Vivemos a era do declínio das bibliotecas (e da leitura) ?

As bibliotecas públicas, uma vez santuários do conhecimento e da cultura, agora enfrentam um declínio preocupante em sua relevância e principalmente na utilização.

Até mesmo em muitas escolas, estão espaços perderam sua notoriedade.

Entre 2015 e 2020, o Brasil perdeu ao menos 764 bibliotecas públicas, segundo dados do Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas (SNBP), mantido pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo. Em suma, o Brasil perdeu quase 800 bibliotecas públicas em 5 anos.

A ascensão da tecnologia, especialmente a informatização e a proliferação de dispositivos eletrônicos, tem contribuído para a diminuição do número de frequentadores, enquanto os livros impressos tradicionais são deixados de lado em favor de leituras digitais e do uso excessivo de celulares.

Uma outra questão diz respeito a uma observação comportamental. As pessoas em geral, pelo contexto marcado pela pressa e urgência da atualidade, evitam textos longos, preferindo o rápido correr de telas de aplicativos como Instagram e Tiktok. Se orientam e se informam por manchetes e memes. Até mesmo as músicas sucumbiram a esta tendência.

Um levantamento realizado pela revista norte-americana Billboard comprova a tendência do mercado em privilegiar canções com menor tempo. De acordo com o relatório, desde 2000, a média de duração dos hits caiu de 4:10 minutos para 3:07. Dos 10 maiores sucessos de 2022, quase 40% têm menos de três minutos. O que seria hoje de metal contra as nuvens ou faroeste caboclo ?

A informatização trouxe consigo a promessa de acesso fácil e instantâneo à informação, muitas vezes à custa da experiência física e sensorial proporcionada pelo manuseio de um livro impresso.

Com a popularização dos e-books e aplicativos de leitura, os leitores têm cada vez mais optado pela conveniência de carregar uma biblioteca inteira em seus dispositivos móveis, em vez de visitar as bibliotecas físicas.

Porém, o uso exacerbado de celulares e outras tecnologias tem desviado a atenção das pessoas, especialmente dos jovens, da prática da leitura. A constante conexão com redes sociais, jogos e entretenimento digital tem diminuído o tempo dedicado à leitura de livros, privando os indivíduos dos inúmeros benefícios intelectuais, emocionais e cognitivos que a leitura proporciona.

Estudos recentes têm apontado para uma redução significativa no hábito de leitura de livros, refletindo uma tendência preocupante de declínio no nível de alfabetização e no desenvolvimento das habilidades de compreensão e interpretação textual.

Este cenário, se não for revertido, pode ter consequências negativas para o progresso educacional e cultural de uma sociedade. Diante desse desafio, é crucial buscar alternativas criativas para revitalizar as bibliotecas públicas e promover o amor pela leitura.

Uma abordagem eficaz é aproveitar o espaço das bibliotecas de forma multifuncional, organizando feiras, eventos culturais, concursos literários e outras atividades que atraiam diferentes públicos e incentivem a interação com os livros e a cultura. Essas iniciativas podem incluir desde lançamentos de livros e palestras com autores até workshops de escrita criativa e clubes de leitura.

Além disso, a promoção de parcerias com escolas, universidades, instituições culturais e empresas locais pode ampliar o alcance das atividades e fortalecer o papel das bibliotecas como centros comunitários de aprendizado e também, porque não, de entretenimento.

Diversas experiências espalhadas pelo Brasil e pelo mundo, incluem a criação de espaços colaborativos com áreas de estudo, coworking e acesso gratuito à internet, o desenvolvimento de programas de mediação de leitura para crianças e jovens, e a implementação de projetos de digitalização e preservação do acervo bibliográfico. Outra vertente, seria espaços para contação de histórias e até para rodas de conversas, valorizando junto ao hábito da leitura, a cultura local e o saber popular.

Movimentos sociais, muitos guardiões de práticas ancestrais, poderiam encontram neste espaço, o locus propício para suas atividades (agendadas). Eventos com público jovem, feira de Mangas, entre outras possibilidades seriam opções.

Embora as bibliotecas públicas enfrentem desafios significativos em um mundo cada vez mais digitalizado, elas continuam a desempenhar um papel fundamental na promoção da educação, da cultura e da inclusão social. Ao adotar abordagens inovadoras e colaborativas, podemos reimaginar e revitalizar esses espaços valiosos, garantindo que eles permaneçam relevantes e acessíveis para as gerações futuras.

A leitura é uma fonte inestimável de enriquecimento pessoal e social, e é nosso dever proteger e promover esse tesouro para o benefício de todos. Além de que, juntamente com a leitura, a escrita também pode encontrar local propício para seu desenvolvimento, comprovando que ela é uma atividade que deve ser vista como natural e comum, como uma forma acessível de comunicação, transmissão de ideias e registro histórico, e não deve ficar restrita a grupos presunçosamente intelectualizados.

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