A Juventude Brasileira e a Geração Nem Nem.

Acompanhando o noticiário nos últimos dias, fica evidente uma situação cuja análise é complexa, atraente para conjecturas partidárias e ideológicas, mas que não deixa de ser preocupante, mesmo que tomada de forma superficial e descritiva, como se segue. Trata-se do futuro de uma geração de crianças, adolescentes e jovens, e consequentemente, o futuro econômico, social, e porque não, político (enquanto elemento amalgamador destas relações) do país.

Um dos pontos que compõe este contexto é aquilo foi alcunhado pela mídia como “geração nem nem”. Ou seja, um contingente de quase 10 milhões de brasileiros que não trabalham e não estudam. O outro ponto são os fracos resultados do Brasil na avaliação do PISA, teste que busca medir o conhecimento e a habilidade em leitura, matemática e ciências de estudantes com 15 anos

Segundo o Jornal Estadão, os países ricos também têm seus "nem-nem", mas o motivo é a recessão persistente, que inexiste no Brasil. Ao contrário, o governo anuncia insistentemente uma condição econômica próxima do pleno emprego, bem como anuncia a ampliação das vagas e das possibilidades de estudo nas diversas instituições escolares, o que soa contraditório com os números ou impulsiona a buscar novas possibilidades de explicação.


O número, segundo o Uol,  representa 19,6% do total da população de 15 a 29 anos, sendo maior comparativamente que a população do Estado de Pernambuco. Na comparação com 2002, quando 20,2% dos jovens nessa faixa etária não estudavam e não trabalhavam, houve leve redução: 0,6 ponto percentual, apesar de naquela época o contexto socioeconômico não era tão favorável para resultados melhores como atualmente.

Segundo o site Uol, a região nordeste do país é a que apresenta o maior percentual da geração "nem-nem", com cerca de 23,9% dos jovens entre e 15 e 29 nesta condição. Ainda par ao site Uol, em Alagoas, a média registrada é a maior da região, com 27,4% do total de jovens integrantes da geração "nem-nem" --quase oito pontos percentuais a mais que a média nacional, que ficou em 19,6% do total de pessoas entre 15 e 29 anos.

De acordo com a pesquisa "Síntese de Indicadores Sociais", a maioria dos que formam a geração "nem-nem" (nem estuda nem trabalha) é de mulheres: 70,3%. A incidência é maior no subgrupo formado pelas pessoas de 25 a 29 anos, onde as mulheres representavam 76,9%.



O site Terra, por sua vez, chama a responsabilidade para estes jovens. Segundo o site, “os chamados "nem, nem" são jovens desinteressados que nem estudam, nem trabalham, nem procuram emprego.”. Mas será que a situação é tão simples assim?

Qualquer estudante sabe que é muito mais fácil conquistar um estágio, por tempo determinado, cuja remuneração é menor e os encargos trabalhistas amenos, do que se efetivar em um emprego formal. Embora não se possa descartar os aspectos culturais e o empreendedorismo por oportunidade, o Brasil apresenta um alto de empreendedorismo por necessidade. São pessoas que para obter renda e ocupação  se dedicam ao seu próprio negócio, sendo este um indicador da falta de opção de emprego.  Segundo o site Globo.com, “o Brasil é o país vice-campeão em empreendedorismo. Existem aproximadamente 20 milhões de empresas, número que nos deixa atrás apenas da China”, pais muito mais populoso. E segundo o site http://www.endeavor.org.br, apenas 49% das empresas são empregadoras.

Entretanto, não se descarta o que o site Terra menciona. Muitos jovens, de fato, especialmente dentro do atual contexto econômico do Brasil, podem estar ociosos por opção. Entretanto, essa opção pode ser decorrente de estímulos político-sociais.

A legislação trabalhista e as políticas de proteção ao menor, além de contundentes, muitas vezes mal interpretadas, fortalecem uma visão distorcida e uma cultura de “criminalização do trabalho”. Menor não pode isso, menor não pode aquilo. Menor sequer pode ajudar a mãe lavar a louça. São as frases mais repetidas no senso comum. Associa-se ainda a visão marxista do trabalho, como algo opressor, que explora o trabalhador e beneficia a burguesia, que mesmo não sendo a regra. é difundida em muitos colégios, em livros didáticos e nas universidades (que formam professores, que às vezes, carregam o conteúdo com alta carga ideológica ao repassar aos alunos), e temos um contexto sociopolítico favorável à cultura “nem nem”.

