Resumo da História da Contabilidade

A afirmação de Silva e Moura (2003, p. 03) “compreender e identificar os fatos passados é um marco para o entendimento do presente, e com maior segurança projetar idéias futuras” alerta para duas questões importantes.

A primeira destaca que é preciso conhecer a origem da Contabilidade e os fatores ligados a sua evolução para possibilitar que meios mais adequados de atender as necessidades atuais sejam elaborados.
A segunda questão alerta, mesmo que indiretamente, para a importância das informações contábeis como uma forma de conhecimento da identidade empresarial, sua evolução, seu estado presente e perceber para onde ela caminha.

Essa abordagem histórica não objetiva apontar de forma completa a evolução da Contabilidade como ciência, apontando as suas origens, bases e escolas, mas visa enfocar a adequação e resposta da Contabilidade para necessidades práticas de informação e de gestão.

Isso demonstra a sua evolução e resposta às necessidades de seus usuários e a sua adequação ao contexto sócio-econômico de cada época, cujos aspectos são mais condizentes com os objetivos deste trabalho.

Como orientação da evolução histórica da Contabilidade, Beuren (2003) citando vários autores, tais como Melis, Van Breda e Hendriksen, define a cronologia da Contabilidade em quatro fases:

Contabilidade no mundo antigo, Contabilidade no mundo medieval, Contabilidade no mundo moderno e Contabilidade no mundo contemporâneo.

A Contabilidade no mundo antigo abrange desde os primórdios da história até por volta do ano de 1200 d.C. Conforme observa Iudícibus e Marion (1999, apud Beuren 2003, p.23) “a Contabilidade surgiu para atender a necessidade de avaliar a riqueza do homem [...] em uma época que ainda não existiam números, escrita ou moeda.”

O início da história da Contabilidade tem um passado remoto, que se iniciou com a própria história da civilização. De acordo com Sá (1961, p. 21), a história da Contabilidade está “presa às primeiras manifestações humanas da necessidade social de proteção à posse e de perpetuação e de interpretação dos fatos ocorridos”.

Porém, foi na Suméria que a Contabilidade teve um significativo desenvolvimento de seus métodos, sendo por isso, segundo Sá (1961), considerada o berço da escrituração contábil.

Figueiredo (2004) cita que o “desenvolvimento do papiro (papel) e do cálamo (pena de escrever) no Egito antigo facilitou extraordinariamente o registro de informações sobre negócios.” E foi por meio da utilização de registros, que o homem teve condições de conhecer e antever as suas reais necessidades de consumo e de produção.

Os registros também serviram e servem como forma de controle, tendo essa atribuição desde o surgimento das primeiras administrações separadas da posse da propriedade. Dessa forma era possível aos proprietários acompanharem as mudanças ocorridas em sua riqueza o emprego dado aos recursos que dispunham.

Verificando a origem rudimentar da Contabilidade, fica evidente que ela foi desenvolvida para a satisfação das necessidades práticas do gestor do patrimônio, normalmente seu proprietário, o qual necessitava de um instrumento que lhe proporcionasse, entre outras vantagens, conhecer, controlar e medir resultados.

A necessidade de registro e controle se tornou cada vez mais necessária devido ao aumento da quantidade dos bens e de seus valores. “À medida que o homem começava possuir maior quantidade de valores, preocupava-lhe saber quanto poderiam render e qual a forma mais simples de aumentar os seus domínios”. (SÁ, 1961, p.22)

Os registros que marcam o início da Contabilidade e demonstram o seu objetivo de gerar informações para controle e decisão decorrem do uso do bom senso, do registro de fatos que afetam o cotidiano e o patrimônio das pessoas ou grupo de pessoas, sem preocupar-se em estabelecer os parâmetros para a formação de um campo científico. Porém, é inegável a importância dessas bases para o início da Contabilidade que hoje utilizamos, pois “as ciências todas surgiram, assim, do conhecimento vulgar acumulado através de muitos e muitos raciocínios.” (SÁ, 1961, p.24.)

A Contabilidade no mundo medieval, na divisão proposta por Beuren (2003) compreende o período entre 1202 e 1494, e corresponde à fase que a Contabilidade obteve benefícios com os avanços econômicos e científicos.

Segundo Iudícibus (1993), é importante ressaltar que a evolução histórica da Ciência Contábil encontra-se intimamente relacionada com as condições econômicas e sociais de cada época.

