Greve da Educação no Paraná e Protestos dos Caminhoneiros: de que lado você está ?

É interessante como existe um relativismo nas ações que envolvem interesses políticos, ou mesmo nas ações que embora não sejam diretamente relacionadas com a política, são, em maior ou menor grau, influenciadas ou cooptadas pelas questões político-partidárias. 

Um exemplo nítido é a greve dos trabalhadores da educação e a paralisação dos caminhoneiros (alguns querem classificar como lock out, desprezando as dificuldades dos caminhoneiros e vendo a paralisação como um mero movimento das grandes transportadoras... ). É curioso como os mesmos políticos que apoiam e divulgam um dos movimentos, acompanham passeatas, discursam ressaltando a importância e defendendo a bandeira de luta dos manifestantes, parecem não ter tanta empolgação para apoiar a causa do outro movimento. Embora ambos façam reivindicações importantes e sejam amplamente apoiados por toda a sociedade, a qual os políticos, teoricamente, representam.
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Podemos analisar, por exemplo, se isso deriva do fato de que alguns protestos trazem mais prejuízos sociais que outros, portanto, haveria certa coerência na atitude dos políticos em apoiar mais um dos movimentos em detrimento do outro. Afinal, nenhum político, que tanto valoriza a imagem, irá apoiar algo prejudicial ao povo que ele defende !

Mas da mesma forma que o protesto dos caminhoneiros provoca, por exemplo, uma crise de abastecimento (só a falta de combustível traz uma série de conseqüências para as atividades sócio-econômicas que dispensa aprofundar os exemplos), atrasos em entregas, podendo prejudicar o direito de ir e vir daqueles que membros da categoria que não estão dispostos a parar, a greve dos professores também tem seus pontos negativos. Quase 1 milhão de alunos
estão sem aula. Embora deva ter reposição, o tempo para assimilar os conteúdos será menor, especialmente para aqueles que irão prestar vestibular, para os alunos dos CEEBJAS, que às vezes tem pressa em concluir as disciplinas, etc. Além disso, milhares de adolescente que estão fora da escola nesse período podem tentar preencher o tempo ocioso nas ruas, em atividades nem sempre construtivas, sem mencionar ainda questões de ordem gerencial, como a utilização da merenda escolar estocada nos colégios e que pode ter prazo de validade.

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Se pensarmos pelo lado dos benefícios sociais das reivindicações, ou seja, pelos pontos positivos, a lógica é a mesma. 

Os profissionais da educação, embora reivindiquem melhorias no aspecto profissional e financeiro, também exigem melhorias no sistema educacional. Mais recursos para as escolas, turmas menores, mais atividades no período de contraturno, enfim, questões que podem contribuir com a manutenção dos colégios, da qualidade da educação, etc. Além disso, deram uma resposta do povo ao chamado "pacotaço", uma série de medidas visando ampliar a arrecadação do governo.

Entretanto, é preciso ter em mente que a precariedade da educação é um problema histórico. Muitas escolas, por exemplo, mantém a grama do pátio aparada, substituem os vidros quebrados, fazem reparos diversos, adquirem equipamentos, materiais de expediente, móveis, etc. com recursos da APMF. É uma forma da sociedade, mais especificamente, da comunidade escolar, colaborar com a escola, fazer sua parte e não ficar a mercê da liberação de verbas públicas para solucionar todo e qualquer  problema. Embora na minha opinião, as promoções da APMF para angariar recursos são uma prova da insuficiência do Estado em garantir as condições para a educação, fazendo a própria sociedade contribuir novamente (além dos tributos) para este papel, além, é claro, de deslocar os esforços e o tempo dos profissionais da educação para atividades que não deveriam ser o foco da escola.

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Por outro lado, os caminhoneiros, entre outras reivindicações, pedem a redução do preço do pedágio (causa reivindicada por muitos) e do preço do diesel. Sabemos que no Brasil existe uma ênfase no modal rodoviário para o transporte de cargas, o que acarreta diversos transtornos, inclusive referentes à elevação de custos, repercutindo no preço final das mercadorias, e problemas no que se refere ao desperdício e ao tempo de transporte, prejudicando a produtividade brasileira, especialmente agrícola. Dessa forma, qualquer reivindicação que reduza custos repercutirá positivamente no preço final das mercadorias. Além disso, pedem melhoria nas rodovias e o protesto também ataca  também a corrupção.

O que é certo que toda e qualquer greve ou paralisação, direta ou indiretamente, trará alguns transtornos à sociedade. Dessa forma, ambas tem pontos negativos. Da mesma maneira, ambas tem pontos positivos em suas demandas, as quais se atendidas, podem trazer ganhos sociais. Além disso, ao incorporarem em suas reivindicações causas gerais da sociedade, ambos os movimentos são apoiados pela sociedade em geral.

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Entretanto, o que resta a ser analisado é o fato de que a greve dos professores pode ser entendida como uma atitude que critica o Governo de Beto Richa, do PSDB. Ao passo que a greve dos caminhoneiros, é um movimento que direta ou indiretamente, critica a atuação do Governo de Dilma Rousseff, do PT. E isso tem suas implicações, resumidas nas seguintes indagações:

Será que o partidarismo é a única razão para que políticos, inclusive da nossa região, apoiem um dos movimentos e aparentemente não manifestarem tanto entusiasmo com relação ao outro ? 

Será que o fato da sociedade aparentemente estar apoiando ambos os protestos não é justificativa suficiente para que os políticos (representantes do povo, teoricamente) defendem ambas as causas ?

Entre as reivindicações individuais das categorias, entre as reivindicações de cunho social incorporadas, ou seja, que beneficiam toda a sociedade, há espaço para a utilização ou a mancha de intenções políticas na deflagração e na manutenção prolongada destes protestos ?

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