de se ter uma noção da realidade habitacional na região, poderia se dar utilizando o número de interessados nos programas habitacionais da COHAPAR, cuja listagem é de domínio público.

Obviamente, números absolutos não revelam muito, pois o total de habitantes nos municípios é bastante divergente entre si. O que permitiria esboçar uma análise seria comparar o percentual de interessados em casas de programas habitacionais com a população estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, por exemplo.

Isso dá uma noção do déficit habitacional, que obviamente, é bem maior, pois muitas pessoas sem casa própria, por razões diversas, podem não estar inscritas em programas habitacionais do governo.

Aliás, é possível também correlacionar o suposto déficit habitacional (que pode ser maior) com fatores como: IDH do município, taxa de urbanização, PIB per capita, entre outras variáveis objetivas, algumas esboçadas neste texto, outras sugeridas, como a desigualdade social (através do índice de Gini, renda per capita, taxa de desemprego, etc.) além de diversos outros fatores mais específicos, como o processo histórico de ocupação e povoamento das cidades, a história do desenvolvimento local, a origem das famílias pioneiras, suas relações políticas, a origem e ocupação dos membros das famílias sem moradia própria, enfim, um trabalho minucioso de pesquisa.

Há de se destacar que o acesso à moradia é um preceito constitucional. Por pelo menos 6 vezes a Constituição Cidadã de 1988 trata literalmente do termo.

No artigo 6º da Carta Magna está estampado que “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, entre outros...”

Já o artigo 7º, ao tratar do salário mínimo, define que ele deve ser capaz de atender as necessidades de uma família com alimentação, educação, saúde, lazer e...moradia !

A preocupação do legislador com isso foi expressar que a moradia é mais do que uma projeção de posse (o arcabouço da propriedade privada), de territorialidade e espaço vital, de condição econômica, de status, mas é requisito para uma vida digna, para se ter saúde (viver em condições de salubridade), para se ter segurança (contra o frio, chuvas, enchentes, deslizamentos, contra a violência física, material, simbólica, etc.), para se ter uma identidade. É uma questão tão importante que foge das obrigações e questões exclusivamente individuais.

O artigo 23 da Constituição Federal também revela que é competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico.

A precarização habitacional traz seus prejuízos à estética e ao funcionamento urbano. Moradias nas margens de rios, destruindo matas ciliares, promovendo assoreamento, muitas vezes sem saneamento, causam impactos ambientais que afetam a todos.

Casas em bairros sem infraestrutura adequada favorecessem a segregação, a violência, a desigualdade, os descuidos ambientais. Áreas bem estruturadas geram desenvolvimento para toda a cidade, fomentam atividades econômicas, sociais, culturais e de lazer. Atraem pessoas, favorecem o acesso à cidade, permitem a circulação eficiente, a redução de tempos e custos e melhoram a estética urbana.

Moradia é uma questão de identidade individual, de pertencimento (ao lugar) e de justiça social, pois as áreas nobres de uma cidade são bancadas pelos impostos de todos, inclusive daqueles que sequer têm acesso a elas ou usufruem de sua valorização.

E quanto mais famílias são privadas do direito à habitação, mais onerosa se torna esta conquista por meios individuais, pois, como qualquer recurso inserido no sistema de mercado (lei de oferta e procura), a maior demanda gera elevação dos preços.

E nem sempre a elevação dos preços se dá simplesmente porque a demanda é grande em relação à oferta. Muitas vezes, áreas centrais permanecem inutilizadas ou subutilizadas como reserva de valor. O que dizer então de áreas mais afastadas, mas que ao proprietário perceber a tendência de crescimento urbano, espera pela valorização. Em outras palavras, a maior procura promove a especulação.

E isto, em conjunto com demais fatores contextuais, geram as ocupações irregulares, as favelas e outros fenômenos precipuamente urbanos que víamos na TV, e recentemente existem na maioria das cidades. Junto a isso, somam-se os deslizamentos, as enchentes e as áreas onde a ausência do Estado torna a comunidade submissa a poderes paralelos.

