E a mídia anuncia mais um aumento dos combustíveis !


O aumento vigorará a partir sexta-feira (11/03/2022), de acordo com anúncios da Petrobrás. A gasolina terá reajuste de 18,77%, gás de cozinha, de 16,06%, e o diesel de 24,93%.

Aumentos nos preços dos combustíveis trazem efeitos negativos para o bolso de QUASE todo mundo. E todo mundo sabe disso e cita a inflação geral como resultado mais óbvio. Mas as implicações são muito mais abrangentes, complexas e agem de diferentes formas nas diferentes fatias sociais, o que torna interessante discutir, embora de forma superficial, algumas das implicações ou discursos mais recorrentes.

Primeiramente, sabemos que quando há reajuste dos combustíveis, há uma inflação generalizada, pois o transporte primordialmente utilizado para todas as mercadorias no país é o terrestre, especialmente rodoviário, cujos diversos estudam comprovam ser menos eficiente para transporte de cargas de alto volume e baixo valor agregado, com é o caso das comodities agrícolas, madeira, e outros. Enfim, transporte é um custo relevante na cadeia produtiva e obviamente, todo custo é repassado ao consumidor no preço. Preços maiores, sofrem maior incidência tributária, o que ajuda a elevar a conta.

Mas pior que os resultados gerais, é a forma como a inflação afeta deforma desequilibrada aos mais pobres.

Primeiramente, a população de menor renda consome

a maior parte de sua renda em alimentação ou nas necessidades básicas, com aluguel, luz, água, gás, transporte, etc. Ou seja, como não sobra margem para investir ou mesmo poupar, toda sua renda está exposta aos efeitos da inflação. Comparativamente, quem tem maior poder aquisitivo, vai destinar 20, 30% de sua renda para as necessidades básicas, expondo-a a perda inflacionária, e o restante ficará em aplicações que na pior das hipóteses preservam o poder de compra.

O segundo agravante para a população mais pobre é que em geral residem em áreas periféricas, distantes do centro ou dos locais de trabalho. Ou seja, diariamente dependem do transporte, seja público ou particular, para seus deslocamentos ao trabalho e para atividades pessoais. Somente o fato de haver a necessidade de locomoção já gera um custo adicional; e com a alta dos combustíveis, o impacto é ainda maior.


Sem discorrer sobre o fato de que esta parcela da população gasta grande parte do dia em deslocamentos (em cidades com trânsito cada vez mais caótico). A alternativa seria residir em áreas mais próximas do local de trabalho ou dos equipamentos urbanos, porém, esta demanda eleva não apenas o preço dos alugueis dos imóveis, mas favorece a supervalorização dos terrenos urbanos, privando a camada mais pobre da população de se instalar em locais com infraestrutura, com menor necessidade de deslocamento, empurrando-os para áreas que os forçará ainda mais a depende de transporte.

O interessante, porém, é que a mídia em geral, tem defendido a ideia de que somente a alta do gás de cozinha e do diesel onera as camadas mais pobres, sendo que gasolina e etanol afetam as classes mais abastadas, e por isso, as medidas de contenção do governo não precisam atacar estes dois combustíveis.

Esta ideia, porém, não é isenta de segundas intenções. A mídia tem se mostrado favorável às reformas que dilapidaram direitos, favorável à privatização, que onerou serviços prestados, e é contra gastos públicos que beneficiam programas sociais ou a população trabalhadora. Podemos dizer que a mídia tradicional é uma adoradora do “deus mercado”.

E vemos que esta pressão funciona, pois apesar dos sucessivos aumentos dos combustíveis, a mídia recentemente anunciava com espanto que a Petrobrás, prejudicando seus acionistas, estava a 40 dias sem anunciar reajustes. Ora, a Petrobrás explora um recurso natural, uma riqueza do povo brasileiro, e portanto, deveria atender ao menos de forma equilibrada, anseios dos acionistas e da sociedade, porém o que vemos é recordes de lucros e bilionárias distribuições de dividendos aos acionistas, enquanto o povo paga a conta.

