Caminhada em Antônio Olinto: a paz nas trilhas e a criatividade dos organizadores nos encantaram

No dia primeiro de outubro de 2023, domingo, com previsão de chuva, estivemos na localidade de Faxinal Água Amarela de Cima, município de Antônio Olinto, para participar de mais uma Caminhada na Natureza. Em outras palavras, apreciar a natureza, a cultura local, interagir, sair do sedentarismo, e é claro, obter mais um carimbo na carteirinha !

Trazendo um pouco da história da localidade, a colônia de Antônio Olinto foi fundada em 1895 e recebeu o nome do então ministro de Obras Públicas responsável pela colonização ucraniana no Brasil, Dr. Antônio Olinto dos Santos Pires. Até esse tempo a localidade era conhecida como Água Amarela, São José do Colaço ou Membéca. 

Nela foram assentadas 374 famílias de imigrantes rutenos (ucranianos) e 84 de poloneses vindos da Galícia. 

Segundo a Wikipedia, o município foi emancipado através da Lei Estadual n° 1.245 de 25 de julho de 1960 e instalado em 24 de outubro de 1961, sendo desmembrado do município da Lapa. 

No ano de 1938, o Distrito teve, por alguns meses, seu nome alterado para Divisa, o que não foi aceito pela sua população e, dessa forma, a denominação original foi retomada.

Os habitantes do lugar são denominado de antoniolintenses e a população do município é de aproximadamente 7 mil pessoas (IBGE, 2022). O clima é subtropical. 

Antônio Olinto se situa a 20 km a Sul-Leste de São Mateus do Sul a maior cidade nos arredores, pertencendo à Mesorregião Sudeste do Paraná. Faz divisa com os municípios de São João do Triunfo, Lapa, São Mateus do Sul (PR), além de Três Barras e Mafra (Planalto Norte Catarinense, região palco do Contestado).

Antes de sairmos, fizemos contato com a organização do evento, e nos foi confirmada a realização da caminhada. Saímos com chuva de Irati e ao chegar no destino (em torno de 100 km) uma garoa nos esperava.

Com relação ao percurso da caminhada, o trajeto preponderantemente foi em trilhas, na mata ou entre as propriedades rurais, porém vale destacar que o evento ocorreu em uma comunidade faxinalense, portanto, passamos por áreas comuns do faxinal, além de adentrarmos alguns fechos, ou seja, área exclusivas ou particulares, digamos assim.

A revisão bibliográfica sobre o sistema faxinalense é ampla e farta. Mas em suma, a título de curiosidade, o Sistema Faxinal corresponde a uma forma de organização camponesa característica da região da Mata de Araucária. As origens deste sistema remontam a Idade Média, entretanto, ainda existem cerca de 50 comunidades rurais no Paraná que preservam, ao menos parcialmente, esta forma econômica e sociocultural de produção e organização do espaço.

A organização deste sistema se dá através do cercamento de toda a área do Faxinal, dentro do qual, funciona um criadouro comum, onde todos os proprietários têm o direito de criar seus animais. Era comum, porcos, cavalos, e até o gado ficar livre e se alimentar (embora não exclusivamente) da grama e das frutas ou sementes das árvores típicas deste ambiente. Além desta área, existe o "fecho", onde cada produtor desenvolve suas atividades individuais, como o plantio e cultivo de frutas, verduras, cereais, etc.

Uma das características da vegetação é a existência de árvores nativas da região (araucária, erva-mate, guabiroba, jabuticaba, miguel pintado, imbuias, cedo, entre outras), porém, com um sub-bosque pouco desenvolvido, dado a existência de animais soltos que se alimentam de muitos brotos, permanecendo gramíneas e serrapilheira. Obviamente, o sistema faxinal tem uma organização complexa, principalmente nos tempos atuais onde a viabilidade deste sistema passa a ser questionada por certos moradores. Assim sendo, vale a pena a leitura de artigos e estudos de caso sobre o tema para quem quiser se aprofundar na temática.

Quanto ao evento, a receptividade dos organizadores foi excelente, da mesma forma, podemos adiantar que a simpatia e atenção dos produtores que estavam expondo na feirinha também nos cativou.

Durante o trajeto passamos por pinguelas, por trilhas na mata, por propriedades rurais (sistema faxinalense), enfim, tivemos uma transição nada maçante de paisagens, mas o interessante é que os organizadores usaram de muita criatividade e bom humor para preparar a trilha.