A valorização imobiliária alimenta também os juros exorbitantes dos bancos, pois a maioria das famílias recorre a financiamentos de 20 ou 30 anos, o que em paralelo com uma política de juros elevados, típica do Brasil (que apresenta atualmente uma das maiores taxa de juros do mundo) estimula que o problema permaneça sem solução ou que seja considerado como de responsabilidade exclusivamente individual.

Segundo o Estadão (2022), no ranking dos juros mais altos do mundo, estão: Brasil, com uma taxa de 8,16% de juros reais; México, com 5,39%; Chile, com 4,66%; Hong Kong, com 3,12% e Colômbia, com taxas de juros reais de 2,39% ao ano.

Outra consequência deste contexto é a naturalização dos lucros bilionários do sistema financeiro. Segundo a Revista Exame (2021), em uma lista de 107 países, o Brasil perde apenas para Madagascar em spread bancário, ou seja, na diferença entre a receita que o banco tem ao cobrar uma taxa de juros por empréstimos concedidos e os juros que ele paga ao captar o recurso.

E assim constata-se que a moradia gera mais um dos tantos problemas socioeconômicos: o endividamento das famílias.

A justificativa para isso é que no Brasil existe um risco de crédito elevado. No entanto, no que pese isso ser um fato, rotineiramente vemos na mídia os bancos batendo recordes bilionários de lucros mesmo em momentos em que a economia em geral vai mal. Lembrando que o governo paga juros vultosos da dívida pública justamente em virtude destas taxas.

E sendo o sistema financeiro dependente e relacionado com as políticas públicas, não é um assunto apenas de economia de mercado, mas de responsabilidade e atuação estatal.

Além dos problemas de cunho individual, vemos ainda que algumas áreas que poderiam facilitar a circulação e a integração dos bairros se tornam vazios demográficos no coração das cidades, emperrando o desenvolvimento, comprometendo, inclusive, a função social da propriedade ( vide artigo 5º e artigo 170 da CF) ao passo que grande fatia da população, em busca de condições mais acessíveis (embora não baratas), são deslocadas para áreas cada vez mais distantes do centro, o que gera custos e transtornos individuais e coletivos.

Custa ao trabalhador de menor renda a opção de morar afastado ou mal estruturado e custa à sociedade em termos de impactos ambientais e sociais.

A falta de políticas públicas na medida da necessidade social (onde aplicar os recursos, obviamente escassos, é uma decisão difícil) gera um custo que dispersa cada vez mais as famílias para áreas afastadas do centro, consequentemente, do trabalho, da escola, do atendimento médico, dos recursos necessários, gerando outros diversos efeitos negativos.

Figura 03 – Distribuição dos equipamentos urbanos em Irati

A imagem anterior exemplifica, tendo como base Irati, como a distribuição de equipamentos urbanos tende a ficar concentrada nas áreas centrais, fazendo com que a população das áreas periféricas se veja obrigada a se deslocar para usufruir da maioria dos serviços de que necessita rotineiramente.

A imagem a seguir, por sua vez, nos traz a realidade da cidade de Rio Azul. Nela podemos ver que a distribuição dos equipamentos urbanos está espacialmente melhor distribuída na cidade, embora em número menor. Obviamente há de considerar que se trata de uma cidade com menos habitantes, com uma área urbana mais concentrada. De qualquer forma, em escala menor, a situação é a mesma. Uma pequena porcentagem das ruas concentra o fluxo de circulação e de equipamentos.


Figura 04 – Distribuição dos equipamentos urbanos em Rio Azul – PR


Dados da distribuição dos equipamentos urbanos no município de Rebouças não foram encontrados no site. De outros municípios, como de São Mateus do Sul, a escala e a resolução tornaram inviáveis a apresentação impressa. Fica a sugestão ao leitor para visitar diretamente a fonte (Portal dos Municípios), a qual é repleta de materiais e de informações sobre temáticas diversas de todos os municípios.

De qualquer forma, a concentração dos equipamentos urbanos em áreas centrais, ou mesmo, a falta de integração dos bairros com o centro, ou a existência de áreas isoladas, gera transtornos e desigualdades no uso do espaço.

Isto amplia a necessidade do uso de veículos, congestionando vias (exigindo mais investimentos públicos nas áreas centrais), ocasionando acidentes (que por sua vez, trazem danos materiais e físicos, incapacidade, mesmo que temporária para o trabalho, custos e sofrimentos na recuperação, por exemplo), consumindo parte significativa da renda e do tempo do cidadão com transporte.