Isso explica porque a Contabilidade teve uma significativa evolução atrelada ao contexto econômico e social das cidades italianas de Gênova e Veneza, entre outras, que se destacavam na atividade comercial no século XIII ao XVII. Destaca-se que “foi nesse período, obviamente, que Pacioli escreveu seu famoso Tractus de Computis Et Scripturis.” (IUDÍCIBUS, 1993.p.31).

A Contabilidade no mundo moderno, segundo Beuren (2003 p.24) “abrange o período entre os anos de 1494 e 1840. A ênfase foi a disseminação do Método das Partidas Dobradas, por meio da obra do frei Luca Pacioli.”. É interessante ressaltar que “a técnica das partidas dobradas foi divulgada em 1494 com Pacioli, mas seu uso já era difundido nas cidades européias, principalmente nas cidades de Gênova e Veneza, por volta do ano 1340.” (OLIVEIRA, 2003. p.33).

De acordo com Oliveira (2003), já era ressaltada por Pacioli a importância de padrões nos registros contábeis visando contribuir com a administração dos negócios. Pacioli afirmava que o comerciante deveria conhecer a técnica das partidas dobradas para ter absoluto conhecimento de suas operações, pois no período que o método era divulgado pelo frei, os comerciantes e artesãos mantinham os registros contábeis sem a mesmo ter a indicação de valores.

A Contabilidade no mundo contemporâneo encontrou um terreno onde a ciência não só legitimava os eventos físicos ou naturais, mas também lançava seu olhar sobre as relações sociais, colocando a Contabilidade à luz da ciência.

A Contabilidade, como uma ciência social aplicada, intrinsecamente vinculada às mudanças e às necessidades sociais, teve que ir evoluindo e se adaptando às mudanças no seu contexto, em algumas áreas de forma gradual e lenta e em outras de forma mais inesperada.

Muita dessa influência e pressão para mudança no campo de estudo das Ciências Sociais deve-se ao capitalismo. “O desenvolvimento da indústria, do comércio, do transporte, a revolução social, operaram na história da Contabilidade uma modificação imensa, afastando-a da rotina que vinha mantendo há milênios.” (SÁ, 1961. p.95)

Também com o desenvolvimento do capitalismo e com a expansão do mercado acionário, a Contabilidade passou a ser um instrumento importante para a sociedade, e não apenas aos proprietários de empresas.

Como exemplo, Marion (2003.p.31) ilustra que “o desenvolvimento da Contabilidade foi notório nos Estados Unidos, no século XX, principalmente após a Depressão de 1929, com a acentuação de pesquisas nessa área para melhor informar o usuário”.

Assim, constata-se que a Contabilidade sofreu formidáveis mudanças, desde sua origem rudimentar, baseada na simples anotação de fatos de acordo com o julgamento e bom senso do usuário, até a atualidade, onde fornece informações tanto legais quanto gerenciais, com sofisticadas ferramentas de mensuração e obtenção de dados.

Essas mudanças têm como força geradora as necessidades de controle e informação das pessoas, bem como a complexidade das relações comerciais, industriais e mesmo sociais atualmente verificadas.

Hoje, com as exigências, tanto da sociedade quanto dos diversos stakeholders, por transparência nas relações empresariais, a informação contábil tornou-se ainda mais significativa. Isso é evidente, tanto que hoje está em voga temas como balanço social, gestão ambiental, a necessidade da elaboração de demonstração de valor agregado (DVA) por certos tipos de empresas, governança corporativa, entre outros temas existentes e outros que virão a surgir .

Entretanto, conforme nos adverte Beuren (2003, p.26) “hoje, a doutrina contábil ainda não está completa. Como em qualquer outra ciência, quando se conclui um estudo, um novo horizonte é vislumbrado pelos pesquisadores. Por se tratar de uma ciência inserida em um contexto dinâmico, dificilmente sua amplitude poderá ser delimitada.”

E é este horizonte que se desacortina, para os contadores, empresários, governo e para a sociedade como um todo, com a harmonização das normas contábeis brasileiras aos padrões internacionais através do impulso dado pela Lei 11.638 de 28 de dezembro de 2007.

LEIA TAMBÉM:  A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA CONTABILIDADE – DAS BASES HISTÓRICO-GEOGRÁFICAS À TEORIA GERAL DE SISTEMAS, publicado na Revista P@rtes, clicando aqui.

Leia também o texto Usuários da Informação Contábil, clicando aqui

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