Podemos citar, por exemplo, a oportunidade de tirar fotos com o personagem Jeca Tatu, o qual tratou todos os caminhantes de forma muito animada e simpática.



Também foram etiquetadas algumas árvores ao longo do caminho, dando a oportunidade de conhecermos as espécies nativas do lugar. Algumas tocas de tatu também foram cercadas e de forma bem descontraída, etiquetadas, sendo um atrativo a parte para as crianças (e adultos) que porventura participaram do evento.

A "toca da onça" e a "mata assombrada" entre outras ideias criativas tornaram a caminhada muito mais leve e divertida. Inclusive, em determinado trecho, houve a opção de escolher o caminho suave ou o morro. Obviamente, fomos encarar o desafio...



Vale destacar também que foi servido café orgânico em um dos pontos de apoio, além de paçoca moída na hora no pilão. Também foi servido café para degustação na barraca de uma produtora de café orgânico. Os alunos / formandos, também tiveram a oportunidade de expor produtos e assim obter renda para sua formatura. Como regra do IDR, a comunidade vendeu produtos artesanais, produzidos pela comunidade. Não havia bebidas alcoólicas ou refrigerantes, entre outros industrializados, o que sem dúvida é um diferencial em um evento que preza pela saúde e pela valorização da cultura local.



Sobre os pontos de apoio, todos ofereciam água e houve banheiros disponíveis com facilidade, demonstrando uma boa organização do evento e uma participação e envolvimento de toda comunidade para se atentar a tanto detalhes. 

E aqui é importante destacar que a participação da comunidade é essencial, afinal, as caminhadas na natureza visam a desenvolver e fomentar o turismo rural, valorizar a agricultura familiar e a fazer os visitantes enxergarem a comunidade rural muito mais do que um lugar de produção agropecuária, mas de cultura, de modo de vida singular, com belezas paisagísticas e elementos socioculturais únicos, como a culinária e os modos de produção.

Um detalhe adicional decorrente das condições climáticas foi que alguns pontos da trilha ficaram escorregadios ou com barro, demandando maior cuidado para que não houvessem escorregões, mas isso, obviamente, é uma condição natural e esperada por quem se aventura a realizar uma caminhada na natureza. Inclusive, o tempo ameno evitou que os caminhantes tivessem que enfrentar um calor desagradável, tendo em vista que a hora da chegada geralmente se dá em torno do meio-dia. E este fator pesa mais quanto mais nos aproximamos do verão.



Como sugestão para próximos eventos, seria interessante a sinalização do trajeto após a saída do asfalto (BR 476 ou rodovia do Xisto), ao adentrar no trecho de estrada de terra, indicando a distância e a direção, pois no lugar não há sinal de celular e ficamos em dúvida se estávamos no caminho correto. Em conversa com organização, nos relataram que isso foi feito em dois acessos principais, porém, como tem diversos acessos à localidade, o GPS encaminhou muitos caminhantes por rotas diversas.

Sem dúvida, saímos alegres e melhores de momentos como estes, e com certeza, esperamos ansiosos retornar, talvez no ano seguinte, para refazer essa rota. E como sempre dizemos, mesmo os organizadores fazendo alterações nos trajetos, cada evento é único, pois ele envolve não apenas a apreciação paisagística, mas as relações e experiências na interação com todos os elementos adjacentes ao evento, inclusive, a interação entre os próprios membros do grupo reforça as amizades e a sensação de bem estar. Enfim, é um turismo de experiência também.

Caminhar por entre a mata, podemos dizer assim, em grande parte do trajeto, nos trouxe uma sensação subjetiva de paz e equilíbrio. Uma fuga da correria urbana e das obrigações habituais, o que nos energiza para enfrentarmos as responsabilidades do dia a dia. 

E comprovando esta interação, nós do Grupo Acordei, registramos o momento juntamente com o Grupo Pé no Xisto de São Mateus do Sul, com essa bela foto. Este contato com demais equipes nos traz ideias, aprendizado e laços de amizade valiosos.



No mais, fica nosso reconhecimento pela coragem dos organizadores em promover o evento, que pode parecer simples, mas que implica na observância de detalhes. 

Parabenizar pela receptividade, pela simpatia e alegria e pela clara demonstração de envolvimento da comunidade, a qual sempre deve ser o elemento chave das caminhadas, sob a ótica dos organizadores.

Também vale agradecer aos membros da nossa equipe, pela forma otimista e descontraída com a qual têm abraçado a ideia não só de caminhar, de participar do lazer, mas de ser uma verdadeira equipe !!










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