Ressaltando que o transporte público não atende à demanda na maioria das cidades, questão ainda mais delicada no caso de aglomerados populacionais afastados ou isolados; além de que, meios alternativos como a bicicleta, nem sempre encontram vias fáceis de transitar, a segurança necessária, a velocidade que os horários (escola, trabalho, comércio...), exigem.

Contexto que demanda das pessoas maior tempo (oneroso e improdutivo) em detrimento da vida familiar, da capacitação para o trabalho, de usufruir dos espaços de lazer, de consumo, de cultura, de descanso, etc.

3.1 A NECESSIDADE DE ATUAÇÃO E ORIENTAÇÃO ESTATAL

Por isso, a elaboração de um Plano Diretor adequado e socialmente orientado, que demonstre esta preocupação por parte do Poder Público, é fundamental.

A definição e a criação de loteamentos em áreas estratégicas para o “desenvolvimento urbano democrático”, com preocupação ambiental (extrapolando o mínimo exigido pelas legislações), com facilidade de circulação, com oferta de transporte coletivo, serviços púbicos e privados e demais equipamentos urbanos em um raio de distância adequado, não podem ficar exclusivamente à mercê das decisões e interesses financeiros do mercado imobiliário.

Esta questão social e econômica deve contar com ações do próprio Estado, facilitando o acesso, investindo, fomentando, distribuindo de forma mais equânime as aplicações das receitas tributárias, reduzindo a discrepância entre oferta e procura imobiliária que eleva os preços e alija do direito à moradia, milhares de pessoas nos municípios da região.

Se não há possibilidade de programas de doação, de cessão de imóveis ou mesmo de terrenos, a legislação poderia prever fomentos, subsídios ou outras facilidades em volume compatível com a demanda.

E não apenas isso, investir em infraestrutura nas áreas já ocupadas, tornar estes locais atrativos, seguros, com circulação eficiente, integrados à rede e à dinâmica urbana.

Facilitar a ocupação de outras áreas onde se tenha interesse em urbanizar e desenvolver, entre tantas possibilidades que obviamente devem ser submetidas a apreciação legal, técnica e política.

E neste embate de forças, cabe ao cidadão expor suas necessidades, apontar as falhas, reivindicar. Quem vive a cidade, quem conhece o lugar, embora possa não ter o embasamento técnico ou legal, pode dar o start para projetos que em muito podem contribuir com a coletividade.

Enfim, a moradia não é apenas uma conquista individual, não é apenas um direito utópico do cidadão que quer tudo de graça e um dever cruel imposto ao Estado paternalista. Estado que muitos não criticam quando ele alimenta os lucros bilionários do sistema financeiro, mas o atacam quando ele fomenta o desenvolvimento social que gera melhorias econômicas.

Moradia é condição fundamental para a dignidade humana. É fator relevante na estruturação urbana, na preservação ambiental, na mitigação da violência, da segregação, da desigualdade, promove o acesso às demais políticas públicas e ao viver a cidade de forma plena.

Dentro deste contexto, amplo, complexo e multifacetado, torna-se difícil apontar causas específicas para o problema, e principalmente soluções imediatas, porém, a simples análise dos dados revela que existe um problema a ser considerado nas mais diferentes esferas da Administração Pública (federal, estadual, municipal) e se possível, envolvendo outros atores sociais, pois tanto o problema quanto os benefícios da solução, afetam toda sociedade.

UM OLHAR SOBRE OS DADOS MUNICIPAIS

Ao analisar os dados do cadastro de interessados em moradias pelos programas do governo, percebe-se que o percentual de inscritos em proporção ao número estimado de habitantes (IBGE 2021) é maior em Rebouças, com quase 8% da população inscrita.

Quadro 01 – População estimada x número aproximado de cadastrados na COHAPAR

Esta é apenas uma comparação, o que nos traz uma dúvida: qual o número aceitável de famílias sem moradia em um município?

Esta análise basta para despertar o interesse em conhecer ou ao menos questionar sobre quais os motivos ou variáveis que podem explicar esses dados. Obviamente, trata-se de um fenômeno complexo, que dificilmente seria compreendido com a análise de uma ou poucas variáveis isoladas. Apenas a título de exemplificação, o PIB per capita poderia ser um fator a ser analisado em conjunto.