O poder de convencimento da mídia é tão interessante e ardilosa que faz com que o próprio trabalhador prejudicado defenda os interesses dos capitalistas. O cidadão junta suas economias, investe mil reais em ações, e para ganhar 10 “contos” de dividendos, aplaude quando a gasolina sobe 15%, fazendo-o gastar com transporte incontáveis vezes mais do que aquele rendimento que obteve como “sardinha” operador do mercado. 

O trabalhador acha errado que um recurso natural ou uma empresa estratégica, que opera no setor de combustíveis, de minérios, de energia, etc. seja pública, supostamente argumentando que a iniciativa privada é mais eficiente. A realidade, entretanto, demonstra que preços maiores estão sendo cobrados em setores privatizados, maior exploração da mão de obra (nivelamento por baixo), menos cuidados ambientais, enfim, predomina a lógica do lucro a qualquer custo.



Há também uma série de outras narrativas que tentam justificar as elevações de preço. Acusaram o ICMS cobrado pelos estados pela alta. Houve um congelamento de preços e ocorreu o que era esperado: o preço da gasolina teve uma ínfima queda, mas o preço do diesel subiu, revelando que o percentual do tributo tem pouco impacto sobre as altas.

Evidenciou-se então que o maior preço era resultado da equiparação do preço ao Dólar, especialmente com a desvalorização do Real ante a moeda estrangeira. Desvalorização que tem raízes econômicas, mas também políticas. Ontem, porém, o governo comemorava uma redução do Dólar, que atingiu a menor cotação do ano, ficando abaixo dos R$ 5,00. Contraditoriamente, para amanhã, se anuncia uma alta do preço dos combustíveis, derrubando mais uma justificativa.

Resiste, por fim, o fato de termos uma visão neoliberal das finalidades de uma empresa estratégica como a Petrobrás, cuja existência não está mais para atender ao povo em sua exploração econômica, mas ao governo, que por sua vez, atende ao mercado.

 Ressaltando: temos Petróleo nacional, temos refinarias e produtos que atendem 70, 80% da nossa demanda e temos uma política de preços atrelada ao Dólar como se nada fosse produzido aqui. Como se Petróleo viesse 100% importado. A mídia ataca como se a Petrobrás fosse a única culpada (induzindo a população a pensar que privatizar seria melhor), esquecendo que as políticas do governo, sobretudo a nuance neoliberal, são os principais vilões.

Mais que isso, a mídia incessantemente usa o termo reajuste, defende inclusive que há defasagem em relação ao preço externo (visão puramente focada nos acionistas capitalistas especuladores, em geral), quando na verdade há um formidável aumento. Aumento e não reajuste.

Enquanto iremos pagar R$ 8,00 o litro de combustível, a Petrobrás (ao lado da Vale, que é privada) é a empresa brasileira que mais paga dividendos. É no mundo, a segunda empresa do setor que mais distribui lucros aos acionistas, perdendo apenas para a gigantesca Exxon Mobil.

Mas não sejamos ingênuos. Colocar a população contra uma estatal é uma estratégia neoliberal. É fazer com que o povo esqueça que a política é a maior responsável pelos rumos e decisões tomadas.


A Petrobrás estima pagar nos próximos 5 anos, o equivalente a 360 bilhões de reais (o orçamento da Saúde brasileira em 2022 é estima em 160 bilhões, só para comparar). Em 2021, a Petrobrás distribuiu 73 bilhões de lucros aos seus acionistas...e de onde vem este dinheiro: do bolso dos trabalhadores, dos recursos naturais estratégicos da Nação brasileira....


Mas há ainda a questão mais localizada. A mídia anunciou um aumento dos combustíveis nas refinarias para o dia 11/03/22, mas os postos já elevaram o valor do produto no dia 10, demonstrando a visão "patriota" de muitos empresários. Justificam que precisam equilibrar as receitas para adquirir novos estoques, porém, quando há redução nas refinarias, o impacto nos postos demora a ser sentido...


Por fim, há de se criticar também a cultura nacional de ainda ver o carro como símbolo de status, de utilizá-lo em deslocamentos muitas vezes desnecessários, quando em muitos países, já se utilizam meios mais eficientes e alternativos, há maior disponibilidade de transporte público de qualidade, pensando não apenas na questão econômica, mas em termos de mobilidade urbana (centros cada vez mais caóticos), ecologia e qualidade de vida.



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