E isto nos remete a outro aspecto preocupante do atual contexto, relacionado agora diretamente com a educação. Segundo o site UOL Educação, baseado em dados do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), o Brasil somou 410 pontos em leitura, dois a menos do que a sua pontuação na última avaliação e 86 pontos abaixo da média dos países da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

Segundo o site supracitado, quase metade (49,2%) dos alunos brasileiros não alcança o nível 2 de desempenho na avaliação que tem o nível 6 como teto. Isso significa que eles não são capazes de deduzir informações do texto, de estabelecer relações entre diferentes partes do texto e não conseguem compreender nuances da linguagem. 

Segundo o site Terra, a pesquisa revela que 49,2% dos estudantes brasileiros conseguem, no máximo entender, a ideia geral de um texto que trate de um tema familiar ou fazer uma conexão simples entre as informações lidas e o conhecimento cotidiano. Apenas um em cada duzentos alunos atinge o nível máximo de leitura. Ou seja, cerca 0,5% dos jovens são capazes de compreender um texto desconhecido tanto na forma quanto no conteúdo e fazer uma análise elaborada a respeito.

Em ciências, o Brasil obteve o 59° lugar do ranking com 65 países. Apesar de ter mantido a pontuação (405), o país perdeu seis postos desde o 53° lugar em 2009. Nessa disciplina, a média dos países de OCDE foi de 501 pontos. Com isso, o país ficou com a 55ª posição do ranking de leitura, abaixo de países como Chile, Uruguai, Romênia e Tailândia.

Dessa forma, apesar de ter conseguido uma evolução significativa, o Brasil ainda está nas posições mais baixas do ranking. Entre os 65 países comparados, o Brasil perdeu quatro posições com relação à última divulgação, em 2009, ocupando o 58º lugar no ranking geral.

O Pisa realizou-se pela primeira vez em 2000 e decorre de três em três anos. A escala utilizada foi construída de forma a que, no conjunto dos países da OCDE, a média fosse de 500 pontos

O ponto positivo, ou pelo menos, a justificativa dada para esse desempenho precário para um país que se vangloriava de ser a 6ª potência econômica mundial, é, segundo o site UOL educação, que  o progresso do Brasil em incluir alunos na rede de ensino altera negativamente os resultados do desempenho dos estudantes. Em 2003, 65% dos jovens de 15 anos estavam na escola. Em 2012, a taxa passou para 78%. Parte desses novos estudantes são de comunidades rurais ou famílias socioeconomicamente desfavorecidas.

Com isso, assume-se que a qualidade do ensino é um fator atrelado às condições socioeconômicas dos estudantes e do local onde eles vivem e que a qualidade das escolas não é uniforme, estando assim o Estado a reproduzir diferenças sociais. E pior, as estatísticas que apontam para a redução do índice de analfabetismo e de brasileiros fora da escola, pouco representam em termos de uma educação de qualidade, já que os novos entrantes (e nem os matriculados em melhores condições) conseguem bons resultados no teste. Uma educação para inglês ver ?

Segundo Ocimar Munhoz Alavarse, especialista em educação pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), o país ainda tem muitos alunos com baixo desempenho nas áreas avaliadas, o que parece óbvio. Entretanto, assumido o baixo desempenho nas áreas avaliadas, (Português, Matemática e Ciências) resta saber no que os estudantes brasileiros estão apresentando bom desempenho.

Dessa forma, quando associamos o baixo desempenho escolar dos alunos em avaliações externas; um ambiente escolar que não valoriza o bom desempenho e o esforço do estudante ao tentar reproduzir um ambiente de suposta igualdade e nivelamento, orientado por política públicas que praticamente extinguiram a reprovação e outras formas de cobrança; o assistencialismo; a visão ideológica do trabalho como opressor; e a competitividade no mercado de trabalho que não reproduz a falsa igualdade do ambiente escolar, temos os principais  ingredientes para explicar o crescimento da “Geração Nem Nem” e o fracasso no PISA.

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