É preciso destacar, porém, que o PIB per capita expressa nada mais do que o PIB do município dividido pela sua população. Este indicador não considera as desigualdades sociais e a qualidade ou equidade da distribuição de renda.

Cidades muito ricas, por exemplo, podem ter um PIB per capita elevado, mas com grande parcela da população na pobreza e um pequeno grupo concentrando as riquezas.

Analisando os dados do PIB Per capita (IBGE 2019), verifica-se que Inácio Martins apresenta o Menor PIB por habitante, seguido de Prudentópolis e Rebouças.

Ou seja, embora não exista uma correlação forte e direta, os municípios de Rebouças e Inácio Martins têm significativo percentual de inscritos em programas sociais e ao mesmo tempo estão entre os menores PIBs por habitante da lista analisada.


Quadro 02 – PIB Per Capita

Prudentópolis, por sua vez, também tem um significativo déficit habitacional (inferido com base nos dados da COHAPAR), o que se coaduna com o PIB Per Capita relativamente menor. Porém, para não se ter conclusões ou mesmo inferências precipitadas, a análise deveria contemplar muito mais variáveis, com maior profundidade.

É preciso destacar que Prudentópolis, por exemplo, é um município com mais de 52 mil habitantes (o 2º mais populoso da lista), o que pode afetar os dados ou camuflar aspectos relevantes, como a desigualdade, a concentração de renda, o alcance das famílias para fazer o cadastro, etc. Também é um município com grande extensão territorial, de grande vocação agrícola, com mais da metade da população ainda permanecendo na área rural, resistindo ao processo de urbanização já verificado em muitas outras cidades. Este fato pode contribuir para reduzir ou ampliar o déficit habitacional se comparado a uma cidade predominantemente de vocação urbana, ou seja, que passou por um processo mais intenso de êxodo rural.

Pensando nesta suposição, o quadro 03 apresenta o percentual de urbanização dos municípios listados, com base nos dados do Censo de 2010.

Quadro 03 – Taxa de urbanização

Verificar conjuntamente como se deu o processo histórico de urbanização poderia trazer mais subsídios para a compreensão das causas do maior ou menor acesso à moradia e na proposição de medidas para mitigar este déficit.

Seria possível inferir que um município com maior percentual da população residindo na área urbana possa apresentar maiores problemas relacionados à moradia ou à falta de estrutura urbana, especialmente em bairros isolados.

Porém, problemas de moradia também podem ocorrer nas áreas rurais. Normalmente quando as famílias permanecem no campo, em geral, dedicam-se às atividades agrícolas em suas propriedades, nas quais residem. Porém, atualmente, com o processo de modernização da agricultura, as atividades tipicamente agrícolas demandam cada vez menos pessoas.

Dada a falta de perspectiva nas cidades, e ao fato de que muitas áreas rurais começam a ter equipamentos e atrativos caracteristicamente urbanos, estas pessoas podem permanecer no campo, mas trabalhando em propriedades alheias, como caseiros; pode haver filhos que residem na propriedade dos pais provisoriamente, sem moradia própria, enfim, podem ocorrer N situações que podem influenciar na dinâmica residencial no campo.

Outro fator é a facilidade de transporte (vias asfaltadas em muitas localidades, proximidade do centro urbano, baixo custo das motocicletas), que permite que as pessoas trabalhem na área urbana, mas residam com suas famílias no interior, fazendo diariamente um movimento pendular para se dirigir ao trabalho.

Indício desta realidade é que muitas cidades implementaram programas de Vilas Rurais, como a Vila Rural do Marmeleiro, em Rebouças e a Vila Rural do Futuro, na localidade de Riozinho, em Irati. Em Rebouças, a Lei nº 925/2002, define a forma de uso e de urbanização específica do imóvel destinado ao projeto, implementado com participação da COHAPAR.

Uma última abordagem exemplificativa, apenas para ilustrar a complexidade da questão, seria correlacionar o percentual de inscritos na COHAPAR com o IDH-M (índice de desenvolvimento urbano municipal), medido pelo IPARDES - Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social.

Nesta comparação, o município de Inácio Martins aparece em destaque. Ou seja, ele tem um baixo PIB per capita, um significativo percentual de inscritos em programas habitacionais (6,5% da população) e um baixo índice de desenvolvimento.

Ressaltando que embora o IDH-M dos municípios tomados como exemplo não apresente uma forte correlação com o déficit habitacional, ele ajuda a explicá-lo, pois o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, condensa 3 variáveis importantes econômica e socialmente: saúde, educação e renda.


Gráfico 01 - Índice de Desenvolvimento Humano Municipal - 2019

Ressalta-se que todos estes municípios, de uma forma ou de outra, têm índices inferiores a 0,75, ou seja, nem um deles é de alto desenvolvimento humano.

Talvez municípios com IDH-M maior apresentem uma redução mais significativa do déficit habitacional. Mas como dito, estas abordagens são suposições que objetivam despertar o interesse, seja de acadêmicos, seja do próprio poder público, para estudos com rigor científico e técnico, e não apenas de caráter reflexivos e opinativos como o presente texto.

A análise do déficit habitacional não pode ser simplista e deve considerar especificidades não apenas econômicas e sociais, mas demográficas (o tamanho absoluto da população, a idade, a ocupação, etc.), a extensão territorial, as vocações econômicas dos lugares, a história e formação do município, até mesmo a topografia tem suas influências.

Cidades que margeiam grandes rios, por exemplo, ou cidades com relevo acidentado, têm uma dinâmica de ocupação diferente de uma cidade plana, de uma cidade próxima a áreas de preservação ambiental, próxima de grandes projetos (hidrelétricas, mineração), litorâneas, etc.

Um estudo mais abrangente poderia, por exemplo, detectar variáveis que expressam o porquê da alta valorização imobiliária em algumas cidades, apesar do cenário de desemprego, de queda na renda. Além de que, déficit habitacional e valorização imobiliária em parte se retroalimentam (não basta haver casas disponíveis e pessoas sem moradia, se não houver renda ou programas de aquisição...)

Poderia ainda expressar quem são os interessados em programas habitacionais (qual a formação, a formação dos pais, são naturais do município ou oriundos de processos migratórios, fazem parte de famílias que passaram pelo êxodo rural, têm emprego formal, entre outras indagações que podem dar visibilidade a estas pessoas e explicar as causas do déficit e apontar as melhores opções de mitigá-lo).

Além de que, há diversas famílias sem residência que por N razões podem estar fora de cadastros públicos. Quem são elas ? Qual o perfil ? Por que não realizaram o cadastro ? É preciso que os municípios, que é o lugar onde elas vivem, conheçam estas famílias para entender melhor o fenômeno da demanda habitacional e suas consequências no meio urbano.

Todas estas análises não têm a pretensão de explicar um fenômeno tão complexo e multifacetado, de influências históricas e também recentes, afetado por questões ambientais, sociais, econômicas e políticas. Mas pode sim servir de insight para que estudos rigorosos analisem não apenas o problema, mas apontem soluções que possam ser efetivamente implementadas pelo Poder Público nas mais diferentes esferas.

Como estabelece a própria Constituição, a moradia é um direito do cidadão e um dever do Estado. E mais, a Constituição garante os valores que a moradia proporciona, como a saúde, a proteção e a segurança, a dignidade da pessoa humana. O acesso a ela contribui para o desenvolvimento social e econômico e para a qualidade de vida de forma global. Trata-se de uma questão social (e não só) fundamental, que deve fazer parte da visão de cidade e de sociedade que almejamos.

Quadro Resumo comparativo dos municípios

O quadro resumo anterior ao apresentar diversas variáveis estatísticas, pode contribuir para que o leitor tire suas próprias conclusões, e se possível, contribua, inclusive na forma de sugestões ao Poder Público, para mitigar ou melhorar uma questão importantíssima sob o prisma social, econômico, urbanístico, e humano, pois moradia é condição básica e necessária para a subsistência, para a dignidade, para a identidade pessoal.




ALVES, Eliseu. Migração rural-urbana. EMBRAPA. Brasília:2006. Disponível em: http://www.embrapa.br/publicacoes/institucionais/titulos-avulsos/migracaor ural-urbana.pdf/view.

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